domingo, 20 de setembro de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA - APRENDIZADO


 AQUI TEM HISTÓRIA - APRENDIZADO

Nos anos 60/70, nos sertões deste país continental, não existiam tanta facilidade para uma criança pobre começar seus estudos.
No sertão nordestino as escolas eram poucas, as vagas eram direcionadas para certas famílias que tinham bons relacionamentos com a administração pública e tinha a educação como meta para o crescimento profissional.
Meu letramento foi muito difícil. Por questões como essa e muitas outras...Assumo! Era um aluno, também, disperso e brincalhão.
Frequentava a escola mais no intuito de me divertir, brincar com colegas e comer a merenda da máquina vaca leiteira da ditadura militar...
Uma espécie de mingau produzido com leite em pó...Sabe.
Minha casa tinha pouca comida para 10 bocas entre adultos e crianças!
Não me segurava a atenção as professoras falando e escrevendo traços estranhos na lousa.Queria ver movimento de gente e o vento atiçando os galhos das árvores do meu pedaço idílico de chão de vazantes irrigadas, jogar bola, nadar nos canais de irrigação, pular da galeria do açude e sair pinotando com um monte de menino nas estripulias.
Por isso da demora para aprender a ler. Aja brincadeiras! As cartilhas de ABC, e outras, que serviam para o ensino aprendizado das crianças, não me seguravam de olho grudado nas suas páginas.
(Não tinham ilustrações nem fotos coloridas de paisagens e de cidades).
A ficha caiu quando me senti com dor de cotovelo...Veja...INVEJOSO!
Via colegas de escola e de outras gerações com alguns livros de bolso, gibis e revistas de fotonovelas nas mãos circulando contando as histórias vividas nelas.
Queria ler também. Oxe! Nessa época já conseguia juntar um A com CRÁ, mas era uma leitura soletrada.
Para ler de fato, tive que mudar de escola e de atitude em relação ao meu comportamento e aprendizado.
Pra isso cheguei em mãinha.
Pedi que arrumasse dindin do parco salário do meu pai.
Matricular na escola da professora Dona Maria das Neves, era meu desejo.
Ela me arrumou. Pra matrícula tava garantido.
Aquele ano fora de bom inverno. Sacos de mantimentos de roça como milho, arroz e feijão, mais tarde algodão, estavam num canto da sala da casa de taipa. Alimentos que me puxaram pro roçado para cuidar e colher junto com outros irmão e o meu pai.
Para pagar as mensalidades futuras tive que ir trabalhar de bóia fria nos campos irrigados. Este trampo duraria quatro anos até pegar rumo com um irmão que já morava em Sum Paulo e lá foi passear num fim de ano. Apareceu com roupa social leve, sapato brilhante, cinto de couto de fivelona, relógio seiko no pulso. Isto me entusiasmou de querer vir simbora com ele.
Dona Maria das Neves era professora severa. Usava palmatória.Como era interessado em aprender a ler corrido, não cheguei a causar e tomar pancadas na mão aberta. Tinha um método de ensino super proveitoso. Tiro e queda!
Juntou o pouco que eu já sabia adquirido na escola pública da vila, com o seu método de ensino, então logo consegui desenvolver meu aprendizado sobre números, português e leitura pra passar no famigerado exame de admissão pra fazer a quinta série.
Lendo com facilidade, me enfiei na leitura de tudo que aparecia na pequena vila, meus colegas ficaram para trás. A leitura começou me atrasar para todo tipo de diversão, até para jogar bola.
Era uma fuga muito gostosa, entrar na vida daqueles personagens e fugir da realidade mesquinha que me cercava as paredes da casa de taipa.
Livros, revistas de fotonovelas, gibis (quase nada) depois que aprendi a ler, começaram estragar minha vista e alimentar meu cérebro de saberes diversos.
Todo esse material emprestado de outras pessoas.
Na minha casa, muito pobre, não havia nada relacionado à leitura. Meus pais eram analfabetos. Com o diploma da oitava série concluído, peguei estrada pra grande cidade num busão fedendo a coco e xixi. Em 48 horas de viagem descemos na rodoviária Julio Prestes.Senti prazer com tanto acrílico colorido que a embelezava, porém, muito desprazer ao entrar num trem às cinco da tarde e ir parar no cu do mundo da periferia paulistana de Santo André.