terça-feira, 12 de dezembro de 2023

AQUI TEM HISTÓRIA - DA ARTE EM SUM PAULO


 AQUI TEM HISTÓRIA - DA ARTE EM SUM PAULO

Poucos retirantes nordestinos como eu teve a oportunidade de frequentar e estar no meio do povo da arte desde o primeiro ano (1977) em Sum Paulo.
Já cheguei chegando aqui com o propósito de tentar fazer filmes, expressão da arte que entrou como furacão na minha paixão de criança e adolescente. Fazia o diabo, muitas estripulias pra assistir as fitas que passavam no cineminha da minha vila operária nos fins de semana. Até entrar pelo buraco arrombando porta, nos circos pulava cercas de arame farpado, quando o vigilante estava distraído.
Aconteceu de eu chegar aqui ao viajar com um irmão mais velho e receber seu apoio. Fiquei uns 5 meses na casa de quarto e cozinho dele na cidade de Santo André, momento em que dormia embaixo da mesa da, Casas Bahia, na cozinha de piso de cimento vermelhão forrado com colchonete. Logo saí em busca de emprego no centro. Ao descer na estação da luz do trem que ainda hoje faz o mesmo percurso, peguei a Avenida Cásper Líbero, entrei na Prestes Maia, momento em que divisei com uma placa num escritório de uma construtora oferecendo emprego para trabalhar no metrô praça da Sé. Pronto. Feito a ficha, as quatro operações de conta e escrever um texto solicitando o emprego e o porquê, fui contratado pra ser auxiliar de almoxarifado da obra com CLT. Mais uns meses estava matriculado num cursinho de cinema na rua Riachuelo. Desse cursinho depressa dei linha para o campo prático: trabalhar como assistente de tudo e mais um pouco nos sets das produções dos filmes que o dono do cursinho produzia em conjunto com produtoras da boca do lixo do cinema paulista.
Nessa pegada, e já morando na região central, precisamente num cortiço no bairro da Bela Vista, Bixiga, comecei a ver tudo de cinema e de teatro do início dos anos de 1980. Além disso, tinha como extensão da minha morada no cortiço dos infernos, a Biblioteca Mário de Andrade e todo o entorno da região central, como o teatro municipal em que frequentava quando o preço para ver espetáculo era popular, estava eu lá no poleiro mais alto e distante do palco, mas mesmo assim me fazia sair do lugar comum e me deslumbrar por amor e paixão por toda arte e suas expressões. Essa foi a faculdade que, em princípio, proporcionou minha graduação em toda expressão artística que podia estar presente como alguém da audiência. Reuniões políticas e debates do PC do B sobre a Palestina com os irmãos Rabelo, no Bixiga, acompanhar o nascimento do PT e suas lutas nas Diretas Já, não ficaram de fora da panela cultural que mastiguei com muita calma e engoli com pressa, pois era um tabaréu cabeça chata que tinha apenas a oitava série e sentia necessidade de viver tudo aquilo que me faltou no tempo d'eu criança e jovem sobre a arte mais elaborada na minha querida e paradisíaca São Gonçalo, Sousa, PB.
Cheguei do sertão para a metrópole paulistana apenas com os tímpanos ainda vibrando com a zoada da sanfona, dos pandeiros, zabumbas, triângulos, e em alguns momentos nas casas de alguns moradores, repentistas com seus motes pra lá, motes pra cá, dedilhando violas, e a grande saudade de ter migrado e deixado para trás umas namoradas em que as bocas e os peitos foram amassados com a energia que tem quem que está recebendo descarga de hormônios do crescimento, ganhando penugem nos ovos, os peitos crescendo e as punhetas sempre presentes. Hoje sou o que sou pelo meu mundo barroco sertanejo e da cidade grande terem me moldado. @zesarmento

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL


 AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL

Se eu ainda vivesse como profissional do audiovisual, essa época do ano estava me lançando em arrumar um filme pro churrasco de fim de ano, teve um período que não precisava correr atrás, as produções é que corriam atrás de profissionais, tipo anos 1980/90 ou até 2000 e pouco. Muitas marcas fazem filmes com o assunto natal. Muitos perus, frangão, linguiça vão ao ar cuidados por mãos de efeitos especiais, diretores de fotografias e pós-produção nas ilhas de edição, filmes de shoppings não ficam atrás com promessa de sorteios de carrões importados, lojas de vestuários e de bebidas não ficam na rabeira. Aposentado e longe dos sets, sei que tem muitos técnicos nos seus grupos de zap se vendendo para um trabalho, e isto vira leilão nas produções, vindo o preço desabar e o profissional ser desvalorizado, poucas produtoras têm a ética e moral de pagar cachê integral negociado via sindcine. Viva a leitura, os estudos, a literatura, a arte da palavra escrita e falada no pé do ouvido, e de quem gosta de poesia e prosa e conto e crônica e arte em geral. Falar nisso, essa noite eu filmei, um filme pesadelo e pesado, era numa praia e de noite, muitos refletores grandes e pesados para ser colocado em torres pra iluminar areia e mar. Ainda bem que eu tava com parças competentes da equipe que escolhi.

AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL


 AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL

Ao virar profissional do audiovisual, início de 1980 na boca do cinema paulista, ganhando bem nas produções dos longas-metragens e publicidade, achei que tinha virado um nordestino RICO, ora, cheguei em Sum Paulo preparado pra qualquer serviço, vinha de ser boia-fria por mais de 5 anos nos campos irrigados da minha paradisíaca São Gonçalo, distrito de Sousa, PB, então filmando em casa e locações da elite paulistana ou burguesia do primeiro escalão, isto me envaidecia, conseguia, inclusive, mandar dinheiro pra casa da minha mãe e pai, com isso ajudava nas despesas dos irmãos que lá ficaram, alguns ainda em crescimento e momentos de estudos técnicos em agronomia fora da minha vila operária. Muitas vezes dava vontade de entrar numas de comprar um carrão do tipo que usava os diretores de publicidade, os filhos de bacana, logo me vinha o pensamento de que poderia faltar grana pra bancar meus 4 filhos e a reforma da casa que havia recém adquirido. A ficha na cabeça desse cabra caiu dizendo que eu não era nada disso, logo depois de pesquisar e escrever o livro Paraisópolis, caminhos de vida e morte em 2000, editado em 2002 pela Editora Zouk com financiamento de edital público da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, edital em que o agente cultural tinha que correr atrás das empresas. Consegui convencer uma empresa de locação de material de luz pra cinema me patrocinar. Cinecidade Locações Produções do querido Jose Macedo (Jamelão).
Pra ficha cair em definitivo e mostrar que eu não era mesmo pertencente a elite do cinema, nem daqui nem da China, e entrar com tudo na turbulenta e politizada luta de classes, me caiu a ficha de estudar história com graduação com licenciatura, graças ao ProUni. De lá pra cá minha escrita pra meus romances e os textos que escrevo pra falar nos saraus ficaram mais contundentes nos pormenores de que sou um pé rapado pertencente a pobreza das margens e que continuarei a ser rejeitado como um ser pensante que escreve sobre seus páreas, pra deixar registrado que a luta de classes terá que existir e seguir em frente, sem entregar a rapadura raspada na boca da elite que quer nos ver preparados para ceder a ela nosso couro e carne de primeira, quando se é novinho, carne de pescoço e osso quando se é velhinho como eu.

Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

 Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

Por: Varneci Nascimento

São Paulo tem me proporcionado conhecer tantos escritores e, entre eles meus conterrâneos nordestinos, que trabalham com a palavra nessa megalope de sonhos e desilusões. @zesarmento sempre esteve ligado as artes, mas nem sempre produzindo sua arte que pulsava, desde a infância, no coração e nas veias deste paraibano que foi alfabetizado aos catorze anos. Sarmento é um jovem aposentado advindo do cinema, que está em plena atividade literária, força pulsante que só veio dar mais atenção depois do tempo ganho com o afastamento dos Studios de filmagens.
A literatura deste poeta é tão vibrante como quando ele sobe nos palcos para recitar. Quem assisti-o pensa que ele está brigando, e de fato está, porque sua poesia é denúncia, é faca de dois gumes na goela deste sistema opressor que se acostumou a matar pobre, preto e favelado, ainda por cima, convencê-los de que são os culpados. Estou lendo Vazante no metrô, indo para eventos literários e, às vezes escondo as lágrimas vindas ao rosto, porque vejo em Tonho de Joaquim de Moça os milhões de nordestinos que gastaram suas vidas, em troca de um prato de comida. O triste é ver alguns convencidos de terem feito uma troca salutar. Que venham tantos Sarmentos para usar a poesia como arma de luta social, porque quem se une a dor dos outros pode até ter um inferno astral, mais jamais carregará a responsabilidade da omissão. Vazante foi publicado pela @selintrovoar e é brilhantemente ilustrado por @joao.pinheiro Fico com vontade de ler Vazante, chame Zé Sarmento nestas redes tidas por sociais, que afastam os próximos e aproxima mais ou menos os distantes.

AQUI TEM HISTÓRIA - A DESCOBERTA DA LEITURA



 AQUI TEM HISTÓRIA - A DESCOBERTA DA LEITURA

No tempo d'eu menino, depois de aprender a ler corrido aos 14 anos, era o que tinha de livro e literatura pra me retirar da vida dura da realidade da seca, ou de invernos que não se seguravam, e mesmo assim, tinha que ir pro cabo da enxada.
Gibi não tive acesso. Revistas de fotonovela, às vezes aparecia na casa de umas primas, lia até acabar a história, também me distraindo vendo as calcinhas das moças novinhas quando se sentavam, usavam minissaias. Sonhava com as fotos com gente diferente da gente com que convivia, tipo uns perebentos, uns buchudos, uns só os ossos à mostra e cancerosos, outros azaranzados nas suas loucuras andando pelos aceiros das picadas falando com seus demônios, remendados ou rasgados com as tiras mostrando a pele áspera queimada por quentura medonha de tanto entrar nas matas pra cortar lenha, tacar no espinhaço dos jegues e vender de porta em porta, era o gás de cozinha que tinha pra ir parar nas trempes dos fogões a lenha. Os jegues caminhavam cambaleantes de tanto peso nas costas, com a barriga raspando sua desgraça servil no chão.
Já na grande metrópole paulistana, com 20 anos de vida sertaneja, começando entrar no sangue a vida da urbanidade de guerra pra sobreviver sem desmandos, fui descobrindo outro tipo de leitura, as mais elaboradas, de autores que hoje são sinônimos de literatura clássica. Os romances sempre me tomaram mais tempo do que a poesia, mas dela não escapava, lia e já dizia no silêncio de mim mesmo num quartinho de cortiço do bairro do Bixiga.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

 

AQUI TEM HISTÓRIA-LITERATURA/CINEMA DIALOGAM


Conversa relevante sobre o meu livro OS MISERÁVEIS DA SECA com um leitor especial no privado do Instagram.

Professor de roteiro de cinema da FAAP, roteirista da TV Cultura e leitor exigente. Entrou com tudo neste livro pra viver o sertão e seus pesadelos da fome. Zé Vicente, obrigado pela conversa franca.

#osmiseraveisdaseca 315 páginas, ano 2020, editora EEditora FiloCzar

 

Iniciei minha leitura.

Adorei a conexão histórica e bibliográfica.

Os elementos oníricos da mãe gigantesca comendo tudo e do protagonista que anda de cabeça pra baixo são incríveis.

Muito subtexto e muitas coisas ditas nas entrelinhas.

Estou adorando.

Rapaz, já chegou na loucura da passagem do livro em que a mãe viaja sonhando com os filhos retirantes trazendo um grande banquete...

Se vc está lendo de fato e adiantado.

Tudo isso causado pela grande fome.

Obrigado por estar gostando.

Reli o livro depois de editado, e acho que fui longe demais com minhas divagações na criação desse romance histórico ficcional. No final, vc como especialista, não sou, sou mais criativo, solta o verba e diz a verdade. Rsss

Eu estou adorando. Principalmente a parte lúdica.

A família se transformando em atração circense é uma tristeza só.

Principalmente por todo significado abstrato do todo.

Até os cortes de cabeça samurai, que deveriam dar algum juízo, terminam na lambança e alienação.

Minha intensão com essa parte circense, saltimbancos, teatrão...

No terreiro da tapera, pra mim tem significado imagético sobre a luta do sertanejo pra sobreviver nos grandes centros, e os que lá ficam, também sonham que eles tragam fartura na volta pra casa, ou a passeio, ou pra ficar em definitivo. Pensei muito nos nordestinos artistas que se apresentavam nas ruas no passado, e até hj como artistas.

Eu imaginei isso mesmo. É uma sequência excelente. Foi o trecho que mais gostei até agora. Ele é muito simbólico.

Depois dessa miríade de doidura, o livro entra num transe mais realista, sem a ficcionalidade deixar sua pegada abstracionista e poética sobre a vida difícil no semiárido nordestina. Tendo como pano de fundo os efeitos da fome. E o amor de uma personagem que surge no seio do que sobrou da grande família Silva.

Ah! É a Remédios, né? Tô adorando ela.

Os nomes das personagens têm tudo a ver com as participações de cada. Percebeu, né?

A região geográfica e territorial do romance tem tudo a ver com o meu lugar de nascimento, região em que vivi até os 19 anos. Então, por isso, a partir se certo momento do livro, tem memórias fundamentadas nesse espaço com vivências com sertanejos desarrumados de tudo relacionado a sobrevivência.

O mais difícil foi amarrar ficção e realidade dentro desse contexto histórico, para tanto, me graduei em História no ano de 2012. Ficou mais fácil pra pesquisar.

Tudo isso ainda trampando no audiovisual como gaffer.

Olha só... Essa questão de conectar história com vivência pessoal é uma baita riqueza. Um dos aspectos mais interessantes do livro.

Não tinha percebido a relação dos nomes dos personagens.

Vou reler alguns trechos e dar atenção a isso.

Hehe. É assim. José Divino, Maria das Dores, Maria Remédios, dos principais...

Tem a ver com o messianismo nordestino.

Ah... É verdade. O Divino...

Muito bom.

É um livro para ler muitas vezes. É cheio de detalhes nas entrelinhas.

Ah! Graças ao capítulo 20 do seu livro eu descobri o significado da lenda urbana do papafigo.

Nunca que eu ia associar fígado com figo.

É muito legal ver como uma coisa ali se desencadeia em outra.

A língua portuguesa e suas interpretações por território são muito ricos.

Por causa dessa lenda, no tempo d'eu menino ficava muitas vezes preso dentro da minha humilde casa de taipa e não saia para incursões pelas veredas sertanejas para brincadeiras. Era conversa da minha mãe pra me segurar por perto, talvez pra ajudá-la em alguma coisa. Tinha muito medo dos papafigo.

Eu já vi muito curta metragem falando disso. Mas nenhum deles mencionou a verdadeira origem. Achei incrível. Tô adorando o livro. Acabei de chegar na metade. Minha mãe tá lendo o Vazante. Tá adorando, também.

Que bom que sua mãe está lendo vazante. É sobre a descoberta do livro por um aposentado que entra em crise existencial, por ter perdido a rotina. Fico feliz. Abraço.

Pausa... De uns dois dias.

Fala! Zé.

Só pra dizer que eu li uma frase do teu livro que me arrepiou.

É quando você compara o nordestino com o caminhão que leva o trio pra ver o padre milagreiro.

Você diz que o caminhão foi feito pra ser forte e andar devagar. Como o nordestino.

Essa eu vou usar em sala de aula.

Aí, sim. Porém, essa fortaleza e vagareza servia para àqueles tempos calmos de falta de um tudo. Pra hoje em dia já não vale. Os caminhões correm mais que automovíveis e os nordestinos andam sobre duas rodas, a mais de 100km/h. Abraço e bom fim de semana...

Pergunta para os alunos se eles sabem o que é um gaffer do audiovisual e que vc conhece um que foi profissional por 40 anos, hj aposentado virou escritor. Rsss

Eles sabem. Muitos trabalham com isso. Mas nenhum tem a sua história.

Aliás, vou divulgar seu trabalho na faculdade. Ver se a livraria tem interesse em vender.

Vai ser ótimo.

Massa.

Tempo

Aliás, terminei o livro ontem.

Achei do cacete.

Adorei a metáfora dos filhos peixes. Que coisa mais triste e ao mesmo tempo realista, embora fantástica.

Achei que vc ia gostar mesmo dos 7 filhos músicos, depois peixes... O nordeste fantástico pra sobreviver nesse país difícil pros de lá de riba. Negando sempre ele para todos.

Abraço e boa semana.

Tem partes reais.

Eu adoro essa mistura de realidade, biografia e fantástico. É um dos grandes trunfos do livro.

Minha escrita quase toda está presente o realismo fantástico. No os miseráveis, Bixiga, Paraisópolis, um pouco só no Ângela. Uma maneira que encontrei de dizer sobre as lutas do sertanejo, nordestino pra achar um rumo pra suas mazelas.

Muito bom. Eu adoro isso. Agora vou ler um livro de contos e depois parto pro Vazante.

Aí vou te falando.

Mandei dois corações pulsantes!

 

quinta-feira, 2 de março de 2023


 AQUI TEM HISTÓRIA - A CASA EM QUE NASCI

Não romantize quem vive numa casinha como essa no sertão.
São as pessoas mais discriminadas e exploradas da região, sinal de imensa pobreza.

Casa parecida com a que nasci e vivi nela até os 16 anos.
Éramos em 10 pessoas. Desde menino que virou rapaz, a adolescente e criancinha ainda de teta nos peitos muito chupados de Dona Francisca.
8 filhos, mais os genitores. Haja rede pra tanto menino se balançar e se alimentar de vento e sol. A única cama era a do casal com colchão de junco que alimentava os corpos de amor para fazer novos rebentos pra ser criados feito jumentos soltos no pasto.
Essa casa ficava embaixo de um grande pedreira.
Na hora mágica do dia as aves de rapina apareciam com seus voos rasantes para o fim de pernoitar nas locas das pedras e trazer alimento para os filhotes.
Eu menino se assustava com cantos agourentos.
Sinônimo de premonição maldita.
Tanto que não demorava e logo aparecia na minha família, ou em outras da favela ao derredor, muitas brigas com morte a facada, paulada, tiro. Era a favela do velho pé de serra vivendo de muitas encrencas entre os vizinhos, por causa de uma cabra, um jegue, um cavalo, ou a vaquinha leiteira que invadia alguma rocinha.
Tivemos que sair dessa casa pela retomada da construção de loteamentos do Vale, devido uma reforma agraria do governo militar. Nesse tempo d'eu menino me escondia embaixo de uma moita ou lajedo dos aviões caças que passavam deixando rastro de fumaça no céu. Diziam os mais velhos que o Brasil estava em tempo de guerra. Novos canais de irrigação se espichavam adentrando as terras do vale, e eu menino não podia ficar de fora do trampo de boia-fria, servente de pedreiro, cavador com picareta de novos buracos para escoar água. Quando as culturas do vale irrigado começaram a produzir, estava eu lá, adolescente, no meio do arrozal, milharal, bananal, algodoal e tomateiros colhendo de tudo para ser vendido pela cooperativa de colonos que operavam as vendas. Com o mísero dinheirinho de trabalhador rural, frequentava as putarias nas casas da luz vermelha, os forrós pé de serra, e dava um pouco pra minha mãe, ao fim e ao cabo, o saldo dava pra pagar o colégio da quinta a oitava série. Pegar estrada pra Sum Paulo na companhia de um irmão foi a saída logo após a diplomação do fundamental. Saudades da peste. Apesar da vida ser dura no tempo das secas, noutra ser mais branda no tempo dos grandes invernos.
Foto google
Pode ser uma imagem de ao ar livre, árvore e parede de tijolos
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