AQUI TEM HISTÓRIA
Sessentinha e mais, inteiro.Num tou me gabando.
Não foi nada fácil chegar aos sessenta e três anos,
(quem acha que tenho menos ou mais
levante a mão), resisti desde que nasci, não sei como, acho pela fé em querer
realizar coisas, lutar pra sair da miséria em que fui criado e mostrar pro meu
pai que não seria o inútil que ele dizia que eu ia ser, por ser o moleque mais
rebelde dentro da casa de taipa, entre os 8 irmãos, todos homens, que Antonio
Aurélio Marques Sarmento concebeu no ventre de Francisca Marcelino Sarmento,
sua prima, minha mãe. Aos 19 anos São Paulo foi a saída, acompanhando um irmão
que havia se mudado para cá há 2 anos e lá foi passear, levou radinho de pilha
vermelho, calça de tergal com vinco boca de sino, camisas sociais, camisetas
coloridas, sapato plataforma, relógio seiko dourado, cinto de vivela vistosa, brilhantina
para o cabelo, perfume, corte de panos pra mãe e pai e irmãos, vim com ele, viajara
para cá depois de um casamento na ‘poliça’, forçado, pegou uma moça virgem no
mato, ou casava ou ia pegar cadeia na cidade de Sousa, chagando aqui o choque
foi duro, era muito inocente, bobinho, tímido, difícil de enturmar, tinha medo
de fazer amizade, ser sugado por ela, quase entrei numas, mas segurei, nas
bocas do lixo, no cinema, era muito centrado, racional, apesar de bobinho sabia
o que queria, medo da cidade, sempre meio recluso, muito preocupado em ganhar
tempo em aprender aquilo que não
consegui até os 20 anos, quando no sertão, nas
minhas incursões culturais o livro sempre esteve presente, desde que
aprendi a ler aos 14 anos, isto me acompanhou para cá, também o cinema e o
teatro, não consegui tudo que almejei economicamente, isto é fato pra filho de
bacana, pertencente a uma elite que explorou, explora pobres de todas etnias
com a esperteza de uma mente doentia e conservadora pronta para se dar bem a
qualquer preço, tudo bem, os 4 filhos
salvos, criados, na perifa, com suas profissões, agora é pensar levar os dias
com tranqüilidade, pensando muito em como trabalhar mais minha literatura,
continuar aprendendo nos livros, nas ruas. Sempre fui aberto aos saberes, muito
curioso, no primeiro livro que editei disse pra mim mesmo, vou fazer um puta
sucesso, comer um monte de mina, viajar, ganhar grana e viver como escritor, pensamento
escroto, né? vai ser da hora, ledo
engano, se liga aí a vida é dura, cheia de coisas que se chama capacitação, estudo,
entrega, sorte, cu pra lua, politicagem, vaidade, interesse, pouca virtude
moral, ética, muito sexo e porralouquice, o sucesso como geralmente a maioria
da população aceita precisa de tudo isso. Sempre fui, desde novo, contestador
dos valores tradicionais dessa direita maldita que sugou e suga a esperança dos
trabalhadores e suas gerações, lhes negando o direito ao aprendizado, direito a
mobilidade social e econômica...