segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

COMEDORS DE PRÉDIOS


 COMEDORS DE PRÉDIOS

Gostaria de ser uma floresta cheia de animais invisíveis aos olhos dos desumanos.

Iria soltar meus bichos na cidade desumanizada entregue às traças.

Abriria o portal da liberdade deles pra um serviço de sutil presteza.

No meio da urbanidade meus bichos começariam se alimentar.

O alimento viria de prédios suntuosos com fachadas de vidro protetores do capitalismo selvagem.

Meus bichos da grande floresta.

Famintos, começariam se alimentar de suas colunas subterrâneas.

Das ferragens internas não ficaria vigas intactas que meus bichos não abocanhassem.

Meus bichos comeriam as colunas e suas ferragens no silêncio das noites insones.

O sinal do fim da barriga cheia dos meus bichos.

Seria uma festa que fariam pendurados nas árvores afastadas do centro.

Árvores que ainda não receberam visitas das serras elétricas.

Assistiriam de camarote o préidão tremer.

Na correria do povo passando para escapar da sua derrocada.

Ficaria para traz muitos produtos importados da velha China.

Com o monte de concreto e ferragens no chão.

Meus bichos deixaria mais uma vez a floresta.

Levando sementes para jogar no novo terreno que acabou de ser limpo.

Uma praça ali seria construída.

Brinquedos pra criança, pista de caminhada.

Fariam festa no fim de semana os moradores sem sombra do centro da cidade.

Uma biblioteca estaria no meio da praça.

Receberia leitores ávidos por livros e literatura.

Oh, sonho doido de um velho que adora viver sua criança.

Menino danado que ainda insiste em viver pendurado em sua cacunda.