quarta-feira, 12 de março de 2014

PERRENGUE

Do centro a minha casa é uma draga.
Da  periferia ao centro outro aperreio.
Corpo cansado,  busão lotado, fadiga do diabo.
Acordar cedo, sair às presas, bater cartão pra ganhar o pão.
De trem, de metrô, de busão, o sufoco é um só, meu irmão.
Conta pra pagar, carnês pra quitar, filho pra sustentar, mulher pra cuidar, aluguel pra pagar.
É o que dá ser o rei do salário  mínimo e ½.
Viro o bicho atiçando os pensamentos pra entrar pras correrias.
Ando no sufoco com essa atitude de ser paciente trabalhador.
Crente que as coisas vão melhorar.
Preciso dá um jeito.
Tomar um choque de resistência. Entrar num esquema.
Atitude. Partir pras cabeças.
Deixar de pagar aluguel, comprar uma caranga, cair no samba, virar bamba.
Movimentar, experimentar outras correrias, deixar de ser otário.
Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro, é o ditado.
Tá embaçado.
Sair da viela, deixar a favela exige a mulher, a sociedade.
Com o que ganho vou acabar indo parar no fundão com esses preços que não param de subir.
...E aí excelência, broder, no teu partido tem lugar pra quem quer ser ladrão?
Se tiver, tou na finta, tou a fim de cair de pau e explodir qualquer coisa que dê grana.
Virar laranja de prefeito, vereador, deputado, senador.
Já dei uns tiros quando moleque com uns manos que morreram no asfalto.
Já troquei soco no futebol de várzea.
Explodir caixa é comigo mesmo.
Vamos?!
Zé Sarmento