quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL


 AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL

Se eu ainda vivesse como profissional do audiovisual, essa época do ano estava me lançando em arrumar um filme pro churrasco de fim de ano, teve um período que não precisava correr atrás, as produções é que corriam atrás de profissionais, tipo anos 1980/90 ou até 2000 e pouco. Muitas marcas fazem filmes com o assunto natal. Muitos perus, frangão, linguiça vão ao ar cuidados por mãos de efeitos especiais, diretores de fotografias e pós-produção nas ilhas de edição, filmes de shoppings não ficam atrás com promessa de sorteios de carrões importados, lojas de vestuários e de bebidas não ficam na rabeira. Aposentado e longe dos sets, sei que tem muitos técnicos nos seus grupos de zap se vendendo para um trabalho, e isto vira leilão nas produções, vindo o preço desabar e o profissional ser desvalorizado, poucas produtoras têm a ética e moral de pagar cachê integral negociado via sindcine. Viva a leitura, os estudos, a literatura, a arte da palavra escrita e falada no pé do ouvido, e de quem gosta de poesia e prosa e conto e crônica e arte em geral. Falar nisso, essa noite eu filmei, um filme pesadelo e pesado, era numa praia e de noite, muitos refletores grandes e pesados para ser colocado em torres pra iluminar areia e mar. Ainda bem que eu tava com parças competentes da equipe que escolhi.

AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL


 AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL

Ao virar profissional do audiovisual, início de 1980 na boca do cinema paulista, ganhando bem nas produções dos longas-metragens e publicidade, achei que tinha virado um nordestino RICO, ora, cheguei em Sum Paulo preparado pra qualquer serviço, vinha de ser boia-fria por mais de 5 anos nos campos irrigados da minha paradisíaca São Gonçalo, distrito de Sousa, PB, então filmando em casa e locações da elite paulistana ou burguesia do primeiro escalão, isto me envaidecia, conseguia, inclusive, mandar dinheiro pra casa da minha mãe e pai, com isso ajudava nas despesas dos irmãos que lá ficaram, alguns ainda em crescimento e momentos de estudos técnicos em agronomia fora da minha vila operária. Muitas vezes dava vontade de entrar numas de comprar um carrão do tipo que usava os diretores de publicidade, os filhos de bacana, logo me vinha o pensamento de que poderia faltar grana pra bancar meus 4 filhos e a reforma da casa que havia recém adquirido. A ficha na cabeça desse cabra caiu dizendo que eu não era nada disso, logo depois de pesquisar e escrever o livro Paraisópolis, caminhos de vida e morte em 2000, editado em 2002 pela Editora Zouk com financiamento de edital público da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, edital em que o agente cultural tinha que correr atrás das empresas. Consegui convencer uma empresa de locação de material de luz pra cinema me patrocinar. Cinecidade Locações Produções do querido Jose Macedo (Jamelão).
Pra ficha cair em definitivo e mostrar que eu não era mesmo pertencente a elite do cinema, nem daqui nem da China, e entrar com tudo na turbulenta e politizada luta de classes, me caiu a ficha de estudar história com graduação com licenciatura, graças ao ProUni. De lá pra cá minha escrita pra meus romances e os textos que escrevo pra falar nos saraus ficaram mais contundentes nos pormenores de que sou um pé rapado pertencente a pobreza das margens e que continuarei a ser rejeitado como um ser pensante que escreve sobre seus páreas, pra deixar registrado que a luta de classes terá que existir e seguir em frente, sem entregar a rapadura raspada na boca da elite que quer nos ver preparados para ceder a ela nosso couro e carne de primeira, quando se é novinho, carne de pescoço e osso quando se é velhinho como eu.

Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

 Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

Por: Varneci Nascimento

São Paulo tem me proporcionado conhecer tantos escritores e, entre eles meus conterrâneos nordestinos, que trabalham com a palavra nessa megalope de sonhos e desilusões. @zesarmento sempre esteve ligado as artes, mas nem sempre produzindo sua arte que pulsava, desde a infância, no coração e nas veias deste paraibano que foi alfabetizado aos catorze anos. Sarmento é um jovem aposentado advindo do cinema, que está em plena atividade literária, força pulsante que só veio dar mais atenção depois do tempo ganho com o afastamento dos Studios de filmagens.
A literatura deste poeta é tão vibrante como quando ele sobe nos palcos para recitar. Quem assisti-o pensa que ele está brigando, e de fato está, porque sua poesia é denúncia, é faca de dois gumes na goela deste sistema opressor que se acostumou a matar pobre, preto e favelado, ainda por cima, convencê-los de que são os culpados. Estou lendo Vazante no metrô, indo para eventos literários e, às vezes escondo as lágrimas vindas ao rosto, porque vejo em Tonho de Joaquim de Moça os milhões de nordestinos que gastaram suas vidas, em troca de um prato de comida. O triste é ver alguns convencidos de terem feito uma troca salutar. Que venham tantos Sarmentos para usar a poesia como arma de luta social, porque quem se une a dor dos outros pode até ter um inferno astral, mais jamais carregará a responsabilidade da omissão. Vazante foi publicado pela @selintrovoar e é brilhantemente ilustrado por @joao.pinheiro Fico com vontade de ler Vazante, chame Zé Sarmento nestas redes tidas por sociais, que afastam os próximos e aproxima mais ou menos os distantes.

AQUI TEM HISTÓRIA - A DESCOBERTA DA LEITURA



 AQUI TEM HISTÓRIA - A DESCOBERTA DA LEITURA

No tempo d'eu menino, depois de aprender a ler corrido aos 14 anos, era o que tinha de livro e literatura pra me retirar da vida dura da realidade da seca, ou de invernos que não se seguravam, e mesmo assim, tinha que ir pro cabo da enxada.
Gibi não tive acesso. Revistas de fotonovela, às vezes aparecia na casa de umas primas, lia até acabar a história, também me distraindo vendo as calcinhas das moças novinhas quando se sentavam, usavam minissaias. Sonhava com as fotos com gente diferente da gente com que convivia, tipo uns perebentos, uns buchudos, uns só os ossos à mostra e cancerosos, outros azaranzados nas suas loucuras andando pelos aceiros das picadas falando com seus demônios, remendados ou rasgados com as tiras mostrando a pele áspera queimada por quentura medonha de tanto entrar nas matas pra cortar lenha, tacar no espinhaço dos jegues e vender de porta em porta, era o gás de cozinha que tinha pra ir parar nas trempes dos fogões a lenha. Os jegues caminhavam cambaleantes de tanto peso nas costas, com a barriga raspando sua desgraça servil no chão.
Já na grande metrópole paulistana, com 20 anos de vida sertaneja, começando entrar no sangue a vida da urbanidade de guerra pra sobreviver sem desmandos, fui descobrindo outro tipo de leitura, as mais elaboradas, de autores que hoje são sinônimos de literatura clássica. Os romances sempre me tomaram mais tempo do que a poesia, mas dela não escapava, lia e já dizia no silêncio de mim mesmo num quartinho de cortiço do bairro do Bixiga.