Do centro a
minha casa é uma draga.
Da periferia ao centro outro aperreio.
Corpo
cansado, busão lotado, fadiga do diabo.
Acordar cedo,
sair às presas, bater cartão pra ganhar o pão.
De trem, de
metrô, de busão, o sufoco é um só, meu irmão.
Conta pra
pagar, carnês pra quitar, filho pra sustentar, mulher pra cuidar, aluguel pra
pagar.
É o que dá
ser o rei do salário mínimo e ½.
Viro o bicho
atiçando os pensamentos pra entrar pras correrias.
Ando no sufoco
com essa atitude de ser paciente trabalhador.
Crente que
as coisas vão melhorar.
Preciso dá
um jeito.
Tomar um
choque de resistência. Entrar num esquema.
Atitude. Partir
pras cabeças.
Deixar de
pagar aluguel, comprar uma caranga, cair no samba, virar bamba.
Movimentar,
experimentar outras correrias, deixar de ser otário.
Quem
trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro, é o ditado.
Tá embaçado.
Sair da
viela, deixar a favela exige a mulher, a sociedade.
Com o que
ganho vou acabar indo parar no fundão com esses preços que não param de subir.
...E aí
excelência, broder, no teu partido tem lugar pra quem quer ser ladrão?
Se tiver,
tou na finta, tou a fim de cair de pau e explodir qualquer coisa que dê grana.
Virar
laranja de prefeito, vereador, deputado, senador.
Já dei uns
tiros quando moleque com uns manos que morreram no asfalto.
Já troquei soco
no futebol de várzea.
Explodir
caixa é comigo mesmo.
Vamos?!
Zé Sarmento
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