sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

É OSSO

Meus ossos de uma hora pra outra começaram a se rebelar com a minha presença sempre exigindo deles mais esforço  pra chegar em algum lugar de difícil alcance.
Quando das minhas corridas malucas pra perder peso, teve uma hora que empacaram, me fizeram estancar de supetão por se amolecerem por entre minhas carnes me dizendo que não saísse do lugar.
Disseram: isso não é vida, companheiro de luta, irmão das mesmas angústias, somos sangue do mesmo sangue, filhos do mesmo DNA, temos que entrar num acordo, precisamos ser cuidados com mais zelo pra durar igual vai durar toda estrutura mole do seu corpo.
Noutras corridas pra chegar primeiro nas oportunidades que apareciam, meus ossos também se fizeram amolecer, se revoltando. De uns tempos pra cá andam me avisando: segura a onde meu irmão, o que você engole, a nós chega também.
            Meus ossos querem me fazer retrair na corrida  para se colocar pra tentar as coisas boas que a vida tem pra dar.
Toda vez que meus ossos acham que excedo para o plantio de algum feito que acho razoável pra me colocar  perante a sociedade, eles me deixam no chão sem poder levantar.
Quando estou ávido para chegar correndo feito um tantã em algum lugar, muitas vezes meus ossos dizem que esqueço de que ter uma vida saudável é melhor, pois, com o tempo, outros elementos que formam o corpo humano, que participam dos mesmos eventos, logo estarão pedindo arrego.
Quando ocorre de se revoltar, meus ossos acabam amolecendo, se tornando uma espécie de borracha que não quebra quando enverga, mas me retira às forças para que o meu corpo não chegue aonde quero. Nessas ocasiões acabo ficando puto com os meus ossos, quando me ponho a me arrastar  no lugar que me encontro clamando a eles que tornem a endurecer, foi pra isso que os milhares de séculos existiram, para formar o ser humano como é hoje, com ossos obedientes e equilibrados.
Dizem: meu irmão, tamos agindo com você desse modo pra segurar sua onda, sua loucura de querer estar em todo lugar se desgastando de forma a nos deixar com menos tempo de vida. Somos tua parte mais dura como elemento de sustentação do teu corpo, mas não somos donos da sua mente, de seus desejos, por causa disso, usamos da artimanha e do poder que temos, que pra nós é sabedoria, de te segurar, quando passamos a ficar  mole nas tuas junções e armadura esquelética. Se ficando mole, levando você a cair e se arrastar, não conseguimos o deixar parado por muito, imagine se não usássemos dessa arte de amolecer. Somos ossos sábios, entendemos com o passador do tempo que só amolecendo  por dentro pra lhe fazer entender que tem hora que as paradas às reflexões são necessárias, com isso conseguimos te parar por fora.
Acho que meus ossos têm muito ciúme das minhas correrias e buscas e sonhos e realizações. Querem me fazer de João bobo, marionete, têm ciúmes das noitadas franqueadas quando estou de caso amoroso com uma mulher que eles não acham gostosa ou não vão com sua cara. Acho que meus ossos acham que quem tem que gozar são eles. Até já se meteram com o meu pau, dizendo a ele que fizesse e agisse como eles agem, amolecesse também nas horas que não comungasse das mesmas idéias e desejos, nas horas das felicidades estremadas. Essas situações na vida das pessoas são um pecado para a vida que se quer levar até os noventa anos, dizem eles. Apesar do meu pau não ter osso, uma vez ou outra quer acompanhar as ideais dos meus ossos. Parece um pinto sem caráter, vai pela conversa dos outros mesmo sabendo que mais tarde pagará  alto preço pelas bobagem que fez.
Tem uma coisa estranha na minha relação com os meus ossos. Parece que eles não me querem ver feliz. Quando rio,  já sinto por dentro do corpo um comichão, são meus ossos agindo pra me fazer retrair e se tornar mais comedido. Outro dia tava com amigos farreando, quando na hora do desfecho do prazer  inigualável, me fizeram arriar e ficar estatelado sem poder sair do lugar. Tudo amoleceu. Meus amigos ficaram sem saber o que fazer, foi quando tive que acalmá-los, dizendo que com os meus ossos eu me entendia. Daí a pouco fiquei triste, foi quando voltaram a endurecer, mais daí a farra acabou, perdi a graça e a calma, senti vontade de pegar uma furadeira, uma serra copo,  esmerilhadeira, moto serra e cortar meus ossos em pedaços minúsculos pra nunca mais fazer feio quando das alegrias.
Como  grande  parte dos elementos do meu corpo também é mole, e ser meus ossos que formam a minha estrutura firme feito rocha, nessas horas fico sem ter como me movimentar. Acabo me comedindo pra que eles acabem com a greve que fazem pra com a minha pessoa.
Acho que meus ossos têm muita inveja de mim. Por que sou uma pessoa solta, sem vínculo psicótico com nada, sem apego, livre, leve e solto no pasto feito um  potro em busca de ração que lhe aqueça o estomago e a alma. Inveja é uma pedra que se atira na direção de quem não se gosta, mas quem recebe não sabe de que direção partiu, isto é, quando não se conhece quem é o invejoso, mas no caso dos meus ossos, não, eu os conheço, afinal nascemos juntos, somos do mesmo espaço, ocupamos a mesma estrutura, vamos no mesmo conjunto pra todo lado, não tinham porque ter inveja de mim, já que aonde vou os levo.

Em varias situações meus ossos me deixam nervoso, é quando se acham o sabichão, e eu o bobão, se acham o Doutor Honoris Causa da sabedoria. Enche o saco: para de beber álcool, toma cálcio, come tal fruta com tal letra, você quer que eu morra antes de você pra ficar por aí gandaiando pelas noites com mulheres,  poesias, se empatufando de proteína animal, criando calo na barriga, desgastando os órgãos internos ingerindo o que não presta como alimento. Respeita Zé! Sou teu e você é meu!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

NOVOS TEMPOS

Minha alma burlesca,
está pronta para mais um lance destemido:
subir no topo da  montanha e assistir as almas impuras
se matando para se colocar diante as derrocadas de uma sociedade insana.
Começarei a rir daquele que corre atrás de um filho da puta de um patrão
que o despediu e o faliu: quer tirar-lhe a vida.
No alto da montanha com o vento úmido soprando meu rosto,
vejo o quanto as almas impuras se matam
para dar de cara com o prazer de ter um bem que se quer
sem ter condição de levar com ele para o túmulo.
Do alto da montanha estarei  rindo das mortes insanas,
da luta de uns por um pão dormido,
um pedaço de carne no lixo.
Quem chegará primeiro ao filé Mignone de carne humana
que frita sobre chapa quente de um restaurante chic?
Viraram inimigos na luta por um prato de comida e um pouco de droga.
Andam perdidos sem saber para onde ir
os que se perderam cheirando tubos de cocaína.
Pedaços de carnes serão rasgados com dentadas chorosas e raivosas.
Jovens  nos quartos dos castelo se masturbam assistindo um filme pornô,
cercado  e guardado por seguranças de preto.
Coroas ricos estupram meninas e meninos filhos da pobreza
por um bocado de notas de dólares.
Seu dinheiro compra juízes e cadeias com ar condicionado.
Sabor de horror e dor assistirei
Cagando de rir
quando no meu rosto de alma solta e leve
o vento parar de soprar levando a brisa da noite para outro lugar.
Darei minha última gargalhada ao ver os corpos se estragando
comidos pelos corvos que saíram das almas nobres.
Do alto da montanha,  me regalo assistindo a desordem na ordem do dia.
Milhares de miseráveis que se deixou levar
Parando de  se alimentar daquilo que a terra produz
Pra se encheram de drogas que os sustentam a mente, não o corpo.
As almas desses já não mais se encontram em cada um,
fugiram por não suportar conviver ao lado de quem viu nascer
e se perder por não suportar conviver pela  ordem do dia.

Zé Sarmento

sábado, 9 de novembro de 2013

UM VELHO SAFADO




Conto safado, um tanto escatológico, nelsonrodrigueano
  
Há um tempo onde tudo termina,  não é? Ah, se não é!
Animais racionais como nós, por mais que o corpo perca a condição do que foi feito para fazer, resistir e sentir,  massa craniana é componente ainda sem reposição por parte da medicina.
O velho Laza, chamado assim pelos mais íntimos nos negócios que empreendia, Lazinho pelas mulheres, pelos inimigos de concorrência profissional filho da puta de quinta grandeza, foi coroa muito esperto. Ao longo da vida pôs muita lucidez peculiar para qualquer situação na massa encefálica, que se não fosse pela doença, estaria fazendo e acontecendo.
Mal que o pegou de uma hora pra outra e o pôs sobre a cama, encontrando apenas condição de se  mexer um pouco aqui, ali, por não encontrar condição de se locomover com maior ou menor velocidade. Movimentos bruscos por parte de algum membro exterior eram acontecimentos do passado, perdidos há pouco pelo coração ter dado um basta ao bombear sangue importante para as regiões que precisam ser visitadas.
Viveu muito o coroa Laza, o quase morto já, o que espera a vela acessa diante a morte que não tarda levando os últimos suspiros e ser puxado para o andar de cima pela luz encarnada das trevas que ninguém em sã consciência quer  ver.
De todos os fatos que passaram pela vida agitada que levou o acamado Laza, o que mais  marcou foram àqueles relacionados às mulheres.
Vixe Maria! Eh mulheres luminosas que me encantou com a formosura, com os declives e aclives do corpo e com as sutilezas dos lábios que ferviam enquanto a quentura do corpo fazia esticar os dias sem serem por arrasto. Descortinavam com prazer as auroras, muitas vezes eram curtos para tantos encontros de negócios e amores.
Muitas delas passaram pelo seu desempenho de bom amante.
Foi homem fogoso em tempos idos, tempos que só estão guardados na velha lacuna cerebral, escondido por entre encadeamento de tecido que um dia fora regado com mais vivacidade, mas que, por esses dias, anda desencorajado pelo escasso bombear de sangue. 
Andando pelo glorioso passado de homem de posses, com poder para fazer e desfazer a qualquer hora, foi muito visitado por diversas delas, desde louras a morenas, de japonesas a africanas. Gostava de experimentar todas as raças e teve com isso de conviver com a esposa que nunca veio  descobrir se era verdade ou não o que falavam nas rodas sociais a esse respeito, ou se fazia de desentendida, para não pôr a perder a firma. Achava que casamento é uma firma aberta a dois e que tinha que durar até o fim ou até deixar de dar lucro, como decorriam bons lucros financeiros na relação, na certa se fazia de desentendida.
 Laza sente que ainda está vivo quando saem dos pensamentos os acontecimentos surreais pelos quais passou em convívio com as moças trepadeiras.
Viveu intensamente o coroa, mas por esse tempo de en-treva-mento dos órgãos, menos do cérebro por ainda encontrar nele o refugio para se dizer vivo.
Essas horas quem o cuida divisa com um sorriso tímido. Hora dos sonhos sobre viagens pelo corpo das moças que conseguiu possuir até onde pode, dá  satisfação, vindo a calhar de ser endereçada as carnes dos lábios.
Nunca deixou de trabalhar para quase todo dia ter uma mulher diferente da matriz na cama. Encontrava muito fácil essas mulheres. Com o poder que tinha, muitas ficaram esperando namorar-lhe, e envelheceram, assim como ele, com a esperança de um dia fazer exercer o desejo de se deitar, se deitar não para dormir, mas para foder.
Sonhando como sonhava nas horas propícias dos dias viajando ao passado, tinha momentos que verbalizava palavras de entusiasmo para com as moças que se atiraram um dia sobre seu corpo.
Aí meu bem, aí é bom, como você trabalha bem, você é a melhor que eu já tive.
A mulher do momento se entusiasmava e lhe dava o que ele mais gostava que elas fizessem.
Tempos bons que se foram voltava tão só nas viagens que a cabeça ainda conseguia passagem gratuita para fazer, não tinha que forçar nada para viajar a esses desempenhos dos pensamentos.
O bilhete para essas viagens, o cartão de crédito para pagá-las, o chek-in no balcão dos últimos dias, sempre surgia quando era levado  pensar nelas sem deixar de dizer que os muitos psicotrópicos que engoliam contribuíam para melhorá-las.
As mulheres para o coroa sempre foi algo muito superior às outras coisas, a bens matérias. Elas sempre exerceram fascínio nas suas atitudes de bom amante, bem dizendo, aquelas mulheres que do corpo, as deusas mitológicas saem perdendo, aquelas que do rosto Monaliza de Leonardo da Vince, passa ao largo, aquelas que dos movimentos, nem Sônia Braga ganharia no filme a dama do lotação, nem Vera Ficher nas chanchadas do Walter Hugo Kouri.
Deitado com o costado no colchão, esticado esperando a visita de quem nunca falhou, encontrava lá no fundo d’alma quase vivaldina para subir pro céu ou descer pro inferno, o benefício que exerce quem ainda respira ares de sobre vida em possuí-lo, os pensamentos.
Numa dessas ocasiões, recebendo visita de parentes, foram ater-se com ele e pegar-lhe na mão duas meninas bem jovens, mas que sabe de tudo sobre os tempos de hoje, meninas  que, como as amantes do incapacitado moribundo, sabiam tirar dos rapazes de mesma idade nos banheiros das festas regadas a droga e hock end roll, nas festas rave servidas a comprimidos êxtase, complemento a satisfação de ser alegre e viver de acordo com o bom momento de ser jovem.
Saindo às outras visitas, acharam por bem fazer um estudo mais profundo com o quase morto e começaram por alisar-lhe as mãos.
Não satisfeitas em pegar só nas mãos do moribundo, resolveram que era hora de também morder-lhes os pés, as coxas, e lamber o peito que batia descompassado coração.
As duas sabiam fazer crer a quem por elas passavam no serviço da satisfação  ao prazer da carne, que levantavam até defunto.
A muito, o moribundo sem abrir por completo os olhos, bater as pestanas e movimentar o corpo com maior alusão aos movimentos, nessa hora fez e pode ver as duas. Acendeu muito os olhos vindo às pupilas quase cair fora da caixa. Pelo que mexiam dele e pelo que pode distinguir,  descobriu que podia mexer com maior intensidade as pernas, esticar-se, rejuvenescer-se.
Esticou o esqueleto,  retesou até onde pode nessa hora.As juntas estalaram, as duas riram e se divertiram, por achar que estavam recuperando o quase morto.
Continuando buliçosas, descobriram que estavam fazendo um bem dos diabos, mandando embora daquela casa, daquele leito, a dona da foice que corta quem está em pé, deitado ou sentado e manda para debaixo da terra ou para o forno.
Enquanto  as visitas não apareciam no quarto, conversavam na sala em discussão para quem ia o quê depois que o velho juntasse os pés, as duas faziam o doente reviver outrora, dando ao momento, pleno júbilo ao renascimento.
Mordendo joelhos, passando línguas pelos peitos, visitaram quase todo o corpo do velho enfartado, quando uma se interessou em pegar uma das mãos que se sentia revivida e ajudou a ser levada as suas partes  pubianas. A outra com os pés dava a mesma sina, o esfregando nos seios de si.
Meninas danadas. Eram estudantes de medicina, prostitutas ou simplesmente estavam tentando ajudar a quem precisava? Tinham o coração para fazerem parte de alguma entidade assistencialista, ou deveras queriam ver o coroa morrer feliz e a elas fazendo-as gozar?
Talvez não fosse nem uma coisa nem outra, talvez fossem simplesmente duas taradas, que não encontrando hoje gente diferente para fazer o que estavam fazendo, foram encontrar no velho doente, amparo para suas taras e novas descobertas, uma vez que só tinham agido dessa forma com pessoas de mesma idade.
Usando-as de tudo que puderam em relação a fazer com o doente aquilo que  deviam ter muita experiência em fazer com os rapazes nos banheiros da escola, no carro ou num motel, levaram-no a reviver um passado cheio de gloria sobre as mulheres.
Só não acreditaram que o doente fosse se levantar da cama num só salto, agindo assim, lhe caíram às cobertas. Viram que ficou de pé repentinamente e se descobriu uma criança vindo ao mundo.
Assustaram-se com o membro do doente enrijecido, trazendo o corpo numa tremura de entenderem que estava baixando um santo, dizendo aos quatro ventos que ia morrer satisfeito por elas terem surgido naquela hora no quarto e o levado a perseguir  horizontes de um passado cheio de glória.
Venham meninas, estou pronto pra morrer nos braços de vocês, façam esse favor  a quem desse dia não passa. Dizendo isso com voz trêmula, caiu com parte do corpo na cama, parte no piso, duro como estava, acabou de ficar para sempre.
Correram para a sala as duas, e informaram que o homem tinha se levantado sem nada mais nada menos e caído novamente, dessa vez sem se mexer.
No quarto encontraram o doente ao chão, com o corpo descoberto e o membro para cima ainda em estado de alerta, tão duro quanto os outros membros.
Nada  como boa química para dar vida a quem está morrendo, quando em excesso retirar de vez. 


Zé Sarmento

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

LÍTEROPALESTRA DE ZÉ SARMENTO EM CEU PARAISÓPOLIS



Arrebatador!!!! Palavra sensata para a líteropalestra no CEU Paraisópolis ontem a noite.
Nuca tinha visto tanta gente com os olhos brilhando, estudantes da EJA, do ensino fundamental, escutando este escritor falar das suas dificuldades desde criança, dos seus livros, da forma de escrever, de que leitura o salvou e pode salvar todos eles do castigo que é ser ignorante.Mais de 150 aluno para ouvir e ver o lançamento de Ângela-um jardim no vermelho e a líteropalestra.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O 'ser' POETA

O ‘SER’ POETA
Ser poeta é andar na corda bamba 
É segurar a vida por um fio de esperança
É andar feito itinerante sem pensar no amanhã.
Ser poeta é viver a margem 
Olhando a natureza e sua beleza 
Escutando os sons da natureza 
Mesmo que esta tenha na entranha de si
Partes que o homem destruiu.
Ser poeta é ser andarilho
Sem pousada para pernoitar
É sair em busca do amor de uma mulher carente
Que lhe dê vida sem reticências
E a faça continuar sua peleja de versejador.
Ser poeta é tentar fazer do fogo que lhe queima
Água que lhe acalma
Trazer do sofrimento
A paixão pela palavra.
É alimentar sem demandar em dívida
A alma que está sempre cheia de vida.
Ser poeta nos tempos da pós-modernidade não é fácil
Mas para o verdadeiro poeta
Poesia é luz que sai das entranhas da mãe terra
Feito fogo fátuo de um poeta morto numa batalha
Esta vida louca inspira ao poeta continuar
Muitas vezes sobre o mar revolto do seu levante
Ou pelas estradas distantes da realidade
Mas sempre em busca de uma revolução armada
Para dar suporte à sua criação literária
Que sem ela
A vida não teria sentido.
A poesia na cabeça do poeta está sempre alerta
Louca para dar a luz a uma nova estrofe
Um trocadilho.
Do popular ao clássico
A poesia requer um quarto para dormir
Para no outro dia
Ela e o poeta se acharem
E tentar esquecer a fúria que passou durante o dia.
Viva o poeta de qualquer natureza
O que declama
O que reclama
O que escama
O que embola
O que vive de esmola
O que muito namora e quer o máximo viver.
Estes são pessoas/poetas
Que andam na corda bamba e com a emoção a mil
Querendo a cor azul do céu de anil
Para cobrir o seu viver na paz.
Zé Sarmento

Palestra e lançamento do livro Ângela



Fotos de palestra no Jardim Ângela, onde conversei com estudantes de uma escola pública estadual que fica bem perto do CEU Guarapiranga. Foram duas turmas que pararam pra me escutar, uma às 10h, do ensino médio, outra às 14, do ensino fundamental final. Grato aos professores, ao Abraão Antunes-Silva, bibliotecário e bem mais aos alunos que foram só ouvidos às minhas palavras, que trás embutida dentro do meu ser uma vontade danada de fazê-los entender que a esperança está na frequência às aulas, nos estudos e no interesse do crescimento interior, intelectual e não se deixar levar pelas facilidade que a perifa apresenta.Valeu!

domingo, 6 de outubro de 2013

LUGARES SAGRADOS DE LANÇAMENTO DE ÂNGELA










12/08- BINHO – JÁ ERA
21/08- COOPERIFA-JÁ ERA
07/09 –CASA DAS ROSAS - SARAU A PLENOS PULMÕES -JÁ ERA
10/09 - CEU CANTOS AMANHECER -JÁ ERA
21/09 - BIBLIOTECA PQ. SANTO DIAS -JÁ ERA
24/09 - SARAU LAMPARINA BIBLIOTECA MONTEIRO LOBATO -JÁ ERA
26/09 - CEU CAPÃO REDONDO -JÁ ERA
28/09 - SARAU MESQUITEIROS -JÁ ERA
08/10 - CEU PARAISÓPOLIS
10/10 - ELO DA CORRENTE
22/10 - CEU GUARAPIRANGA (ÂNGELA)
ENSAIÇO - FALTA CONFIRMAR DATA
LIVRARIA SUBURBANO - FALTA CONFIRMAR DATA
CEU Campo Limpo confirmar.
Etec Carandiru na escola de arte, em novembro.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Lançamentos ÂNGELA-um Jardim no Vermelho

Foto posada do lançamento do livro ÂNGELA - Um Jardim no Vermelho na Cooperifa.
Já teve lançamento no sarau do Binho.
12/08- BINHO – JÁ ERA
21/08- COOPERIFA-JÁ ERA
07/09 –CASA DAS ROSAS - SARAU A PLENOS PULMÕES -JÁ ERA
10/09 - CEU CANTOS AMANHECER -JÁ ERA
21/09 - BIBLIOTECA PQ. SANTO DIAS
24/09 - SARAU LAMPARINA BIBLIOTECA MONTEIRO LOBATO
26/09 - CEU CAPÃO REDONDO
28/09 - SARAU MESQUITEIROS



08/10 - CEU PARAISÓPOLIS
10/10 - ELO DA CORRENTE
22/10 - CEU GUARAPIRANGA (ÂNGELA)

ENSAIÇO - FALTA CONFIRMAR DATA
LIVRARIA SUBURBANO - FALTA CONFIRMAR DATA
CEU Campo Limpo a confirmar.
Etec Carandiru na escola de arte, em novembro.
Mesquiteiros falta confirmar data.

sábado, 3 de agosto de 2013

CONDUÇÃO DO SOFRIMENTO

Outro dia fui ao centro da cidade de buzão, aquele grandão que foi feito pra corredor que não tem pra onde correr nem como correr. –Toda vez que preciso me deslocar até o centro sem ser em horário de pico pego condução. Só vou com a Elba 96 quando é pra trabalho, por não ter horário de acabar os “reclames” nos estúdios da cidade ou locações.
Os corredores foram feitos pra, de repente, os ônibus chegarem primeiro que os carros, mas isso não. Os carros, mesmo em engarrafamento chegam primeiro. Às vezes eles até passam o engarrafamento, mas num piscar de olhos, os carros passam os ônibus.90% dos carros andam com uma pessoa, o motorista, horário de trabalho, dia útil, né. Dentro do ônibus me senti muito constrangido. Sentado por tê-lo pego no ponto inicial. Do centro até o bairro, vice e versa. No horário  das 11h foi calmo indo pro centro, mas na volta, às 3,4h, tudo muda pra pior. Observando do meu canto, vi como as pessoas sofrem andando de buzão, e muito mais por terem que enfrentar essa porra todo dia da sua vida trabalhosa. Percebi que a maioria dos passageiros desse horário é mulher com ar de muito cansada, carregando sacolas e suas bolsas, enfrentam dificuldades pra andar no corredor e passar pela roleta, bem mais dificuldade quando entram algumas atendendo celular. Bolsa, sacola e a mão ocupada com o celular no ouvido, a dificuldade aumenta. Tava doido pra dá o lugar pra alguém, (pelas minhas pernas estarem doendo, e pelo constrangimento  de estar sentado, homem, e tanta mulher em pé). O assento era muito colado um no outro, alguém alemaozão iria sofrer bem mais que eu.Do meu lado se sentou uma mulher, que pela maneira de ser e o cansaço que deflagrava no rosto, devia ter acordado, no  mínimo, às cinco da manhã. Todas ( a maioria era de mulher) com os mesmos cansaços, vendendo essa fisionomia na forma de estar, olhando o tempo ao derredor e sentir por dentro, certa angústia pelo ônibus nunca chagar ao seu destino e não ter assento pra todos.Cada parada num ponto, pelo menos pra mim, era uma eternidade, dali a pouco tinha que parar outra vez, pelos semáforos que fechavam. Ao meu lado a senhora  puxou uma arma, mas pra atirar,ela puxou outra, o óculos, abriu o tambor e colocou a munição a certa distancia das vistas pra poder enxergar. Abriu um livro que de soslaio eu li o nome do autor, Trish Willy, “sopro de esperança” era o título. Espero que esse livro consiga lhe dá uma luz e ela resolva os seus problemas e que tudo se resolva em sua vida.Na certa com a leitura ela vai se dá melhor que as demais que estavam ali apenas olhando as ruas. Foi à única que eu vi assaltar da própria bolsa um livro. Tava procurando alguém pra dar o lugar,mas olhando em volta, pensei, como eu ia ser correto se era tantas mulheres cansadas, desgastadas pelos seus trabalhos de diaristas? Estaria sendo injusto com as outras, e talvez passasse desconfiança de que estivesse tentando paquerar agradando uma delas. Na minha timidez, nessas situações, por dentro disse-me que quando chegasse no terminal ia abordar a mulher da leitura e dá-lhe um livro meu de presente, talvez ela não conseguisse ler até fim, por ser outro tipo de literatura, mas enfim faria boa ação e minha parte pra melhorar a auto-estema da sociedade.Não o fiz, ela desceu antes e como sou muito fechado nessas situações não a abordei ao momento de estamos de corpos quase colados, cada um em sua cadeira. O aperto entre duas pessoas como eu e ela é tão estranho pra mim, que às vezes tinha vontade de me coçar em alguma parte, mas segurava, pra não me mexer tanto e tocá-la. Segurava-me pensando noutras coisas, meus personagens, por exemplo, que são todos vindos de classe como a que anda todo dia de ônibus. Mulheres guerreiras essas da nossa pulação, que depois de certa idade têm que trabalhar pra tentar se firmar levando parte do sustento pra casa, e muitas delas são  provedoras do lar. Acordam tão cedo, trabalham por aí usando o corpo e mente, ou só um ou só outro e ainda têm que enfrentar condução  tão ruim. Que pena que os nossos políticos não precisem de condução pública pra ir trabalhar, pra sentir na pele o que é o transporte que eles oferecem a população. Sentir na própria carne nada mais é que sentir pelos outros. Acho que todo cidadão tinha que passar um dia por alguma dificuldade, mais os políticos e uma elite arrogante acostumada com as benesses oferecidas pelas fortunas que acumularam, pra poder ter o discernimento de saber entender o outro com mais finura e humanidade.

Zé Sarmento

sexta-feira, 19 de julho de 2013

MORTE NA CASA DAS ROSAS


O arquiteto Arthur Azevedo Vivia com ódio saltando pelas ventas
Atirando tufo de fogo pra todo lado
Por ver de onde estava - no céu ou no inferno
Que sua mansão tinha se transformado 
Num harém pra prostituir a arte.
Não gostava do que via ser representado sem inibição
Pelos artistas filhos da elite paulistana.
Achava que as obras dum passado que ali frequentavam 
Era arte criada sem conexão com a realidade dos tempos.
Tempo de uma sociedade periférica que grita por mudança social.
Para dar andamento ao que se propôs fazer
Surgiu do jardim em penumbra
Entrando pela porta principal com uma faca em riste
E num ínfimo andamento em que um autor lia seu texto
Gesticulando pra todos os cantos e pra todos os ventos
Babando no papel da sua criação
Levou a lamina para rasgar sua carne de primeira
Indo direto ao coração.
Pulando com pressa para outro autor
Chegou a tempo de encontrá-lo ainda pelo meio do poema
Quando o fez sangra pela altura do abdômen.
Um grito de horror se ouviu pelo casarão
E por toda Avenida Paulista
Vindo se despregar das paredes
Algumas pinturas de grandes artistas do passado.
Medo de serem confundidos com autores contemporâneos.
Arrastando a lâmina... tripas saíram deixando o oca a barriga.
Grande quadro acha que criou fazendo aquele intestino
Se expor como um pintura barroca.
Depressa foi a outra sala com o povo indo atrás
Achando ser uma peça encenada com maestria de veracidade.
Encurralado ficou sem ação outro canastrão da arte contemporânea elitista.
Os presentes davam ao momento, movimento de êxtase.
Outros artista correram em busca de proteção prendendo no peito sua ultima criação.
Na fuga acabaram visitando algumas salas
Destruindo instalações de artistas
Que gritavam com as mãos na cabeça.
Não destrua minha arte!! Não destrua minha arte!!!
Destruída a arte dos que não tem muito a dizer
Foi morto o último perseguido com uma facada nas costas.
A plateia começou a aplaudir a encenação
Mas ao mesmo tempo começaram a fugir quando a ficha caiu
Pelo surgimento de grande aparato policial.
Desse dia em diante
A Casa das Rosas nunca mais foi à mesma.
Teve que abrir as postas para toda sociedade
Que cria sua arte e quer expô-la sem descriminação.
Quem tem muito o que dizer como os autores periféricos
Acabaram se beneficiando com diversos Saraus.
Zé Sarmento

sábado, 15 de junho de 2013

COMIDA PRA HISTÓRIA


Essa semana
Várias cidades do Brasil
Prepararam pratos cheios pra história.
Teve muita gente que comeu amando ou odiando.
Tinha pratos com cheiro e sabor de pólvora
Pratos que eram atirados e propagavam  gás lacrimogênio
Pratos que produziam caganeira pelo defeito moral que espalhavam
Pratos que vinham armados aos mandos de cassetetes
Amparados pelos escudos balísticos da polícia.
Eram pratos servidos a quem brigavam pra se alimentar
Das coisas que o país produz
Arremessados de botinas
De boca de fuzis que disparam ervas daninha
Que não chegam com prazer  a nossa boca.
Eram Pratos servidos por garçons  vestidos de cinza
Paramentados de cinturão carregando arma pesada.
As máscaras refletiam  o amor pela comida a uns
Ódios a outros.
Nessa briga de gato e rato
Com tempero Spray sabor de pimenta
Quem seu deu bem e se alimentou muito
Quem se fartou  pra valer até o cu estourar
Foi à panela da mídia
Que estava fervendo em fogo brando
Cozinhando em banho Maria
Esperando pra que lado ir
Levando sua  colher pra pegar o melhor pedaço
Das carnes das pessoas ensanguentadas e abatidas.
Zé Sarmento

sexta-feira, 14 de junho de 2013

JURO


Juro
Juro que tentei ser um monte de mim mesmo.
Infelizmente sou uma pessoa que só caibo em mim.
Juro que tentei ser um milhão de outras pessoas.
Não consigo, sou de fato esquisito.
Uma cópia única  neste vasto universo de muitas
Que se qualificam para serem repetitivas.
Insisto em comungar com a maioria.
Não consigo.
Nesse movimento de diversidade humana
Quem tá por cima
É quem mais conseguiu ser outro.
Quem tem o feeling de mudar de escama
Pra subir o logradouro que leva ao patamar
De um mar navegável.
Tentei ser um monte de mim mesmo.
Não deu.
Insisto em não me enganar
pra mais a frente ludibriar inocentes
passando a perna em seus pescoços
numa gravata asfixiante.
Tentei ser um milhão de outros cidadãos
Um monte de mim mesmo
Não deu.
Sou de fato esquisito pra morar no ninho
Com tanta cobra tentando engolir a outra.
Zé Sarmento

terça-feira, 28 de maio de 2013

A FUGA





A FUGA

Não fosse a vivacidade do motorista do caminhão, quiçá lance de pior ventura tivesse ocorrido com as duas seqüestradas no interior do carro: fossem parar num cativeiro com cheiro de esgoto e mofo, inferno de alguma zona urbanística jogada as traças. Visão panorâmica e reduzida que receberia, seria cores ocres de paredes de blocos nus, a luz, iluminação amarelecida reproduzida por lâmpada incandescente pendurada no teto da laje de 60 watts. O desaparecimento de Mãe e filha também traria angústias incontestes para os parentes que, sem saber por onde andariam e em que mãos se encontrariam e em que situação se achariam repercutiria desesperos profundos e os levariam a loucura gastando muito do tempo reduzido que tem um Urbanóide nas delegacias, bem entendido, se não quisessem depender de algum valor para adquirir os trabalhos corruptos de alguns delegados e policiais.

Chamou-me a atenção e me despertou, fato como os buzinaços nos dutos do ouvido das viaturas da polícia perseguindo-os, por ser dia. Gostaria de deixar claro que  se noite sem embaço de chuva, também as luzes vermelhas e azuis giroscópicas, ajudariam a me despertar e faze-me correr para a janela, louco para ver o desfecho de mais uma das tantas ocorrências de desgraça que acontecem todos os dias. Se não os vejo da minha janela, os vejo pelos noticiários da TV.

No silêncio do meu AP fui despertado. Juro que não estava disposto a ver nem ouvir, a mim o silêncio seria mais bem compreendido e para quem fazia, naquela hora, companhia a minha estada em casa, no descanso do lar depois de um dia de trabalho. Olhei porque existiu e estava ali a minha frente gratuitamente. Pesquisas mostram: o que mais chama atenção das pessoas assíduas em vivificar fatos do cotidiano, são as costumeiras confusões encenadas por pessoas que se envolvem nelas. Não tem um que não pare para ver ocorrências como a que eu observei da janela do nono andar.

Perseguidos e perseguidores não pensaram o quanto estavam pondo a população em risco, na operação de resgate, gente que se deslocava por movimentada avenida na hora do encontro, dividindo a expressão de tanta velocidade das viaturas com quem andava na tranqüilidade de um dia comum dirigindo seus carros.

Assisti a um filme ao vivo e em cores. Daqueles bem berrantes. O horror me abriu os olhos sobre a violência urbana, e o vermelho do sangue das vítimas desenhou pintura expressionista e chocante no procedimento do meu rosto, assim como deve ter tornado a cara dos que estavam envolvidos na fuga e na perseguição, rosto de mesma expressão: apreensão, exasperação, medo e fuga dos pipocos das armas adentrando carnes, esvaziando almas. Um tiro a queima roupa na parada repentina fez tombar o policial que, naquele momento, se dispôs a ser o herói da perseguição, e que, mais tarde, se vivo continuasse, ganharia as honras dos que trazem nas atitudes da profissão que exercem o heroísmo com causa. O policial aproximou-se do carro dos sequestrados, este quase engatado na traseira do caminhão, com a arma em punho direcionada para a cabeça do seqüestrador, mas infelizmente para o que seria o herói do momento, não deu, o bandido conseguiu detonar  a sua potente arma primeiro no rosto do da lei. Caiu para trás como se fora um objeto, uma coisa sem perspectiva nenhuma mais.Jazeu  morto instantaneamente.O carona dos seqüestradores fora mais rápido no gatilho, copiando os mocinhos dos filmes do velho oeste americano; quem saca primeiro e atira, permanece vivo até outro evento de mesmo modelo vir ocorrer e a sorte o abandonar.

Percebendo que era hora de fuga, a mãe seqüestrada deu-se ao prazer dela. Pegando a mão da filha sem afagos, saíram pela porta como se fora um raio, mas no mesmo instante, como outro raio vindo dos infernos pelas mãos do seqüestrador que dirigia o carro, saíra à disposição de dois tiros, só a disposição. Percebi que fora essa a atitude, pelos movimentos do braço de quem atira com arma curta, levando a arma à frente para apertar o gatilho no momento que mira o alvo. A natureza trabalhou nessa hora para o bem, deixando as mazelas do mau se desgastar frente  à melhor situação. O revólver do bandido falhou nos dois disparos que tirariam a vida de mãe e filha. Muita sorte teve as duas, ou não era o dia delas?

Agindo assim o malfeitor, encontrou percepção suficiente um policial astuto e seguro no disparo de arma e bom na mira de qualquer alvo, achando que era hora de agir, o alvejou nas costas, fazendo-o tombar. Fora este retirado de circulação, deixando para sempre de fazer e participar dos ritos de fugas e seqüestros. Mais uma bala fora visitar as costas daquele que na hora H teve a má sorte de a arma falhar, vindo acrescentar aos que acham que, quem deve morrer na véspera é peru e não a quem não chegou o dia. Dizendo a platéia geral debaixo que tentavam se esconder das balas e eu, em cima também se esquivando uma vez ou outra, mas sem perder a cena, que mãe e filha nasceram outra vez.

Na fuga alucinada, pulando um muro, mais uma arma fora acionada, apertando o gatilho, o da lei sem sê-la, mas que se diz lei por ser uma lei particular, paga para proteger patrimônio. O segurança de um condomínio achando que estava praticando boa ação, vendo um dos bandidos pulando o muro do patrimônio que protegia, achou por bem, por essa hora, usar da arma e o derrubou ao pular o muro. Como fora rápido para disparar, também  fora para guardá-la. Tem tiro que nunca alguém descobrirá de onde partiu, de que armas, esse para sempre será um deles.

Na troca de tiros entre os oficiais da lei e os de fora dela, notei que na fuga também foram ao chão, fugitivos que escapavam por entre árvores, por serem mirados por miras telescópicas de fuzis dos oficiais dos helicópteros. Não conseguiram que a natureza das folhagens lhes cobrisse então, seus corpos não resistiram aos besouros voadores vindos do alto perfurando primeiro alguns galhos e folhas, indo-os se alojar nos corpos em movimento.

Alguns mortos no outro dia os parentes enterraram, bem dizendo, mais corpos daqueles que acharam melhor ganhar a vida no mele que no duro, para tanto, duros eternos se tornaram, porque é certo que quem tá morto nunca mais  vai querer e poder viver no mole. Dizem que nos infernos a moleza está nas mãos do chefe e suas asseclas virgens. Como acho que não vão conseguir chefiar nem as próprias almas, estes serão entregues aos fornos avermelhados. Viverão no quente para sempre, suando feito pano de cuscuz, esperando um dia que o feioso se apiede do que praticaram entre nós os vivos, e ponha um pouco de ar puro para os descalorar.

Da minha janela retangular do nono andar que dá vistas para o mundo, o filme que assisti, acredito, não fora só meu nesse dia, muitos viram o filme dessa tarde a olho nu também de cima, tendo o céu iluminando a projeção de tanta violência e a terra regada por tanto sangue.

A certeza dessa projeção que fica é aquela onde o ditado popular diz com sabedoria, de que o barato sai caro. Querendo o ganho fácil do dinheiro de um sequestro, pagaram com a vida valor que seria de cada um e ainda saíram devendo, porque a vida de cada matado, não pagaria o que já haviam praticado desde que entraram para o crime.
E você leitor, acha q’ueles são filhos das dívidas que a elite brasileira tem para com quem veio do veio da terra sem pátria ou não tem nada a ver o cu c’as calças?Que para se tornar bandido não importa de que classe social tenha vindo? È conceito para se pensar.


ZéSarmento