quarta-feira, 26 de agosto de 2020

CANTO DE GUERRA

NASCI COM UM CANTO DE GUERRA ENTALADO NA GARGANTA
Escalei muralhas pra fugir das armadilhas do medo. Desde o sertão.
Sempre tive que usar meu corpo de aço embrutecido na juventude abusada.
Pra não deixar meu estômago chorar rachado na solidão por falta de alimento.
Era uma das muitas batalhas.
Naqueles anos de 1977 quando aqui na Sampa cheguei.
Como espectros via homens armados preparados na praça.
Os vultos gargalhavam em chacota às nossas lutas.
Pisavam endiabrados no sangue preto, pobre, nordestino.
Eram todos acavalados.
Estavam seguros pra fincar-se no trono da opressão.
Ao seu comando pobres trabalhadores eram vergados por balas de borracha e cassetetes.
Tempos difíceis.
A lição do manual pedia pra atirar. A eles.
Os velhos generais se apossaram do poder.
Eram hienas com sede de sangue, da carne dos operários.
Passar por cima da carta maior pra eles não era problema.
E do nosso corpo.
Experientes na forma de tratar a gente desempregada.
Com violência.
O topo da pirâmide sempre foi intocável.
O meio da pirâmide sempre foi boa em negociata.
A base da pirâmide nunca soube a quem recorrer.
Sobravam às ruas e praças pra se manifestar sem pedir arrego.
Só a união dos grandes guerreiros venceria a guerra.
Centenas, milhares, milhões.
Perdemos muitos do movimento nos dias de chumbo.
Não, não as mãos para o alto.
Gritava a multidão como massa compacta.
Sede de vingança.
Sentimento que nos alimenta desde que nascemos.
Preparem as armas.
O canto de guerra.
Ela está pra começar.
Mais uma vez!
Com esse desgoverno que nos desgoverna!!!

 

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