AQUI TEM HISTÓRIA – BIXIGA, UM CORTIÇO DOS INFERNOS A vida no bairro do Bixiga nos anos 70/80 e daí por diante era muito diferente da dos outros bairros da região central de Sampa. Por motivo do luxo e a pobreza morarem lado a lado. O luxo era oriundo de uma classe média local e de outros bairros que enchiam os teatros, casas noturnas, cantinas e a rua 13 de Maio pela passagem das festas de Nossa Senhora Achiropita, e o samba batucado, cantado pela escola de Samba Vai Vai e grandes produtoras de cinema como a Linx Filmes, Diana cinematografia, mais os laboratórios de revelação de filmes e de efeitos especiais. Mais tarde cheguei a trabalhar nas duas produtoras citadas. Dava pontapé a minha carreira de técnico em luz e elétrica na boca do lixo como gaffer. A pobreza era determinada por gente como eu, retirante que tinha Sampa para fazer a vida como migrante de todos os cantos. A diversidade cultural se confraternizava nos mesmos espaços, ou se engalfinhavam, por que também havia a violência dentro dos espaços internos e nas ruas, com as mortes motivadas pela quantidade de traficante que viviam de suprir de droga os ambientes festivos e os homens que disparavam munição de tapas, murros e bjs nos corpos de mulheres.
Bixiga, bairro
próximo a tudo, com infraestrutura já formada. Atravessava o viaduto estadão, (lá eu comia gostoso sanduíche de pernil depois de sair da rua do Triunfo e ir pro cortiço
onde morava na Rua Abolição). Era atravessar o viaduto estava dentro da
biblioteca Mário de Andrade, teatro municipal em assistia peças a preços populares, viaduto do chá, mercadão,
comendo o sanduíche de mortadela, rua direita, praça da Sé, Mappin, estação São
Bento do metrô para onde me dirigia aos domingos para assistir bandas de todos
estilos musicais. Os cortiços e os pequenos aps mais em conta, que cabia um
monte, era morada de muita gente, (as kitinetes só cabiam dois ou três), como
hj ainda é para latinos, e africanos. Lembro das putas das boates da boca do
luxo que dividiam quartos. Nessas boates trabalhavam putas mais elaboradas nas
suas majestosas esculturas morfológicas. Logo as mais ajeitadas arrumavam
moradias melhores. As desajeitadas ou mais velhas, já quase em fim de carreira,
as que viviam de se vender segurando os braços de transeuntes nas ruas da boca
do lixo com os peitos e bunda desnudos, essas demoravam mais tempo nos quartos
dos cortiços, evidente, por ganharem menos. Todas, as mais ajeitadas e as menos
sonhavam em fazer uma pontinha ou ser a principal dos filmes da boca, centrada
a produção das chanchadas ou filmes mais elaborados e, logo em seguido, os
pornôs, na rua do Triunfo. Ê vida de
luta, de utopias, porém da hora quando a gente é novinho e sonha com um trem grandão carregado de conquistas.