domingo, 20 de setembro de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA - APRENDIZADO


 AQUI TEM HISTÓRIA - APRENDIZADO

Nos anos 60/70, nos sertões deste país continental, não existiam tanta facilidade para uma criança pobre começar seus estudos.
No sertão nordestino as escolas eram poucas, as vagas eram direcionadas para certas famílias que tinham bons relacionamentos com a administração pública e tinha a educação como meta para o crescimento profissional.
Meu letramento foi muito difícil. Por questões como essa e muitas outras...Assumo! Era um aluno, também, disperso e brincalhão.
Frequentava a escola mais no intuito de me divertir, brincar com colegas e comer a merenda da máquina vaca leiteira da ditadura militar...
Uma espécie de mingau produzido com leite em pó...Sabe.
Minha casa tinha pouca comida para 10 bocas entre adultos e crianças!
Não me segurava a atenção as professoras falando e escrevendo traços estranhos na lousa.Queria ver movimento de gente e o vento atiçando os galhos das árvores do meu pedaço idílico de chão de vazantes irrigadas, jogar bola, nadar nos canais de irrigação, pular da galeria do açude e sair pinotando com um monte de menino nas estripulias.
Por isso da demora para aprender a ler. Aja brincadeiras! As cartilhas de ABC, e outras, que serviam para o ensino aprendizado das crianças, não me seguravam de olho grudado nas suas páginas.
(Não tinham ilustrações nem fotos coloridas de paisagens e de cidades).
A ficha caiu quando me senti com dor de cotovelo...Veja...INVEJOSO!
Via colegas de escola e de outras gerações com alguns livros de bolso, gibis e revistas de fotonovelas nas mãos circulando contando as histórias vividas nelas.
Queria ler também. Oxe! Nessa época já conseguia juntar um A com CRÁ, mas era uma leitura soletrada.
Para ler de fato, tive que mudar de escola e de atitude em relação ao meu comportamento e aprendizado.
Pra isso cheguei em mãinha.
Pedi que arrumasse dindin do parco salário do meu pai.
Matricular na escola da professora Dona Maria das Neves, era meu desejo.
Ela me arrumou. Pra matrícula tava garantido.
Aquele ano fora de bom inverno. Sacos de mantimentos de roça como milho, arroz e feijão, mais tarde algodão, estavam num canto da sala da casa de taipa. Alimentos que me puxaram pro roçado para cuidar e colher junto com outros irmão e o meu pai.
Para pagar as mensalidades futuras tive que ir trabalhar de bóia fria nos campos irrigados. Este trampo duraria quatro anos até pegar rumo com um irmão que já morava em Sum Paulo e lá foi passear num fim de ano. Apareceu com roupa social leve, sapato brilhante, cinto de couto de fivelona, relógio seiko no pulso. Isto me entusiasmou de querer vir simbora com ele.
Dona Maria das Neves era professora severa. Usava palmatória.Como era interessado em aprender a ler corrido, não cheguei a causar e tomar pancadas na mão aberta. Tinha um método de ensino super proveitoso. Tiro e queda!
Juntou o pouco que eu já sabia adquirido na escola pública da vila, com o seu método de ensino, então logo consegui desenvolver meu aprendizado sobre números, português e leitura pra passar no famigerado exame de admissão pra fazer a quinta série.
Lendo com facilidade, me enfiei na leitura de tudo que aparecia na pequena vila, meus colegas ficaram para trás. A leitura começou me atrasar para todo tipo de diversão, até para jogar bola.
Era uma fuga muito gostosa, entrar na vida daqueles personagens e fugir da realidade mesquinha que me cercava as paredes da casa de taipa.
Livros, revistas de fotonovelas, gibis (quase nada) depois que aprendi a ler, começaram estragar minha vista e alimentar meu cérebro de saberes diversos.
Todo esse material emprestado de outras pessoas.
Na minha casa, muito pobre, não havia nada relacionado à leitura. Meus pais eram analfabetos. Com o diploma da oitava série concluído, peguei estrada pra grande cidade num busão fedendo a coco e xixi. Em 48 horas de viagem descemos na rodoviária Julio Prestes.Senti prazer com tanto acrílico colorido que a embelezava, porém, muito desprazer ao entrar num trem às cinco da tarde e ir parar no cu do mundo da periferia paulistana de Santo André.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

O FUTEBOL E SUAS FACES QUE NEM FREUD EXPLICA.


 

O FUTEBOL E SUAS FACES QUE NEM FREUD EXPLICA.

Por mais que se tenha amizade respeitosa e aprofundada por alguém na vida social, profissional e familiar, dentro das quatro linhas de jogo de futebol ela termina no primeiro contato em disputa pela redonda de gomos sextavados, cheia de ar, possuindo desde o ventre enorme vontade de ser tratada com requinte por quem a procura para se divertir jogando o mais amado esporte do mundo.

Ideia que a mim surgiu de escrever esse texto depois de ver o documentário PRETO CONTRA BRANCO, jogo de final de ano que ocorre há mais de trinta na favela Heliópolis, a maior de São Paulo, filme que aborda a diversidade racial, exibido na TV cultura no dia 09/05/08, e passar nas imagens e na relação que tinham os envolvidos, que nunca fugiu a regra ser isso mesmo que ocorre, por mais que seja insignificante em prêmios e comendas para as partes a disputa.

A bola, no caso dessas partidas disputadas em terrão pela periferia, passa a ser insignificância vindo à baila, na relação do querer do homem se sobrepor a qualquer evento que ocorra e que a ele seja exigido o seu melhor, mesmo porque, a maioria não tem tanta intimidade com a pelota, levando muitas vezes à falta dessa intimidade, se darem bem mais e se tocarem também, chegando à pancadaria derrubar quem esteja afogando sua passagem em direção ao bom passe ou ao gol do adversário.

Muito mais pelo poder de possuir a possibilidade de mais uma vitória, levam os jogadores, amigos íntimos fora das linhas de jogo, engalfinharem-se, e muitas vezes serem até mesmo intransigentes e transgressores nas agressões acintosas das disputas.

Seria o cidadão buscando um ponto de apoio na roda-bola que gira inconstante sob seus pés, dando-lhe a eterna insegurança e por isso tentar se colocar com  pseudopoder junto aos da mesma espécie?

Claro que ninguém quer perder, mas muitos para não submergir a chance de ter ganhado, nem que seja no futebol, usa e abusa de subterfúgios oriundos do seu caráter abnegado de querer o poder  a qualquer preço, dando banana para o bom senso, não importando os meios para se chegar aos fins.

Muito comum esse tipo de contato e afronta nas discussões entre os futebolistas que gostam desse esporte bretão, vindo à mofa calhar de existir desde ao cidadão que tenha alto grau de instrução ao mais perrengue nas atribuições intelectuais.

Não só o entretenimento da peleja em luta pela bola e pelas pernas do adversário, põe a pendência em dia, também à possibilidade de extravasar no dia do jogo, tudo que ficou grudado por dentro nos afazeres da semana, pela correia muitas vezes ser acima do que suporta física psicológico.

Futebol é sinônimo de euforia, de tristeza, de luta, de intransigência, de o cidadão conhecer a outra parte do outro. Essa de o cidadão conhecer a outra parte do outro, é pôr ele para as disputas esportivas ou pô-lo no transito de São Paulo às seis da tarde de qualquer dia.Na chuvarada, Deus nos livre! Não o admire se você sentir que o cara não quer perder a qualquer custo, e passa ser do tipo tentar levar vantagem em tudo.

Viva o futebol que aproxima, mas também afasta e desliga o cidadão dos eventos que poderiam ser resolvidos por ele, escolhendo melhores políticos para os cargos que, de onde estarão, os guiarão para as vitórias ou as derrotas.

No Brasil a maioria, é sabido, encontrou mais derrota que vitória, pelo débito que a sociedade abastada tem para com a população que ama futebol, assim como eu, mas que tenta analisar em quem voltar, para o bem de quem precisa de um Estado grande presente.

sábado, 12 de setembro de 2020

ACREDITEI QUE NOSSO PAÍS TINHA JEITO. ERA SÓ PRENDER O LULA – BESTA!


 Decretada a prisão do maior líder da esquerda brasileira, nossa elite econômica, e muita gente de todas as classes, não vão mais precisar corromper ninguém pra fazer seus negócios e tocar o país para o desenvolvimento sustentável com garantia de crescimento econômico para todos trabalhadores. ACABOU A CORRUPÇÃO! A MAMATA! Nos eventos de grandes shows o brasileiro não precisará mais pagar propina para os flanelinhas, as compras não serão mais de produtos piratas, produtos que chegam e entram pelo porto de Santos em centenas de containers, sem pagar impostos devidos, pra isso se corrompe agentes, produtos que são distribuídos nas lojas populares e finas dos shoppings centers das grandes cidades, roupas e bolsas confeccionadas no Vietnã, na China, por escravos modernos que, quando chegam aqui, só têm o trabalho de trocarem a etiqueta desconhecida, por uma de marca. Os negócios com os órgãos do governo federal, estadual e municipal não serão mais sacramentados só se pagar propina, serão negociados às claras, para a realização de grandes construções da nossa tão precária infraestruturara, os leilões dos editais serão implementados com fiscalização de toda sociedade. UM DIA ACREDITEI QUE NOSSO PÁIS TEM JEITO, ERA SÓ PRENDER O LULA. Nas artes, nas grandes encenações de musicais, na captação de verbas para grandes produções de filmes, não mais se precisará corromper funcionários comissionados do ministério da cultura, para as escolas, a compra de material escolar e merenda também serão isentas de 10% de propina. Tudo correrá dentro da lei e da ordem, inclusive podem acabar com os tribunais de contas das três esferas de governo, o país não precisa mais deles pra fiscalizar negócios realizados pelos políticos e empresários. Viva um país poético, ético com gente pronta para dar exemplo ao mundo de honestidade, pois quê, felicidade aqui sobra pra dar e vender ao mundo.É só prender o Lula, Tchau corrupção!

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domingo, 6 de setembro de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA-MAIS UMA DO CINEMA E EU


 

AQUI TEM HISTÓRIA-MAIS UMA DO CINEMA E EU

Cavoucando aqui minhas memórias, andava por volta de doze primaveras quando descobri a projeção de filmes. Antes desse dia, sabia que existia cinema, mas o acesso veio por essa idade ao assistir a primeira fita no cineminha local da minha vila operária do DNOCS. Antes tarde do que nunca.

Foi uma descoberta que me impactou juntando fantasia e realidade no mesmo caldeirão da minha região do sertão que fervia em abundante falta de diversidade cultural.

Não fui daqueles que se escondiam atrás das cadeiras nas trocas de tiro entre mocinhos e bandidos dos chamados filmes de faroestes. Eram os mais projetados nos fins de semana na vila das minhas vivências de menino solto como potro nos pastos e campos irrigados do distrito de São Gonçalo, Sousa, PB.

Os exibidores surgiam nos fins de semana com um novo filme. A fita era exibida às sextas-feiras e sábados. Dependendo do sucesso do filme, no domingo também havia projeção.

Uma vez ou outra ele trazia na sua bagagem rolos de filme diferente na sua estética e cenários, do tipo, filmes musicais com Grande Otelo e Oscarito e alguns estrangeiros. Era raro, evidente, por oferecer menos fantasia ao cérebro da assistência que gostava dos filmes com os quais mais se identificavam. Muitos dos conterrâneos adultos andavam armados de revólver e peixeira no meu sertão dos anos 1970, e esse presente dos arquétipos presentes nas fitas, colava a assistência direto dentro delas e no caráter dos personagens.

Os Filmes que não podiam faltar eram aqueles cujas narrativas giravam em torno da religiosidade da semana santa. A Paixão de Cristo levava muita gente a chorar com o sofrimento do magrelo pregador pregado na cruz todo vermelhado de sangue. Outro filme que impactava a plateia era Coração de Luto, história de Teixeirinha. Acometia de as pessoas mais emotivas jorrarem lágrimas e umedecer o rosto em fervura. Os do cangaço me elevava de medo, por achar que ainda existia homens como aqueles pelo sertão perto da minha humilde moradia de taipa. Malvados e assassinos. Até hoje carrego imagem de um filme de cangaceiro (escutava muita história de cangaceiro contada pelo velho Antônio Aurélio, meu pai, foi cabra que andou pelo cangaço pra defender coronéis da terra e a cidade de Sousa da invasão do bando de lampião em conluio com o de Chico Pereira da cidade de Nazarezinho).

Alguns filmes eram acompanhados de episódios das séries Zorro, Superman, Tarzan. O preto branco predominava. Os gêneros mais projetados e que faziam sucesso junto aos moradores, eram os espaguetes, em que os personagens Sartana, Django, Trinity, Sabata saiam vencedores depois de sofrer barbárie de inimigos mexicanos. Os de espadachim nem se fala sobre o entusiasmo da plateia com as aventuras de conquistas e derrotas em busca do amor de uma donzela ou da riqueza do ouro.

O entusiasmo e as conversas com esses filmes se prolongavam, de maneira a levar jovens de, NO TEMPO D’EU MENINO, juntar gangues para lutar uma contra a outra pelas áreas do campo de futebol. Mãos à obra dos jovens na fabricação de revólveres de madeira, e espadas feita com pau de tâmara ou coqueiro.

Nalgumas vezes eu ficava muito jururu ao saber que o filme do fim de semana era um dos porretas em ação e alumbramento, pelos comentários ouvidos dos parças, porém essa tristeza surgia pelo fato de estar sem grana para comprar ingresso. Tentava dá meus pulos pra fazer algum serviço para algum adulto e ele me arrumar o valor da entrada.

Num dado fim de semana estava sem dinheiro e sem ninguém para me arrumar um bico para limpar mato, roçar algum terreno, colher nos roçados, limpar a piscina pública, foi quando eu e um colega de apelido Tonho das Bilas, (ele era bom em jogo de bila) passando na frente do cinema vimos a porta dos fundos aberta. Nesse momento alguém responsável limpava as cadeiras e o piso de cimento distraidamente.

Não tivemos dúvidas. O filme era daqueles em ação. Muito chumbo trocado entre bandidos e o mocinho. Entramos e sentamos nas vigas de madeira atrás da tela. Era um espaço desconfortável e infestado de poeira e teia de aranha. Quando entramos ainda era hora mágica na vila sertaneja.

Os trabalhadores do eito já estavam em suas casas, com certeza um prato de comida à mesa os alimentava depois de um dia puxado na lida nos campos, outros em seus afazeres como funcionários da burocracia do DNOCS. Ficamos ali muito quietos, EU e o TONHO. Esperamos a projeção por mais de uma hora. Quando enfim começa o barulho do projetor jorrar fios de luz com imagens em movimento no écram de tecido branco. Emoção a milhão no menino amante do cinema.

Essa minha passagem do amor pelo cinema, pelas imagens em movimento contando histórias ficcionais, reais, surreais, musicais, de aventura e sofrimento, me levavam fazer essas loucuras. Inclusive voltar para casa afastada do centro da vila sozinho pelas estradas e veredas sertanejas, muitas vezes sem a lua como companheira jorrando opaca luz nos campos, e com muito medo das almas penadas saindo de cruzes no percurso do caminho embaixo da chamada hoje, alameda das tamarineiras.

Saudades desse tempo do tempo d'eu menino.


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

CANTO DE GUERRA

NASCI COM UM CANTO DE GUERRA ENTALADO NA GARGANTA
Escalei muralhas pra fugir das armadilhas do medo. Desde o sertão.
Sempre tive que usar meu corpo de aço embrutecido na juventude abusada.
Pra não deixar meu estômago chorar rachado na solidão por falta de alimento.
Era uma das muitas batalhas.
Naqueles anos de 1977 quando aqui na Sampa cheguei.
Como espectros via homens armados preparados na praça.
Os vultos gargalhavam em chacota às nossas lutas.
Pisavam endiabrados no sangue preto, pobre, nordestino.
Eram todos acavalados.
Estavam seguros pra fincar-se no trono da opressão.
Ao seu comando pobres trabalhadores eram vergados por balas de borracha e cassetetes.
Tempos difíceis.
A lição do manual pedia pra atirar. A eles.
Os velhos generais se apossaram do poder.
Eram hienas com sede de sangue, da carne dos operários.
Passar por cima da carta maior pra eles não era problema.
E do nosso corpo.
Experientes na forma de tratar a gente desempregada.
Com violência.
O topo da pirâmide sempre foi intocável.
O meio da pirâmide sempre foi boa em negociata.
A base da pirâmide nunca soube a quem recorrer.
Sobravam às ruas e praças pra se manifestar sem pedir arrego.
Só a união dos grandes guerreiros venceria a guerra.
Centenas, milhares, milhões.
Perdemos muitos do movimento nos dias de chumbo.
Não, não as mãos para o alto.
Gritava a multidão como massa compacta.
Sede de vingança.
Sentimento que nos alimenta desde que nascemos.
Preparem as armas.
O canto de guerra.
Ela está pra começar.
Mais uma vez!
Com esse desgoverno que nos desgoverna!!!

 

domingo, 23 de agosto de 2020

AH, ESSE SILÊNCIO!

 Ah, esse silêncio!

Paralisação. Sou homem de movimento.
Estar onde tem gente de olhar fixo na luta diária.
Em observância.
Cada um com suas pernas em movimento apontando um ponto fixo.
Para chegar neste universo de concorrências desleais primeiro.
Uns levando fardos pesados que não vale o prato que comem.
Outros levando leves pastas com assinaturas que valem milhões.
Uns puxando o corpo pesado com fisionomia de perdedor.
Outros com corpos leves com fisionomia de vencedor.
É por isso que gosto de movimento. Pra frente.
É o que se aprende desde a tenra infância, chegar primeiro.
No banco das escolas, nas brincadeiras dos parquinhos, no futebol, nas conquistas do amor.
Deveras tenho contradições a respeito.
Gosto do silêncio quando ele quer me extrair de dentro.
Movimentos que imprimam sabor artístico.
Dá asas a imaginação.
Retroprojetar tudo captado quando no meio da gente.
Silêncio, silêncio!
Hoje eu quero silêncio!
Não ver que estou exercitando minhas asas abertas tentado voar na minha poesia!

terça-feira, 11 de agosto de 2020

TEXTO PUBLICADO NO PORTAL CRONÓPIOS

 

Reflexão de um cão vira-lata, preso na jaula dos cachorros finos. 

O menino virou homem. Refletindo consigo, no seu canto de ser só dele, bom tempo seu que ninguém mete a mão, tempo de escritor, diria, porque sem esse tempo que é só dele não há criação.

Nele foi mais ele com suas dúvidas, angústias, alegrias.

Diz aê, quem tiver tempo de sobra que divida com quem tempo tem demais para doar.

No tempo que é meu, me acho como a água do rio encontra o mar. Satisfeita por ter chegado a seu destino, sem empatar a vida de ninguém. Uma vez ou outra a água do tempo meu, de estar em sobras múltiplas comigo mesmo, pode ser revolta, mas se segura e pede que não passe a quem tem tempo livre também, a ira dos endemoninhados, dos que não sabem viver entubados na UTI dos valores contemporâneos.

Dito isto, mesmo sem conhecer direito o aparato das personalidades humanas que, a me, parecem, terem a personalidade de um Macunaíma.

Tempo livre que hoje me leva às letras, a aglutinação irreverente delas, para definir as frases, os períodos longos, dando-lhe uma forma de expressão, sem judiar a retórica contemporânea, mas descer a borduna nos nefastos que acham que os valores se esfriaram, e para alimentá-los, por esse tempo, o faz ir parar nos fornos aquecidos a mil graus de calor que o derrete. 

E não é pra isso que serve a escrita, desde àquela vindo das cabeças mais acentuadas no dístico que as distingue como pedra preciosa de lava bem formada, àquela que encena como representante também de um segmento social menos sedento de sabedoria e que se formou da pedra bruta como eu? 

Os valores estão em crise de ser ou não ser, pelo visto.

Os valores se entrincheiram na desordem, por escutar que, o jeito e a ordem é se dá bem, não importando os meios pelos quais querem levar vantagem.

Em crise e, achando que tudo pode, acharam um meio de se enfeitar para redigir o panorama atual do povo brasileiro, desde aquele mais simples cidadão vestido de comum andando pelas ruas fazendo negócios escusos, àqueles que se fardaram num passado para receber o diploma universitário. 

O saco de forte fibra de sisal ou algodão que antes levava a disposição da multiplicação dos pães para a excentricidade do caráter nacional, não mais distribui  caráter único, não, duplicado por mil  e ensacado por sacola de plástico barato se encontra desde muito, aja visto que todos estão mergulhados na defesa da honra e da hora exata de se dar bem, à saber, bem mais, em vista dos escândalos que se renova a cada dia mostrados pela mídia que os desensaca,  deixando a olhos nus, e distribui gratuitamente a quem quiser se informar dos valores em crise. 

Foi-se o tempo, em hora tão adiantada nas informações, do homem se deixar minimizar pelo largo corredor do pregresso e não querer vivê-lo de forma intensa, possuindo aquilo que a indústria o põe às vistas e o cega de informação para tocar no produto e dizer: é ele que eu quero, é dele que preciso (mesmo sem precisar). Quero só pela forma de dizer que consegui, nem que seja por vias ilegais, eu preciso. Quero ser dono da usura, imperador da fortaleza que me cerca, quero ser o capanga que resguarda a suntuosa indústria psíquica interna que acho que devo possuir. 

Assim não há quem queira caminhar pelas vias legais até o altar da cidadania plena, desde os bem informados, aos maus.

Pelo menos um deslize, se não deu até agora, vai chegar a dar o cidadão de hoje para se compor da sabedoria e do poder de conseguir regurgitar pelos cantos da boca, a baba da avareza. 

São valores impetuosos perseguidos pelos colarinhos brancos/azul/anil, dizendo que ama o Brasil, mas que vão se divertir fora levando os malotes captados das repartições públicas. Numerários vastos adquiridos a vista de grossa e engenhosa corrupção. 

O menino que cresceu e virou homem entende, assim  acontecendo, há o ensinamento pra quem já aprendeu na graduação, chegando a fazer a pós, há o ensinamento a quem quer aprender fazendo o curso superior, há o ensinamento a quem não nasceu pra aprender em poucos dias, por só ter feito o ensino médio, e haverá o ensinamento  a quem não vai aprender nunca, por ter ido só até o ensino fundamental então, por essa razão, se masturbam de subserviência suficiente pra tentar mamar na teta daquele que se fez como homem dono do alheio. Esse é um dos piores da crise contemporânea, porque se deixa levar pela prerrogativa do assistencialismo do mau caratismo.

Todos, ou quase, estão e estarão à disposição de mudança de caráter e com as mãos coçando para se enturmar com quem tem o poder de demanda de fazer-lhe um cliente do desmando. (Sem esse aprendizado passado pelo mau-caratismo brasileiro, não há solução para o enriquecimento, para os louros da vitória e a participação na renda do tesouro nacional). 

Visão caótica, sabe o menino que cresceu e virou homem, de ceticismo a dar com pau no cangote de um mal-feitor, mas não sabe fugir pra nenhum lugar do cantinho da mente sem que veja no cidadão atual, a acidez da crise cruel de ser ou não ser, vou ou não vou.

Escuta conversa no repouso que requer o seu ouvido, por todos os cantos, imagina que seja essa a conversa, infelizmente da maioria, incitando os outros a irem pelo mesmo caminho da insensatez de caráter.

Vamos, cara, entrar nessa, tem tanta gente se dando bem! Vamo! Vai dá certo, acredite!

E se formos pegos?

Esquece! Com o que conseguirmos, compramos nossa liberdade, o nosso repousa estará garantido pelos sequentes anos, e outra... Nunca mais nos acharão sem estarmos com os cálculos da fuga engendrado. No máximo, por aqui, nessa metrópole de loucos e espertos, vamos puxar um mês, dois, de cana. Parece que não conhece o judiciário do nosso país, as delegacias distritais, a polícia. Parece que não conhece o homem atual, estudado, alfabetizado, formado em letras, em medicina, engenharia, administração, parece que não conhece o pedreiro, o padeiro, a parteira, todos precisam do papel que faz vislumbrar a quem estar vivo sonhar. Por dinheiro é tudo e nada mais!  

Espero que entendam quem anda alegre ou entristecido com a crise de valores contemporâneos.

Primeiro, nesse cara, tem que ir pondo com vaselina, mais a frente com cuspe, manteiga é muito cara, depois um cuspezinho não vai mal, cuspe é de graça, quase no final, será  apresentado a pasta nada, isto é, temos que lhe por à cru, e no The End, irá ser  recebido com um punhado de areia. 

Cuidado cidadão moderno que quer se elevar de sabedoria para passar a perna naqueles coitados que vendem confete por aí em meio à folia de carnaval fora de hora pra sobreviver, você merece ser tarado com despudor.

domingo, 9 de agosto de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA-O PAI

 


AQUI TEM HISTÓRIA - O PAI
Tenho lembranças do meu finado pai, desde as que pulsam com alegria e tristeza, admiração e aversão.Antônio Aurélio Marques Sarmento nasceu em 1908.Imagine como foi sua criação e a que legou aos oito filhos, todos homens. Imagina, né? Como analfabeto, era um bom contador de história do passado sertanejo.
Período em que o sertão era terra sem lei e o cipó de marmelo visitava sem dó o corpo de quem não obedecia suas ordens. A fervura abrasava impropérios. Nesse mote seguiu por muitos anos, até o Estado tentar desarmar os homens meio mundo de homem.
Antônio foi cabra da peste na juventude como vaqueiro, cangaceiro, agricultor de roçado de coivara, soldado da volante na revolução de 1930, operário do DNOCS até se aposentar aos 65 anos. No tempo d'eu menino lembro que saia aos sábados a tardinha com o sol dando adeus ao dia e acariciando a noite para caçar com amigos, no domingo a família de dez pessoas tinha mistura como tatu, peba, tamanduá, gambá. Bichos da caatinga ranheta nos períodos de seca medonha eram enfeites pras vistas e nos pratos rasos davam melhor sabor ao arroz com feijão e farinha de mandioca ou de cuscuz.
Descrevia com entusiasmo na oralidade que embarcou no trem na cidade de Sousa sobraçado ao rifle papo amarelo para defender o Estado organizado e retomar a cidade de Princesa das mãos de Zé Pereira na revolução de trinta. Seu coração de jovem batia sem desalento por violência, como o de todos aqueles homens que faziam parte da dinâmica e estética daquele período no sertão.
Foi cabra de Chico Pereira. Este vivia em seu latifúndio com bandos armados na cidade de Nazarezinho.Também foi cabra de Otávio Mariz na cidade de Sousa, (este era seu primo e protetor quando jovem numa terra sem lei, e como médico, doutor Otávio curava suas feridas de bala, punhal, peixeira).
Participou de peito aberto da troca de tiro no entrevero em que parte do bando de Lampião, em conluio com o de Chico Pereira, invadiu a cidade de Sousa para matar Otávio Mariz, seu primo, pelo fato de numa tarde de bebedeira, este ter chicoteado o corpo de um dos cabras do inimigo coiteiro de muitos assassinos. Antônio Aurélio (meu pai) narrava façanha desse encontro entre invasores e defensores, quando foi alvejado com balaço de rifle. Esse tiro de bala mais alongada, não o levou a morte. Era forte. Inclusive tornou-se meu pai. (Risos).
Sentia orgulho em ter trocado tiro contra esse bando nas areias do rio do peixe e conhecido Livino, irmão do rei do cangaço Lampíão.
Sábias lembranças sobre tretas atrevidas em violência, com muita morte, muitas histórias medonhas, inclusive de assombrações, de almas penadas, sabia narrar, quando por sua garganta passava umas talagadas da branquinha marvada. Contava que um dia tomou surra de uma caipora, por não ter fumo para doar. 
Das brigas nos forrós que participou e teve que fugir numa noite sem o clarão prateado da lua, ao momento que estava dançando com uma donzela, e um cabra o abordou e o convidou para tomar uma pinga num balcão improvisado com estacas e varas da flora da caatinga.
Desconfiado do convite, permaneceu esperto, quando levou a pinga à boca e viu o brilho da lambedeira partir em direção a seu bucho. Conta que deu tempo de segurar a lâmina com uma mão que perdeu o movimento do dedo mindinho. Mostrava o dedo em riste que não se curvava como os bravos sertanejos do período de 1920/30. As sangrias na jugular que ocorriam nos cabras safados nunca teve coragem de fazê-lo pessoalmente, (era o que dizia) mas assistiu homens do cangaço ou da volante enfiar sem dó o punhal na jugular do covarde entreguista olheiro do inimigo. Assim era o sertão dos então coronéis donos do poder da terra e do dinheiro do Estado que para lá ia para combater a indústria da seca.
Nunca contou que algum cabra ficou estirado sem bater pestanas por suas mãos. Isso ele não assumia. Dava risada enfadonha e logo tomava outro rumo a prosa quando mais uma talagada de cachaça passava pela goela e o cigarro de fumo de rolo picotado a faca, recebia  brasa do tição de aroeira para acender. Pra todos mostrava as cicatrizes dos ferimentos a bala, faca, punhal que rasgaram sua carne por todo esse período do bravo sertão.
Entrar a cavalo cutucando a montaria na esporta, com companheiros de arruaças nas festas da classe dominante, o fazia verter lágrimas depois dos 70 anos de idade. Atenção e locução compreendida por mim no traçado da suas longas vivências e histórias, quando lá voltei, depois de 7 anos fora do seu convívio.
Antônio escapou por sorte desse tempo nevrálgico sertanejo.
Aquietou-se das bravatas, bebedeiras, arruaças e putarias, quando aos 42 anos foi procurar sua prima com dezessete anos, (minha mãe Francisca) e pedir ela em casamento. Foi quando se empregou no DNOCS para a retomada da construção do açude na região onde nasceu, viveu e morreu no distrito de São Gonçalo, Sousa, PB.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

MEMORIAL DA BARRAGEM



MEMORIAL DA BARRAGEM 

Esse açude nasceu da ideia de combate a seca

pelo presidente paraibano Epitácio pessoa. 

Inaugurado em 36 por Getúlio Vargas. 

Suas águas serviam no passado para irrigar o vale lá embaixo. 

Hoje só pode ser usada para uso das pessoas. 

Aqui o meu EU menino aprendeu nadar, pescar de anzol.

Remar canoa que ainda desliza em suas águas. 

Do chapéu daquela torre eu pulava de cabeça na companhia de colegas. 

Das margens saia nadando até aquela pequena ilha. 

Ia catar cajá e cajarana. 

Nas quenturas medonhas

Era uma benção se refrescar em banhos demorados dando cangapé

Pulando de ponta. 

Hoje em dia tem uma obra em andamento

Que vai trazer até o açude a transposição do rio São Francisco. 

A população da minha doce vila agradece... 

Com muito sorriso, assim como vai continuar a sorri meu lindo verde vale. 

E deixar de exportar retirantes para Sum Paulo!

 

 

 


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

MEMORIAL DOS CAMPOS AGRÍCOLAS


 

Memorial dos campos agrícolas 

Eu menino não gostava da época de invernia no sertão. 

Sim! Chuva era a redenção! 

Não gostava de seguir meu pai de enxada austera nas costas. 

No roçado de mato brabo no preparo da roça de coivara, 

O calor braseiro do senhor detonava pouca alegria no menino em formação. 

Sentia que deveria viver como muitos filhos de bacana da vila. 

Viver com livros, cadernos e lápis não mão.

E os lábios quentes prontos pra beijar as meninas da mesma idade. 

Meu corpo ganhava coceira dos diabos das folhas do milharal.

Deixava-me inquieto ao saber da luta que ia ter

(já naquela idade)

Pra me colocar como pessoa existente

Num mundo que cabe poucas pessoas como eu. 

Culturas florando nas terras desse vale, ah!...

Elevava a estima das pobres famílias! 

Tristeza deletéria em algum momento desaparecia

No menino, quando o eito ia se fechando. 

Vou ficar livre daqui a pouco pra jogar bola!

Tomar banho de açude!

Cair no rio que corre desde o sangradouro até o mar!

Perto do mar serei feliz, Sum Paulo!


sexta-feira, 31 de julho de 2020

MEMORIAL DAS MISSAS E FESTAS DA IGREJA



Memorial das missas e festas da igreja

Meu eu menino aqui foi batizado, crismado, abençoado?

Meus joelhos dobraram para contar dos pecados diários aos padres ouvintes.

Pais nossos e aves Maria deveriam ser rezados para remover os pecados.

Aqui Frei Damião juntava multidão.

Ocorria quando o sertão precisava do alimento da fé...

Nos períodos das estiagens medonhas.

Senhoras católicas de véus negros na cabeça...

Acompanhavam com fervor as ladainhas. 

Crianças se soltavam das mãos de adultos e ganhavam a rua. 

As missas aconteciam nas noites de domingo. 

Retiravam muita gente de suas casas.

Era o que tinha para as pessoas se mostrarem umas as outras. 

Vestiam-se com os panos da última moda.

As costureiras agradeciam essa vida social

Da minha vila de funcionários públicos.

Senti saudades quando migrei par Sum Paulo!

 

 

 

 


quarta-feira, 29 de julho de 2020

MEMORIAL DA ALAMEDA DAS TAMARINEIRAS



Memorial das tamarineiras 

Nesta estrada Eu menino muito se assustava.

À noite, qualquer movimento de galho de árvore

Multiplica a sensação de pavor a quem já anda amedrontado. 

A escuridão se acentuava nas noites em que a lua não brilhava. 

O pavor de atravessar essa estrada

Cresceu quando do surgimento de cruzes às suas margens. 

Estes tamarineiros

Em resistências inabaláveis aos machados e serras elétricas

Não se curvaram à ganância do homem. 

Ainda hoje, essas árvores, quase centenárias

Fazem sombra para passeios demorados dos moradores. 

Visitantes vem desfrutar da sua beleza. 

Eu menino muito passou aqui de dia e de noite. 

Ganhou algum dinheiro na colheita de suas vagens.

Subia nos galhos e balançava para cair os frutos azedos. 

Eram vendidos para o Recife e lá viravam doces. 

Doce vida leva a população da minha vila 

Quando passeiam despreocupados embaixo das sombras.

E não sonha mais migrar para São Paulo!