terça-feira, 11 de setembro de 2018

NossA BarcA ModernA


NossA BarcA ModernA
Hoje em dia nossos escravos modernos são multirraciais.
Andam anestesiados de cansaço, sentados ou em pé no  busão lotado cortando a cidade depois de um dia de luta.
Vai o busão vomitando gente nos pontos com velocidade reduzida nas horas de pico no sufoco diário.
Nosso busão não é navio negreiro de fazer matar de fome, sede, açoite, peste. Só desassossego. Ânsia de ter tudo que vê o passageiro sonhando com as coisas iluminadas nas vitrines passando.
Nosso navio anda girando roda nos trilhos, nas ruas e corredores, por diversos caminhos da metrópole.
Reta não é sua meta para chegar e entregar os escravos às fábricas, aos serviços essenciais, às filas de desempregados querendo uma vaga, ao SUS para tentar escapar de morrer de supetão. 
As enchentes de verão não deixa o busão atingir o alvo dentro do horário exigido pelo patrão.
Curvas difíceis não assimiladas dificultam o trajeto da nossa barca abarrotada.
O sonho de consumo faz os escravos da nossa barca, sorrir ou chorar, ao irem trabalhar, quando uma porta ou elevador de serviço os deixam entrar.
Não têm chicotadas nas costas roliças, nem magras de costelas aparentes, escorrendo sal do suor ou não da peia, nossos escravos modernos são fofinhos, muitos criados a base do alimento importado nutela.
Nos pés também não tem correntes entrelaçadas flagelando os movimentos.
Mas tem a dinâmica da produção diária como meta para ser alcançada.
Corre nossa barca entre ruas e avenidas, deixando gente feliz ou infeliz nos diversos pontos de parada.
Infeliz quando dá de cara com o salário no fim do mês! Tchau prestação do carro, moto,  água, luz, gás, aluguel. Adeus restaurante uma vez por semana, se tudo não virar um inferno, uma vez por mês, tá tudo certo.
Feliz nas baladas dos fins de semana. Bebaço, discutem conflitos pessoais, interpessoais, amorosos, efeito de terem encontrados e parados nas redes sociais para dar atenção as fakes news.
Os assuntos históricos do Brasil, ou gerais, não sabem falar! Cansativo! O estudo que tiveram não chegou a tanto nas universidades públicas ou privadas para torná-los cidadãos críticos.
Nosso navio/busão não é negreiro, é multirracial, corre no asfalto abrindo e fechando portas de ponta a ponta na avenida da grande metrópole.
Vejo nossa barcaça levando gente desacordada, cansada pelo excesso de viver pra sonhar e lutar, e no fim da vida pouco ter pra uma aposentadoria ou enterro decente.
Nossos escravos correm para encontrar seu arco Iris com pote de ouro maciço. Em pó não pode ser...Não, não!
O vento está sempre soprando para os ricos que tem como investir sempre mais, e logo levaria seu ouro em pó para o espaço.
...E o que nossos escravos multirraciais querem?
Ora! Emprego que pague bem!...Mas isso o capital nacional e estrangeiro não podem pagar. A cultura da inflação pode voltar.
Mas tem uma coisa que nossos escravos modernos entendem e querem toda noite depois de um dia de luta. No fim do dia, num happy Hour num boteco da Berrini, jogar pro beleléu os conflitos da carcaça física e mental, explorada pelo mercado que não perdoa. DESEMPREGA... E NO FINAL DA VIDA. MATA!
Zé Sarmento