sexta-feira, 31 de julho de 2020

MEMORIAL DAS MISSAS E FESTAS DA IGREJA



Memorial das missas e festas da igreja

Meu eu menino aqui foi batizado, crismado, abençoado?

Meus joelhos dobraram para contar dos pecados diários aos padres ouvintes.

Pais nossos e aves Maria deveriam ser rezados para remover os pecados.

Aqui Frei Damião juntava multidão.

Ocorria quando o sertão precisava do alimento da fé...

Nos períodos das estiagens medonhas.

Senhoras católicas de véus negros na cabeça...

Acompanhavam com fervor as ladainhas. 

Crianças se soltavam das mãos de adultos e ganhavam a rua. 

As missas aconteciam nas noites de domingo. 

Retiravam muita gente de suas casas.

Era o que tinha para as pessoas se mostrarem umas as outras. 

Vestiam-se com os panos da última moda.

As costureiras agradeciam essa vida social

Da minha vila de funcionários públicos.

Senti saudades quando migrei par Sum Paulo!

 

 

 

 


quarta-feira, 29 de julho de 2020

MEMORIAL DA ALAMEDA DAS TAMARINEIRAS



Memorial das tamarineiras 

Nesta estrada Eu menino muito se assustava.

À noite, qualquer movimento de galho de árvore

Multiplica a sensação de pavor a quem já anda amedrontado. 

A escuridão se acentuava nas noites em que a lua não brilhava. 

O pavor de atravessar essa estrada

Cresceu quando do surgimento de cruzes às suas margens. 

Estes tamarineiros

Em resistências inabaláveis aos machados e serras elétricas

Não se curvaram à ganância do homem. 

Ainda hoje, essas árvores, quase centenárias

Fazem sombra para passeios demorados dos moradores. 

Visitantes vem desfrutar da sua beleza. 

Eu menino muito passou aqui de dia e de noite. 

Ganhou algum dinheiro na colheita de suas vagens.

Subia nos galhos e balançava para cair os frutos azedos. 

Eram vendidos para o Recife e lá viravam doces. 

Doce vida leva a população da minha vila 

Quando passeiam despreocupados embaixo das sombras.

E não sonha mais migrar para São Paulo!

 

 

 

 

 

 


terça-feira, 28 de julho de 2020

MEMORIAL DA GRUTA ONDE VIVIA A SANTA



Memorial da gruta onde vive a santa 

EU menino assistia

Católicos de fé arraigada com cruzes no espinhaço.

Subiam degraus até os pés da santa.

Nossa Senhora recebia os fiéis.

Prometia resolver seus problemas:

Mandar chuva depois de longa seca onde o agricultor plantava.

Renovava a esperança de ver a roça florida

E panelas cheias de tudo que a terra dá.

De olhar atento no sofrimento do sertanejo

A santa abençoava sua luta.  

O vale lá embaixo não ficava de fora.

A seca que dizimava toda flora

Fazia secar também o corpo do homem levando sua cruz.

Sua fé era inabalável.

Com chuva mandada pela santa, o sorriso do povo e do vale voltava.

Joelhos entrevados eram curados.

Pernas feridas eram saradas, ossos quebrados ligados.

Coração partido por uma paixão não correspondida, era acalentado.

A santa abençoava todos que a si chegava com fé na cura dos seus males.

A mim abençoou escafeder pra Sum Paulo!


segunda-feira, 27 de julho de 2020

MEMORIAL DA CASA DOS AVÓS MATERNOS



Memorial da casa dos avós maternos

Dessa casa de taipa

As lembranças arrefeçam de dentro d’EU menino. 

Meus avós maternos viveram nela até a morte. 

Aqui vinha passear com meus pais e irmãos nos fins de semana. 

A maior lembrança é das festas de casamento das tias. 

Esse terreiro ganhava dança, iluminação de candeias a gás e candeeiro. 

Lembro das facas entrando nos pescoços dos porcos e bodes. 

Galinhas, capotes e perus eram tratados com água fervente. 

Alimento em abundancia entrava pela goela de convidados. 

À noite, a sanfona, o triangulo, a zabumba

Faziam balançar corpos enamorados. 

Se o inverno do ano vindouro fosse de primeira

Mais casamentos com festança tava garantido. 

Meu Eu menino andava por todo canto desse pedaço de chão. 

Era curioso para descobrir cada palmo de terra cultivada aqui. 

Tinha medo de vaca braba quando a encontrava perdida do rebanho

E fazia barulho com o chocalho balançando.

Telengo tengo, Telengo tengo...

Me expulsou pra Sum Paulo!

 


domingo, 26 de julho de 2020

MEMORIAL DA PONTE DE TÁBUAS



Memorial da ponte de tábua

Essa estreita ponte nasceu ao momento da construção da rua 16, ao fundo. 
Liga a vila às outras áreas do perímetro. 
Teve um tempo que ela ficou sem as tábuas. 
Eu em menino usava os trilhos de ferro para atravessar ao sair do ginásio. 
Ia para minha casa que ficava na favela pé de serra. 
Eu era um menino equilibrista. 
Não cheguei a cair lá embaixo no leito do rio seco. 
Muitas crianças não tiveram a mesma sorte. 
Alimento bom para a memória, recebo como presente agora. 
De quando o rio enchia nas chuvas fortes em algum período. 
Pular dessa ponte e sair arrastado pela correnteza era uma festa. 
Câmeras de ar de caminhão e paus de bananeira
Dobravam a alegria dos meninos ao sair puxados pela correnteza. 
As nuvens se precipitando prolongava a alegria. 
Sertanejo muda muito de humor nas chuvas. 
É quando a alegria assume lugar da tristeza.
E deixa de migrar como retirante pra São Paulo.