quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MEU LIVRO TRISTE



Meu livro triste é livro da moda.
O comprei quando alguém me falou que havia lido e gostado.
Bom, como era moda, acabei entrando e gastei na época alguns reais.
Será que após os trinta e tantos anos, ainda não tinha a personalidade formada para dizer não e não ir pela cabeça dos outros?
Bom, são as tendências, e essa massa de manobra pega quase todo mundo.
Só sei que o livro ficou anos me esperando na estante, e num dia qualquer de uma hora qualquer, vou eu fuçar noutros e o vejo se oferecendo para mim. De graça até injeção na testa.
Oferecido como estava também me ofereci e o peguei.
Livro ingrato, incompreensivo, esse. Ao invés de se abrir, se fechou e não abriu suas páginas para mim.
Disse ele sem uma palavra, emudecido de tristeza, que estava revoltado com a minha pessoa, por tê-lo esquecido por tantos anos e que não servia mais para leitura: havia passado da moda. Que eu o deixasse na estante só para enfeite, que pegasse agora dos livros didáticos, de história preferencialmente, já que se achava se graduando nessa matéria.
O atendi, sou humanista, não o queria magoá-lo mais ainda.
Como este meu livro triste, muitos andam por aí enfeitando as estantes pelos donos não terem mais tempo de pegá-los e folheá-los desde o primeiro capítulo e lê-los deitado numa rede, no sofá, numa cadeira de balanço, sentando num tronco de árvore, na grama, sobre uma toalha na areia da praia. Agora são leituras rápidas em passeios vorazes pela tela do computador, do celular, do kindle…
Coitado dos livros.
ZéSarmento