terça-feira, 21 de setembro de 2010

MOVIMENTO PROSIA



NO CÉU DE NASCIMENTO
DA INFÂNCIA
ADOLESCÊNCIA
E JUVENTUDE

Pomares de frutas me encaminhavam para a prática da sobrevivência
ao encher-me o vazio de dentro a qualquer hora do dia.
Espigados coqueiros produziam bola para ser chutada antes de bebida.
As quengas roliças partidas ao meio
viravam canecas de dureza apocalíptica
além de servirem pra moleque andar sobre si
emitindo barulho de pata de animal sobre piso cimentado.
Carne de coco branquinha lambuzava boca
substituindo a dos animais mortos à ponta afiada do ferro laminado chuncho
depois de escorregar em cimentado piso de lodo
criado pela água em si existindo tempo sem fim fiozinho corrente
para o fim de derrubá-los.
Água vinda da bola verde matava a sede como a que derrubava a rés
vindo-a do açude represa.
Diziam os mais velhos que a água era boa não só para beber
servia como xampu a de coco.
Servia não
dava cabelo endurecido pelo açucarado doce sabor.
Pente não penteava
só quando forçava garfo pelas entranhas do blacpower.
Havia os fiapos das mangas que se metiam à besta se enfiando no entre dentes
depois aja palito de pé de capim pra enfiar entre um e outro
e retirar o cabelo pêlo da manga espada.
Manga rosa menos incomodo por derreter salivando sabor.
Suco adocicado chupado com prazer de olhar penetrante na próxima
não exprimia careta
prazer era o efeito.
Ficava esperando no galho que o vento a abatesse
e enfeitava a vida de fartura nas safras das frondosas árvores
aos cuidados de passarin azulão/sabiá/viana/concliz.
Das pinhas se comia até o caroço
por ser roliço pequeno e não grande nem grosso.
Amadureciam por debaixo de capim amontoado
pra esquentar a polpa/carne e amolecer mais cedo.
Fome de moleque em crescimento não esperava o tempo aberto fazê-la amolecer.
Se demorasse resgatá-la do galho curvado pelo peso da boa produção
espertos com mais força fome e envergadura
chegava pra roubá-la primeiro que menino arteiro.
Dos canais de irrigação que deixavam de ser lacrimais
e saíam abundante despejando fertilidade em tempo de chuva relâmpago trovão
enfiava gosto pular de ponta de ponte de ferro
dando cabeçada n’água correnteza
como se fazia com as bolas capotão
em campão de toco arrancado por enxadão
lançadas por braço tendão as vistas enrijecido
por magreza de filho de agricultor que não recebia no paladar sabor nenhum.
Diversão danada sair nadando ou debruçado arrastado pela correnteza do rio do peixe flutuando deitado em pau de bananeira ou em bóia de câmera de ar de caminhão
olhando o céu alumiado de calor braseiro do senhor
levado mais adiante de encontro aos braços do guarda-civil do perímetro
‘Bico-de-Aço’
que entregava moleque pros pais pra correção da malinação.
Chicotada de cinto de couro cru no traseiro ou cipó de marmeleiro
visitava as costas quando moleque não possuía ainda
‘pernas-pra-quem-te-quero’
e corria feito potro em busca dos braços d’avó.
Vixe! como era bom o meu sertão quando chovia de montão
Vixe! como era triste o meu sertão quando fazia seca de arrastão.
Das goiabas novas no verde do cio
reclamava moleque pra mãe que não conseguia cagar
entupido pelo excesso de caroços hostis.
Das muito maduras nem espiava por dentro moleque faminto
eram devoradas no desarvoro mastigar quase não.
Não via bicho mole se mexendo tapuru de fruta.
Horror aos bichos só delegava às vistas
quando era produzido nos restos
que os urubus não conseguiam devorar dos animais mortos pelo estio.
Retesada no chão pisado pelo bicho diabo inimigo do ‘Senhor’
e que os homens faziam cruzes com os dedos indicador para afugentá-lo
quando era lembrado ou citado por alguém adepto do imprestável.
Ciriguélas das verdes
exprimiam careta na cara dos apressados em chegar primeiro
bem como as tangerinas e umbus
por não esperar o amadurecimento dos frutos cajá/cajarana
que faziam careta do azedume ou da dor
quando era derrubado por galho moleque mais crescido
por galho de madeira sem trançado na matéria como as goiabeiras resistentes.
Juá menino não gostava de provar em boca desbocada para qualquer alimento
não tinha muito que mastigar da fruta desse pé de pau sempre verde
perdido no ermo da mata calcinada
produzindo sombra para o descanso de corpo estorvado pelos solavancos das ferramentas que volviam a terra para o plantio depois do estio
cassacos da emergência e agricultores das vazantes.
Dele valia a casca raspada para engraxar os dentes
depois de comer mais vento e sol que sustança sólida.
Do entre fruto bom da terra de vazante irrigada pelos estreitos canais
quando dos bons invernos
se mastigava o que enchia o oco do estomago
não deixando teta grande cheia boa de mamar faltar as mães
nem a cama sempre quente em espera para a fábrica fabricar mais tantos.
Das meninas criando penugem lá no seu bem-bom pra moleque
que também recebia pêlo e crescia os peitos por hormônio masculino
testosterona se formava na carne
sobrando delas a fantasia
vindo à realidade sobressair nos animais ‘cabra’ de que se tinha notícia
que moleques retiravam energia da juventude sem a amnésia de culpa.
Tinham necessidades de alimentar não só a fantasia as meninas
pela progesterona vir em visita ao corpo em se deslanchar
abrindo a fissura dos olhos dos moleques
quando se deixavam vestir-se pra sair no calor.
Também sonhava com esperança de que moleque ainda novato
e filho de classe melhor amparada no colo da sociedade local
e no ato do amor
a assumisse e retirasse de casa
dando agasalho comida cobertor e muitas crias
para o futuro não ficar incerto
e os filhos sem sangue de melhor correr pelos labirínticos das veias.
Sangue azulado como a atmosfera do mesmo céu
por possuir família cabecinhas de gado em curral apartado
alimentado por capim de capineira plantada e cultivada sobre fertilizada terra preta
feito petróleo
que a fazia sonhar em mudar de rumo
ganhando vaquinha leiteira depois de neném no colo
e o filho preso aos braços esperando emprego público.
Nem sempre dava certo depois de bulida menina em fase de crescimento
em meio a pobreza de meter medo
quando se dizia embuchada.
Muitas tinham única saída
servir pra chacota de marmanjos a chamando de rapariga
e querê-las em qualquer parte de si
ou ir parar na famosa zona mais perto dos homens ‘João Terroso’.
Eh vida arteira de infância sem cálculos matemáticos
sem conjunções aditivas no comprido das falas
sem o complexo nexo dos verbos conjugados dentro da lei do seu tempo
sem a sintaxe overdose de pró-nomes
adjetivos feios vindos por apelidos excêntricos que cada um ganhava
no linguajar de moleque imaginativo.
Era o calor do meio dia deixando arteiro quem tinha tino pra arte
que na escala Celsius passava dos 40 graus.
Era a terra aberta em erosão de aluvião vermelhão
feita no massapezão da mão do agricultor carente
que rezava doidamente a fim de ver a água correr furando oco medonho
fazendo erosão na terra e não no seu peito
carregando a cruz de cristo nas costas
por promessa enviada ao santo da devoção.
Assim como o tempo abria as portas que não queriam abrir
pra tu filho do pitu peixe camarão
que uma vez ou outra caia na rede de arrasto ou tarrafa
dos pescadores do açude do DNOCS
as chuvas abriam brecha para melhorar os dias do agricultor meeiro.
Tucunaré com pirão fazia dente moer cachaça em talagada lá no Catete
comprada em meota de cana pra quem não achava dividendos pra garrafa inteira.
Sorridente por dentro vinha da bodega de dona Zefa.
Bicicleta pedalava pernas ligeiras para ir de encontro à venda.
Beiços lambidos perdidos na poeira dos arados dos tratores
ficavam ansiosos por talagada em roda animada por gente
com gosto pra ficar contente por algum tempo
pelo menos ao tempo de durar na cabeça o efeito da cana.
Sanfona pandeiro triângulo zabumba
botavam corpos tristes alegres nos fins de semana
esperando ter feito um bem dos diabos aos animados casais
que compartilhavam vontades próprias de se casarem daqui um ano
se o inverno fosse de pouco alvorecer aurora
daqui seis meses
se fosse de muito alvorecer aurora
ou quando os grãos enchessem sacos e silos prontos para esperar nova seca
ira dos demônios.
A gruta da Santa Nossa Senhora de Lourdes
recebia degraus joelhos de casal nubente
crente que no sofrimento que é usar parte do corpo como assento rastejante
receberia garantia que a filharada que viria
traria na astúcia
saúde e água no correr dos anos.
Mesmo com todas as artimanhas de tempo insano vez ou outra
melhor era o que se passou
em vista do que agora são essas coisas que vêm dos infernos urbanísticos
no caudal ir e vir dos dias de hoje pela urbana city São Paulo.
As lembranças arrefeçam de dentro da gente
como ondas em caudal nos arrecifes
pelas lágrimas virem visitar quase sempre
a quem só nasceu pra enxergar
sem propósito em ter que divisar
com as malquerenças dos sitiados cidadãos da urbe humana.