sábado, 25 de abril de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA - NA ARTE


AQUI TEM HISTÓRIA - NA ARTE!!
Desde o tempo d’eu menino gostei de arte. Até onde ela não existia com diversidade. No sertão onde nasci. Dava minhas piruetas no corpo infantil e adolescente para ir de encontro a ela, quando, por alguma ocasião, ela surgia na minha pequena vila de operários.
A arte do cinema e a circense eram as que mais surgiam para fazer viajar pelas quebradas do empírico as crianças, jovens e adultos. Eu e outras crianças, muitas das vezes, ganhávamos ingresso para entrar no primeiro espetáculo do circo, por acompanhar o palhaço pernas de pau fazendo propaganda pelas ruas.
Na moral, deveras, a vontade era de ficar o tempo todo com aquela gente esquisita, fazer amizade, pra toda noite está diante dos artistas com suas performances e não ter que me sacrificar pra toda noite entrar pelo buraco. Era um menino liso.
Quem também me fazia viajar na maionese, eram os sanfoneiros e seus parceiros na zabumba e triângulo, na viola dedilhando cordas com dedos grossos calejados por enxadões, pás e picaretas, os repentistas me tiravam do chão inventando mote. Cada lapada de cana chora na rampa, caranguejo ou pitu passando pela goela, fazia a mente do artista popular ser mais criativa.
Tinha as orquestras contratadas para tocar no pequeno clube local, porém eu não conseguia assisti-los, era para a granfinagem da vila de funcionários públicos que moravam em casas grandes da rua principal e podiam pagar ingresso.
Artistas com bonecos mamulengos (marionetes) também me tiravam do chão, quando montavam seu pequeno teatro em alguma casa simples da vila de taipa.
Escrevo para lembrar que arte é um movimento humano para se expressar através de diversas linguagens e estéticas. Infelizmente, em pleno século 21 tivemos um governo que odeia a arte. Sabemos que esse ódio a arte, também, acontece pelo ódio que ele tem às diferenças entre os seres humanos. Se Hitler usou a arte como propaganda, mesmo negando a arte contemporânea (do seu tempo entre 1933 e 1945).
O Funher gostava da arte Greco Romana para sinalizar um ideal de ser humano perfeito para a raça ariana. O ex-presidente do Brasil não tem sensibilidade para nenhum movimento artístico, quer seja cinema, teatro, música, artes plásticas, dança. Ele quer ver o circo pegar fogo e os artistas no meio das chamas, por se expressarem contrários a sua educação, (ou falta dela), por achar que todos são viados.

AQUI TEM HISTÓRIA - DE FORMAÇÃO COMO LEITOR


AQUI TEM HISTÓRIA – DE FORMAÇAO COMO LEITOR
A minha formação do tempo d’eu menino foi pobre de marre marré.
Nasci numa vila operária sem biblioteca nem o hábito da leitura.
O habito de jovens para estudos em algumas famílias mais esclarecidas, sim, de leitura não.
A base da arte pelas plagas sertanejas era no popular, na oralidade.
Circos visitavam o povoado uma vez por ano. Rádio Semp numa casa ou noutra. Filmes só aos sábados e domingo. A TV chegou quando já era pra lá de adolescente.
Dos 13 pros 14 anos, quando aprendi a ler sem ser soletrando, comecei a ler livros de faroeste e revistas de fotonovelas. Era o que tinha. Me faziam viajar na mionese e esquecer a pobreza quase absoluta. Leitura mais elaborada só quando cheguei em São Paulo aos 20 anos, no corpo  estrutura de 15, cabeça de 12.
Antes de aprender a ler, alguns jovens leitores já andavam com livros na mão e contavam histórias que esses livros narravam.
Aumentava mais o meu interesse por esses livros, quando estava programado para passar filmes do mesmo gênero no cinema local, e os cartazes expostos no centro da pequena vila chamavam atenção para o filmes do fim de semana. Para mim, as mãos que desenhavam os cartazes eram mãos divinas.
ADENDO...(Um dia eu e um amigo entramos mais cedo no cinema, por descuido do faxineiro ter deixado a porta aberta,  e fomos parar atrás da tela, lá sentamos numa viga de madeira que segura a mesma, mais tarde, quando o filme foi projetado, o assistimos ao contrário. Aventura que nunca saiu da minha memória).
Os moleques que liam e contavam as histórias dos poucos livros que pela vila circulavam, me causavam inveja, então, esse sentimento, me levou a pegar mais sério nos estudos pra aprender a ler corrido. Pra tanto, tive que me matricular numa escolinha de uma sala só, bem pequena. Cabia uns 20 alunos entre meninas e meninos.
Não sei onde minha mãe arranjou os cobres, (acho que sei o motivo). Cheguei nela quase chorando e disse: “Quero aprender ler cuma meus amigo já aprendeu e tão lendo livro. Eu num sei ainda”.
Dona Francisca pegou umas notas amassadas de cruzeiro, depositou na minha mão, depressa deixei a casinha de taipa onde morava com oito irmãos, desci o morro, meti os pés na estradinha de terra à milhão desamassando as notas.
Matriculado, logo as letras separadas começaram entrar juntas na minha cachola, (palavra muito dita pela professora) para incentivar os alunos a ter pressa. Dizia: O exame de admissão pra entrar na 5º série é no final do ano. Quero vê todos passar na prova de admissão.
A maneira que ia aprendendo mais a ler com a dureza da professora, mais ia lendo os livros, e ao mesmo tempo, com outra descoberta de leitura me deparei, as histórias de fotonovelas das revistas contigo, capricho, grande hotel...Porém, não em minha casa, nela não tinha livros nem revistas, só pobreza e muita desordem. Sobrou à casa de uma prima que adquiria as mesmas  na cidade de Sousa aonde estudava o normal. Emprestava-me. Da casa dela só saia depois de terminado dois interesses, o da leitura e o da visão da sua calcinha à mostra quando se sentava, era tempo em que as moças usavam minissaia. As imagens das revistas me faziam viajar, as imagens da calcinha da minha prima me faziam bater muita ciririca.
As revistas com fotos coloridas, mais os anúncios, e algumas fotos de grandes capitais do Brasil e de fora, com aqueles ‘preidão’ aglomerados de carros e gente e riqueza, também me tiravam da realidade.
Nas horas das leituras, quando os colegas chamavam pra jogar bola e nadar nos canais de irrigação e açude, ou sair pelos sítios e vazantes dos agricultores pra pegar alguma fruta como banana, manga, graviola, mamão, caju, abacate dizia na cara deles que só sairia daquele tamborete, depois que terminasse a leitura e a prima se aquetasse.
Acabei perdendo muitas aventuras no perímetro irrigado de nome São Gonçalo, com a molecada, motivo de viagens lúdicas que fazia  lendo revistas e livros que pela minha quebrada do tempo d’eu menino surgiam.
Não tive acesso a revistas de HQ. Acho por isso até hj não me interessar pelo assunto.