domingo, 5 de março de 2017

CONTOS MEMORIAIS - CONTO 4

                                             CONTO  4
Dos frutos bons da terra irrigada pelos estreitos e largos canais, se mastigava o que enchia o vago do estomago com prazer presunçoso.
Nos descampados sem árvores frutíferas, mães parideiras não deixavam teta grande cheia boa de mamar faltar às crianças o leite materno.
Lembra que nasciam aos montes guris concebidos em camas sempre quentes, esperando a chaminé da fabrica acender para produzir muitos nenéns sem teréns, de futuro incerto.
Meninas criando penugem no seu lugar proibido faziam moleques viajar na perdição, pensando sobre como seria bom se relacionar corpo a corpo com ela escondido nos matos que dessem pra esconder corpos quentes.
Quando ocorria de se entregar com amor febril, logo ia a menina moça contar a mãe, que depressa ia contar  ao pai quem tinha bulido  na sua parte proibida de ser tocada antes do casamento.
Certas denúncias de relacionamento mais sério de moços e moças, às vezes, decorria em longo prazo, quando a barriga da moça se estendia mais volumosa à frente. Nesse caso, não se casasse com quem a embuchou, virava rapariga com furor nos olhos cheios de lágrimas, por ser expulsa de casa pelo pai austero machão.
Era tempo dele menino também estar recebendo pêlo, crescer os peitos por hormônio masculino virando também machão para os ditames do sertão.
Testosterona se formava na carne, sobrando dessa produção hormonal, mais a fantasia, vindo à realidade sobressair nos animais cabrita égua jumenta. Nelas os moleques retiravam energia da juventude sem a amnésia de culpa.
Tinham necessidades de alimentar não só a fantasia as meninas meninos, pelos hormônios dos dois sexos virem em visita ao corpo que se deslanchava aumentando o preço da carne.
Abria fissura nos olhos dos moleques  meninas botando corpo, quando se deixavam vestir-se de shortinho para sair sobre o calor braseiro do Senhor.
Também sonhava com esperança de que moleque ainda novo, e filho de classe melhor amparada no colo da sociedade local, a assumisse retirando da casa dos pais, dando agasalho nos abraços, na comida, no  cobertor, e muitas crias pro futuro não ficar incerto, e os filhos sem sangue de melhor correr pelos canudos das veias.
Ganhar sangue azulado como a atmosfera do mesmo céu, era o pensamento da menina menino mais esperto, de se casar com alguém de família com cabecinhas de gado num curral apartado, alimentado por capim cultivado sobre fertilizada terra preta, ou dezenas levadas pro matadouro.
Pensamento envolto por nuvens fecundas, a fazia sonhar em mudar de rumo no ramo das aplicações de como pegar marido bom de cama e gaita.
Ganhando vaquinha leiteira depois de neném no colo e o filho preso aos braços esperando emprego público, garantia  se sobressair junto aos demais de pobreza endêmica.
Nem sempre dava certo em se casar depois de bulida à menina em fase de crescimento, pelo pai do mancebo ter negado assinatura no cartório.
Muitas tinham única saída, servir pra chacota de marmanjos a chamando de rapariga, e querê-las levar pro mato os marmanjos, ou a moça ir parar na famosa zona mais perto do prazer dos homens que frequentavam o baixo meretrício.
Eh! vida arteira de infância sem cálculos matemáticos, sem conjunções aditivadas no comprido das falas, sem o complexo nexo dos verbos conjugados dentro da lei do seu tempo, sem a sintaxe overdose de pró-nomes, adjetivos feios vindos por apelidos excêntricos que cada um ganhava no linguajar de moleques criativos.
Era o calor do meio dia deixando arteiro quem tinha tino pra arte, na escala Celsius passava dos 40 graus ao sol a pino sem nuvem no caminho do destino.
Era a terra aberta em erosão de aluvião vermelhão no tempo bom de chuva forte.
Era a mão do agricultor carente asperamente envolvida com as ferramentas levantadas pro céu, rezando doidamente a fim de ver a água correr furando oco das brenhas.
Quando da negação da chuva, a erosão surgia na sua tristeza, na boca do estômago, com os ombros carregando a cruz de cristo por promessa enviada ao santo da devoção.
Lembra como o tempo abria porta que não queria abrir, nas chuvaradas, por exemplo, quando o tucunaré com pirão fazia dente moer cachaça em talagada lá no restaurante catete, comprada em meia garrafa por quem não achava dividendos pra garrafa inteira.
Sorridente por dentro vinha moleque da bodega de dona Zefa, venda enfiada debaixo das mangueiras, ao lado das bananeiras, bem perto dos sítios de coqueiro.
Bicicleta pedalava pernas ligeiras para ir de encontro à venda.
Beiços lambidos perdidos na poeira dos arados dos tratores ficavam ansiosos por talagada em roda animada por gente com gosto pra ficar contente por algum tempo, pelo menos ao momento de durar na cabeça o efeito da cana.
Tratores, jipes, caminhões no vai e vem do perímetro levando técnicos agrícolas,  trabalhadores braçais davam carona a rapaziada roceira como viajante da diversão na volta pra casa depois do dia na lida.
Sanfona, pandeiro, triângulo, zabumba botavam corpos tristes alegres nos fins de semana, esperando ter feito um bem dos diabos aos animados casais, estes compartilhavam vontades próprias de se casarem daqui um ano, se o inverno fosse de pouco alvorecer aurora, daqui seis meses, se fosse de muito alvorecer aurora, ou quando os grãos enchessem sacos paiós silos prontos pra esperar nova seca, ira dos demônios.
A gruta da santa Nossa Senhora de Lourdes recebia subindo  íngremes degraus,  joelhos de casal nubentes e velhos de membros tortos, crentes que no sofrimento de usar parte do corpo como assento rastejante, receberia garantia que a filharada que viria, traria na astúcia, saúde e água  com fartura no decorrer dos anos.
Mesmo com as artimanhas de tempo insano vez ou outra, melhor era o que se passou, em vista do que agora são essas coisas que vêm dos infernos urbanísticos, no caudal ir e vir dos dias de hoje pela urbana city São Paulo.
As lembranças arrefeçam de dentro do menino, como ondas em caudal nos arrecifes, pelas lágrimas virem visitar quase sempre, a quem só nasceu pra enxergar, sem propósito em ter que divisar, com as malquerenças dos sitiados cidadãos da urbe humana.