sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Texto publicado no portal cronopios

20/06/2007 13:05:00
A crise de valores na sociedade contemporânea




Por José Marques Sarmento

Reflexão de um cão vira-lata, preso na jaula dos cachorros finos


Refletindo cá comigo, no meu canto de ser só meu, bom tempo meu que ninguém mete a mão, tempo de escritor, diria, porque sem esse tempo que é só nosso não há criação.
 
Nele sou mais eu cá com minhas dúvidas, minhas angústias, minhas alegrias. Quem tiver tempo de sobra que divida com que tem tempo sobrando. No tempo que é meu, eu me acho como a água encontra o mar. Uma vez ou outra a água do tempo meu, de estar em sobras múltiplas comigo mesmo, pode ser revolta, mas me seguro e peço que não passe a quem tem tempo livre também, a ira dos endemoninhados, dos que não sabem viver entubados na UTI dos valores contemporâneos.
Digo isso, mesmo sem conhecer direito o aparato das personalidades da maior parte dos cidadãos (não sou psicólogo) que, a mim parecem, e só a mim parecem, ter a “persona” de uma espécie de Macunaíma, desencardidos uns, encardidos outros, que tiveram a possibilidade de se branquear por meio dos conhecimentos de causas e efeitos e, que, amparados nas leis vigentes, se acham os mais enfeitados da pintura descolorada da delinqüência para se amparar sobre os pilares que sustenta a laje movediça da crise de valores.

Ora, tempo livre meu, me leva às letras, a aglutinação irreverente delas, para definir as frases, os períodos longos, dando-me uma forma de expressão, sem judiar a retórica contemporânea, mas descer a borduna nos nefastos que acham que os valores se esfriaram, e para os alimentar por esse tempo, o fizeram ir parar nos fornos aquecidos a mil graus de calor e se derreteram.

(Resolvi escrever sobre o tema levando o leitor a refletir também. ?E não é pra isso que serve a escrita, desde aquela vindo das cabeças mais acentuadas no dístico que as distingue como pedra preciosa de lava bem formada, à aquela que encena como representante também de um segmento social menos sedento de sabedoria e que se formou da pedra bruta como eu?)

Pois bem, os valores não estão mais em crise de ser ou não ser, pelo visto. Os valores já se entrincheiraram na desordem, por escutar que, o jeito e a ordem são se dar bem, não importando os meios pelos quais querem levar vantagem. Em crise e, achando que tudo pode, acharam um meio de se enfeitar para redigir o panorama atual do povo brasileiro, desde aquele mais simples cidadão vestido de comum andando pelas ruas fazendo negócios escusos, a aqueles que se fardaram num passado para receber o diploma universitário.

O saco de forte fibra de sisal ou algodão que antes levava a disposição da multiplicação dos pães para a excentricidade do caráter nacional, não mais distribui  caráter único, não, duplicado por mil  e ensacado por sacola de plástico barato se encontra desde muito, aja visto que todos estão mergulhados na defesa da honra e da hora exata de se dar bem, à saber bem mais, em vista dos escândalos que se renova a cada dia mostrados pela mídia que os desensaca,  deixando a olhos nus, e distribui gratuitamente a quem quiser se informar dos valores em crise.

Foi-se o tempo, em hora tão adiantada nas informações, do homem se deixar minimizar pelo largo corredor do pregresso e não querer vivê-lo de forma intensa, possuindo aquilo que a indústria o põe às vistas e o cega de informação para tocar no produto e dizer: é ele que eu quero, é dele que preciso (mesmo sem precisar). Quero só pela forma de dizer que consegui, nem que seja por vias ilegais, mas eu preciso. Quero ser dono da usura, imperador da fortaleza que me cerca, quero ser o capanga que resguarda a suntuosa indústria psíquica interna que acho que devo possuir.

Assim não há quem queira caminhar pelas vias legais até o altar da cidadania plena, desde os bem informados, aos maus. Pelo menos um deslize, se não deu até agora, vai chegar a dar o cidadão de hoje para se compor da sabedoria e do poder de conseguir regurgitar pelos cantos da boca a baba da avareza.

São valores impetuosos perseguidos pelos colarinhos brancos/azul/anil, dizendo que ama o Brasil, mas que vão se divertir fora levando os malotes captados das repartições públicas. Numerários vastos adquiridos a vista de grossa e engenhosa corrupção.

Assim acontecendo, há o ensinamento para quem já aprendeu na graduação, chegando a fazer a pós, há o ensinamento a quem quer aprender fazendo o curso superior, há o ensinamento a quem não nasceu para aprender em poucos dias, por só ter feito o ensino médio, e haverá o ensinamento  a quem não vai aprender nunca, por ter ido só até o ensino fundamental então, por essa razão, se masturbam de subserviência suficiente para tentar mamar na teta daquele que se fez como homem dono do alheio. Esse é um dos piores na crise, porque se deixa levar por pouca prerrogativa e assistencialismo.

Todos, ou quase, estão e estarão à disposição de mudança de caráter e com as mãos coçando para se enturmar com quem tem o poder de demanda de fazer-lhe um cliente do desmando. (Sem esse aprendizado passado pelo mau-caratismo brasileiro, não há solução para o enriquecimento, para os louros da vitória e a participação na renda do tesouro nacional).

Visão caótica, sei que é essa, de ceticismo a dar com pau no cangote de um mal-feitor, mas não posso fugir para nenhum lugar do cantinho da mente sem que veja no cidadão atual, a acidez da crise cruel de ser ou não ser, vou ou não vou. Escuto a conversa no repouso que requer o meu ouvido, por todos os cantos imagino que seja essa a conversa, infelizmente da maioria. Vamos, cara, entrar nessa, tem tanta gente se dando bem. Vamo que vai dar certo. ...E se formos pegos? Esquece, com o que conseguirmos, compramos nossa liberdade, o nosso repousa estará garantido pelos seqüentes anos, e outra... nunca mais nos acharão sem estarmos com os cálculos da fuga engendrada. No máximo, por aqui, vamos puxar um mês, dois. Parece que não conhece o judiciário do nosso país, as delegacias distritais, a polícia. Parece que não conhece o homem atual, estudado, alfabetizado, formado em letras, em medicina, engenharia, administração, parece que não conhece o pedreiro, o padeiro, a parteira, todos precisam do papel que faz vislumbrar a quem estar vivo sonhar. Por dinheiro é tudo e nada mais!

Espero que me entendam, quem anda alegre ou entristecido com a crise de valores. Primeiro, nesse cara, tem que ir pondo com vaselina, mais a frente com cuspe, manteiga é muito cara, depois um cuspezinho não vai mal, cuspe é de graça, quase no final, será  apresentado a pasta ”nada”, isto é, temos que lhe por à cru, e no ”The End”, irá ser  recebido com um punhado de areia.

Cuidado cidadão moderno que quer se elevar de sabedoria para passar a perna naqueles coitados que vendem confete por aí em meio à folia de carnaval fora de hora para sobreviver, você merece ser “tarado” com despudor.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012