quarta-feira, 8 de julho de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA - O CINEMA E EU


AQUI TEM HISTÓRIA - MAIS 1 DO CINEMA E EU
Minha profissão de técnico eletricista de iluminação de cinema desde o início dos anos de1980, me fez ralar pra porra, hj se diz gaffer, partes de mim a profissão esmagou, engoliu e cuspiu, verdadeiro apagamento memorial, comecei na boca do cinema paulista, Rua do Triunfo, depois nas produtoras da Vila Madalena, fixo em produtora por um tempo em meados dos anos 80, depois frila, PJ, mais de 20 longas-metragens nas costas arranhada por refletores, cabos, tripés, documentários, curtas, reclames, institucionais, muitos, como trabalhei para o bem comum de todos e felicidade do diretor de fotografia,  profissional que requer nossa atenção no set, e também o que recebe as estatuetas nos festivais pelo mundo, além de diversos profissionais, é claro, quem é da área sabe que a equipe da “pesada” são os primeiros profissionais a chegar e os últimos a sair, não podem errar, as exigências são de escalpelar até os cabelos do saco, de tanto andar e servir cria-se ferida na virilha, com muitas horas de filmagem e correrias, hoje gravação, tchau película, em que,  todos, em uníssonos,  estão com o cu na reta, informo, não se podia reclamar da remuneração, hoje virou uma disputa entre vendilhões pra vê quem chega primeiro ser explorado pelos baixos cachês pagos e muitas horas trabalhadas, mais de trinta dias pro faturamento, os tempos são outros, fiquei velho, fui cancelado, mas tive paciência pra com ela criar meus filhos com suor, força e vontade de não vê-los passar necessidades básicas nem deixar a lança do abandono e a da falta de rumo entrar no peito deles nas ruas da quebrada da zona sul de Sampa, em certos momentos tinha a humilhação vinda de atitudes arrogantes do diretor/produtor e outros tantos, burgueses que achavam estar realizando uma obra prima filmando um reclame, pela família ter gastado 8 mil reais por mês (acho, hj)  e estudado na FAAP, diferente dos diretores de longa, conteúdo, são todos mais humanizados, não deixava barato, podia ser com quem fosse, até com dono de produtora, diretor e tudo o mais, usava meu estado emocional social e coletivo, esquecendo que tudo é político, pra defender a equipe, agindo assim, dei minhas cabeçadas incertas, pra mim corretas, na contribuição para fechar algumas portas, por isso estou e sempre estive com tempo para meus livros, voltar estudar, poetizar a vida,  grandes textos, pequenos, leitura e para escrever este post, tem males que vem pra bem, meu bem, diz um velho ditado popular.
A literatura e o cinema são linguagens que se abraçam, se beijam e transam fogosamente a qualquer momento, em qualquer lugar, para o bem comum do nascimento de novos rebentos da arte da linguagem e da imagem. 
Zé Sarmento

domingo, 5 de julho de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA – DE SOBREVIVÊNCIA E O CINEMA


AQUI TEM HISTÓRIA – DE SOBREVIVÊNCIA E O CINEMA
Hoje me peguei retrocedendo o juízo sobre minhas vivências profissionais com as equipes de cinema, logo no início da minha profissão no audiovisual. Do modo como algumas pessoas diziam, caçoando sobre o nordestino novinho que vinha tentar a vida aqui na metrópole paulistana, tipo minha figura baixinho, troncudo, pardo, de sobreviver aos tempos de seca braba comendo caças locais, caçadas embaixo de lajedos, nas veredas em meio a mata esturricada da caatinga sertaneja, nas pirambeiras das serras distantes de casa. Os profissionais mais gabaritados, espertos, diziam: vem cá, comedor de calango, me ajuda nisso ou naquilo! Engolia seco pra não entrar em conflito ou, às vezes, dava risada me segurando por dentro pra não explodir e confrontar o racista. Digo, não tinha muita noção de tudo que tenho hoje, das ondas nefastas do preconceito, do bulling, adquirido esses saberes com vivências e estudos e pesquisas e leitura. Quero dizer sim, racistas, as caças caiam fervilhando entrando pela boca, descendo para o estômago para encher as tripas, e praticava grande alegria pra quem estava prestes a desmaiar de fome. Como mistura era a salvação, sem noção sobre as culturas dos povos. Quando havia tempo de falta de quase tudo em casa, a salvação pro menino e os outros membros da grande família pra se alimentar, e ter como mistura, pra não ficar só no feijão e arroz e farinha, eram as caças. Saíamos envenenado pra cima delas nas veredas sertanejas caçando preá, peba, tatu, tamanduá, teiú, camaleão, gambá (essa caça, minha mãe tinha experiência em tratá-la bem, pra que ela não ficasse com o fedor do seu xixi na carne, nem aos derredores do oitão da tapera de taipa.
Das aves, quando as lagoas eram formadas nas cheias, os adultos iam com suas espingardas pra cima dos paturís, socós, galinhas d'água, (bacurau não, esse pássaro era muito escaldado e era ave presunçosa por saber se camuflar) codorna, codorniz, arribaçã, rolinha caldo de feijão, pássaro de arroz, esses caiam com os disparos das espingardas de socar. Para os cachorros era uma festa, pra nossa gente, substância nutritiva em proteína e melhorar o sabor do que engolia à seco.
Quando o inverno se segurava por meses, a produção de alimento nas roças de coivara, nos baixios, grotas e vazantes aliviava a aflição do sertanejo, era quando saia arrotando de bucho cheio. Fui um menino danado na enxada ajudando meu pai a preparar a terra, plantar, colher. Milho verde, feijão verde, (depois maduros e secos) jerimum, arroz, mandioca, gergelim. No final do inverno, quando este era de primeira e alegrava a vida sertaneja, algumas arrobas de algodão eram colhidos. Produto que branqueava os campos, e servia pra fazer algum dinheiro, e meu pai e mãe trocarem algumas redes velhas por novas. Nunca dava pra dá um banho de loja em nenhum dos filhos. Isso ocorria quando meu pai recebia alguns atrasados do DNOCS como funcionário operário padrão do sertão.