sexta-feira, 20 de janeiro de 2023




 AQUI TEM HISTÓRIA +UMA DO CINEMA E EU

Quando eu estava nas correrias de sets de filmagens, trampo em que sobrevivi da profissão de elétrica e luz como gaffer por 40 anos, só alguns profissionais da equipe sabiam que eu tinha livros editados. Em sets com equipes que eu não conhecia direito, se alguém contasse a respeito, simplesmente eu pedia pra parar com a ideia. Muitos começavam com chacota sobre eu escrever e não viver da escrita, e está nas correrias pra puxar cabo, instalar refletor nos grides, subir em ponte, escada, afinar, enfim, iluminar rostinhos bonitos, produtos, grandes atores/atrizes. E Quando eu voltei a estudar o ensino médio na EJA e consegui entrar na faculdade de História, aí, então, lascou, só trampava com quem respeitava a minha resistência e resiliência. Ainda bem que nessa época meus filhos estavam criados, e os dois mais velhos já trabalhavam nas profissões dos seus cursos superiores. 
Em qualquer profissão do audiovisual, é preciso escolher uma área de atuação profissional, se tentar mudar, o mercado te queima. Tem suas exceções, dependendo da classe social em que o estagiário ou assistente pertença. É isso pra hj. E vamo que vamo!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

VAZANTE - LÁ E CÁ

 


Chorei! Vc escritor é desses que se emocionam quando um leitor que se identifica com a tua criação, escreve uma pérola dessas? Sou um desse visse! Ivy Menon Menon é uma poeta, grande, pra mim, escritora de prosa. Pena que não tenho livro dela. A leio aqui nas redes quando das suas publicações na sua fed. Não a conheço pessoalmente, mas enfim é assim a arte da escrita. Por admirá-la lhe ofereci um livro, e, diga-se de passagem, imitando o Neto, livro oferecido, particularmente acho que quem recebe não ler, quando compra até de repente abre, dá uma folheada, e pode até começar, porém...Não foi o caso a Ivy Menon, além de se enfiar no livro ainda escreveu sobre, numa resenha que me deixou super emocionado. Obrigado pelo mimo a este escritor ex-operário do audiovisual que lutou muito pra se expressar na sua arte e ainda luta, por que de resistência vive nóis da quebrada, retirante nordestino e cheio de gás memorial, de LÁ e de CÁ, pra por no papel e virar romance, poesia, conto. PROSIA! Grato e abraço deste Zé!

 

 

“Livro fechado é pássaro.

Livro aberto é asa.”.

Não poderia começar de outra forma, a falar do romance escrito por José Sarmento, porque minhas asas se alargaram e ganharam alturas inimagináveis, quando abri o livro “VAZANTE lá e cá” (Editora Selin Trovoar, 2022). E fiquei a imaginar o céu brasileiro, coberto por uma revoada de pássaros desengaiolados pelas histórias de dores e vitórias de Tonho Retirante e sua família. Dos saraus/biqueirolândias, posso ainda ouvir o bater de asas dos viciados em cheirar livros.

De imediato, afirmo que não é um livro que me fez chorar. No entanto, uma angústia incomensurável me apertou a garganta da primeira à última linha do romance. O ritmo da escrita de Sarmento, na fala de seu alter ego (quem é mesmo alter ego de quem?) Tonho, filho de Joaquim de Moça, me tirou o fôlego. Os sofrimentos de ontem, no sertão esturricado de sede, e de hoje, na caldeira a mil graus de temperatura, se misturam num relato só. E não soube responder quem sofre mais, se o pobre da roça, a morrer de fome, para enricar os coronéis proprietários das vidas sertanejas, ou se o pobre urbano, carne para ser comida em prol do crescimento do capital e das contas bancárias dos ricos do “Sul”.

Diz Tonho:

“O passado nos campos sertanejos não ficou para trás nos pesadelos rememorando derrotas, fracasso, fome, sede, Morte. Morte dos conhecidos de lá e cá. A morte do companheiro operário da grande metalúrgica até hoje tangencia sua memória, enfiando pregos nos seus neurônios e sentidos, quando este foi explodido junto com a caldeira que fervia areia para fundição. Seu corpo estraçalhado foi jogado além, levando alguns que estavam mais longe a se ferir com profusão. Depois desse dia, achava ser ele a próxima vítima do grande capital dilacerado na explosão de caldeira, mangueira, cilindro de oxigênio, uma cachoeira de ferro fundido no corpo. Tanger gado de proprietário de terra explorador de mão de obra, sofrer derrotas nos ermos pelas estradas de novo chão para se alimentar.”.

Mas não só de aflição se faz o VAZANTE, de Sarmento. A alegria de conhecer os livros e a liberdade de adentrar um novo e infindo mundo, ou o fascínio de se descobrir capaz de construir a própria história… Ainda: as pequenas conquistas da mulher/companheira de luta e a presença amorosa dos filhos e netos, ao redor da mesa, aos domingos… as primeiras experiências no mundo digital. São tantas as felicidadezinhas que perpassam pelo texto que, o leitor, como eu, corre o risco de não saber em que se segurar. Apenas garanto que Tonho Retirante me segurou pelas mãos, do começo ao fim de sua história de vida(s).

A poesia se agarra na primeira letra e caminha por todo o romance. Uma poesia grandiosa feita de aflição e morte, mas também, e principalmente, de esperança do eterno renascer das sementes jogadas no solo fértil, inundado pela última chuva. Contraditório? Sim. Como a vida, claro.

:

“Mundo ingrato, que adora consumir pessoas pobres no psicológico e usar o corpo como instrumento de produção”.

e

“Quando a chuva caía, os chapadões sorriam verdejando com pressa em renovar a vida…”.

Não podia deixar de registrar: as ilustrações de João Pinheiro, são um espetáculo à parte. Belíssimas. Primorosíssimas.

Que grata surpresa, Zé Sarmento. Obrigada por me presentear com VAZANTE lá e cá. Recomendadíssimo. JURO.

Ivy Menon– escritora

Edit: para adquirir VAZANTE lá e cá, por favor, queridos amigos, vejam o link nos comentários.

Ivy Menon

Uma grata surpresa, VAZANTE lá e cá, querido amigo Poeta! Obrigada pelo presente. Baita privilégio, o meu!