NossA BarcA ModernA
Hoje em dia
nossos escravos modernos são multirraciais.
Andam anestesiados
de cansaço, sentados ou em pé no busão
lotado cortando a cidade depois de um dia de luta.
Vai o busão
vomitando gente nos pontos com velocidade reduzida nas horas de pico no sufoco
diário.
Nosso busão
não é navio negreiro de fazer matar de fome, sede, açoite, peste. Só desassossego. Ânsia de ter tudo que vê o passageiro sonhando com as coisas iluminadas nas vitrines passando.
Nosso navio
anda girando roda nos trilhos, nas ruas e corredores, por diversos caminhos da metrópole.
Reta não é
sua meta para chegar e entregar os escravos às fábricas, aos serviços
essenciais, às filas de desempregados querendo uma vaga, ao SUS para tentar
escapar de morrer de supetão.
As enchentes de verão não deixa o busão atingir o alvo dentro do horário exigido pelo patrão.
Curvas
difíceis não assimiladas dificultam o trajeto da nossa barca abarrotada.
O sonho de
consumo faz os escravos da nossa barca, sorrir ou chorar, ao irem trabalhar,
quando uma porta ou elevador de serviço os deixam entrar.
Não têm
chicotadas nas costas roliças, nem magras de costelas aparentes, escorrendo sal do suor ou não da peia,
nossos escravos modernos são fofinhos, muitos criados a base do alimento importado nutela.
Nos pés
também não tem correntes entrelaçadas flagelando os movimentos.
Mas tem a
dinâmica da produção diária como meta para ser alcançada.
Corre nossa
barca entre ruas e avenidas, deixando gente feliz ou infeliz nos diversos
pontos de parada.
Infeliz quando
dá de cara com o salário no fim do mês! Tchau prestação do carro, moto, água, luz, gás, aluguel. Adeus restaurante uma vez por semana, se tudo não virar um inferno, uma vez por mês, tá tudo certo.
Feliz nas
baladas dos fins de semana. Bebaço, discutem conflitos pessoais, interpessoais, amorosos, efeito de terem encontrados e parados nas redes sociais para dar atenção as fakes news.
Os assuntos
históricos do Brasil, ou gerais, não sabem falar! Cansativo! O estudo que tiveram não
chegou a tanto nas universidades públicas ou privadas para torná-los cidadãos
críticos.
Nosso navio/busão
não é negreiro, é multirracial, corre no asfalto abrindo e fechando portas de
ponta a ponta na avenida da grande metrópole.
Vejo nossa
barcaça levando gente desacordada, cansada pelo excesso de viver pra sonhar e
lutar, e no fim da vida pouco ter pra uma aposentadoria ou enterro decente.
Nossos
escravos correm para encontrar seu arco Iris com pote de ouro maciço. Em pó não
pode ser...Não, não!
O vento está
sempre soprando para os ricos que tem como investir sempre mais, e logo levaria
seu ouro em pó para o espaço.
...E o que
nossos escravos multirraciais querem?
Ora! Emprego
que pague bem!...Mas isso o capital nacional e estrangeiro não podem pagar. A
cultura da inflação pode voltar.
Mas tem uma
coisa que nossos escravos modernos entendem e querem toda noite depois de um dia de luta. No fim do dia, num happy Hour
num boteco da Berrini, jogar pro beleléu os conflitos da carcaça física e mental, explorada
pelo mercado que não perdoa. DESEMPREGA... E NO FINAL DA VIDA. MATA!
Zé Sarmento