quinta-feira, 19 de setembro de 2024

AQUI TEM HISTÓRIA - A REGIÃO CENTRAL E SUA ARTE POPULAR

AQUI TEM HISTÓRIA - A REGIÃO CENTRAL E SUA ARTE POPULAR
Minha paixão por cinema e literatura desde que aprendi a ler aos 14 anos e assistir aos filmes a parti dos 10 no cineminha da minha vila operaria do DNOCS, São Gonçalo, Sousa, PB, me fez chegar em São Paulo pronto pra correr atrás dos meus sonhos personificados no desejo de trampar com a sétima arte.
Depois de ser ajudante de metalúrgica e auxiliar de almoxarifado por um tempo, no mesmo ano que migrei como retirante da seca, me matriculei pra estudar num cursinho de cinema, três anos depois estava vivendo de diárias de longas-metragens, curtas, documentários e depois muita publicidade.
Gostava dos longas pelo fato de as equipes tornarem minha família, antes vivia muito só por ser tímido e fechadão no meu mundo de ilusão.
O centro da cidade de Sampa com suas ruas movimentadas, era lugar de passagem e paradas pra assistir de tudo que se propagava nelas, antes de chegar à rua do Triunfo, ou depois de sair dela. O Livro Bixiga, um cortiço dos infernos que o diga.
Nas folgas era hora de entrar de cabeça a escrever meus manuscritos, depois usar a remington para datilografar, isto já morando no cortiço da rua Abolição com mais dois amigos que também faziam cinema, um pernambucano e um mineiro, e assistir teatros, filmes e tudo mais.
Antes de ser profissional de cinema me deparei e descobri a estação do metrô São Bento, morava num cortiço no Brás. Aos domingos tinha shows de bandas muito boas, lugar de matar o tempo e esquecer um pouco das memórias familiares e territoriais e viver arte.

 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

AQUI TEM HISTÓRIA - DA ARTE EM SUM PAULO


 AQUI TEM HISTÓRIA - DA ARTE EM SUM PAULO

Poucos retirantes nordestinos como eu teve a oportunidade de frequentar e estar no meio do povo da arte desde o primeiro ano (1977) em Sum Paulo.
Já cheguei chegando aqui com o propósito de tentar fazer filmes, expressão da arte que entrou como furacão na minha paixão de criança e adolescente. Fazia o diabo, pregava estripulias pra assistir as fitas que passavam no cineminha da minha vila operária nos fins de semana. Até entrar pelo buraco arrombando porta, nos circos pulava cercas de arame farpado, enquanto o vigilante estava distraído paquerando uma mocinha que gostava de dar atenção pra quem era de fora e estava de passagem.
Aconteceu de eu chegar aqui ao viajar com um irmão mais velho e receber seu apoio. Fiquei uns 5 meses na casa de quarto e cozinho dele na cidade de Santo André, momento em que dormia embaixo da mesa da, Casas Bahia, na cozinha de piso de cimento vermelhão forrado com colchonete. Logo saí em busca de emprego no centro. Ao descer na estação da luz do trem que ainda hoje faz o mesmo percurso, peguei a Avenida Cásper Líbero, entrei na Prestes Maia, momento em que divisei com uma placa num escritório de uma construtora oferecendo emprego para trabalhar no metrô praça da Sé. Pronto. Feito a ficha, as quatro operações de conta e escrever um texto solicitando o emprego e o porquê, fui contratado pra ser auxiliar de almoxarifado da obra com CLT. Mais uns meses estava matriculado num cursinho de cinema na rua Riachuelo. Desse cursinho depressa dei linha para o campo prático: trabalhar como assistente de tudo e mais um pouco nos sets das produções dos filmes que o dono do cursinho produzia em conjunto com produtoras da boca do lixo do cinema paulista.
Nessa pegada, e já morando na região central, precisamente num cortiço no bairro da Bela Vista, Bixiga, comecei a ver tudo de cinema e de teatro do início dos anos de 1980. Além disso, tinha como extensão da minha morada no cortiço dos infernos, a Biblioteca Mário de Andrade e todo o entorno da região central, como o teatro municipal em que frequentava quando o preço para ver espetáculo era popular, estava eu lá no poleiro mais alto e distante do palco, mas mesmo assim me fazia sair do lugar comum e me deslumbrar por amor e paixão por toda arte e suas expressões. Essa foi a faculdade que, em princípio, proporcionou minha graduação em toda expressão artística que podia estar presente como alguém da audiência. Reuniões políticas e debates do PC do B sobre a Palestina com os irmãos Rabelo, no Bixiga, acompanhar o nascimento do PT e suas lutas nas Diretas Já, não ficaram de fora da panela cultural que mastiguei com muita calma e engoli com pressa, pois era um tabaréu cabeça chata que tinha apenas a oitava série e sentia necessidade de viver tudo aquilo que me faltou no tempo d'eu criança e jovem sobre a arte mais elaborada na minha querida e paradisíaca São Gonçalo, Sousa, PB.
Cheguei do sertão para a metrópole paulistana apenas com os tímpanos ainda vibrando com a zoada da sanfona, dos pandeiros, zabumbas, triângulos, e em alguns momentos nas casas de alguns moradores, repentistas com seus motes pra lá, motes pra cá, dedilhando violas, e a grande saudade de ter migrado e deixado para trás umas namoradas em que as bocas e os peitos foram amassados com a energia que tem quem que está recebendo descarga de hormônios do crescimento, ganhando penugem nos ovos, os peitos crescendo e as punhetas sempre presentes. Hoje sou o que sou pelo meu mundo barroco sertanejo e da cidade grande terem me moldado. @zesarmento

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL


 AQUI TEM HISTÓRIA - NO CINEMA NACIONAL

Se eu ainda vivesse como profissional do audiovisual, essa época do ano estava me lançando em arrumar um filme pro churrasco de fim de ano, teve um período que não precisava correr atrás, as produções é que corriam atrás de profissionais, tipo anos 1980/90 ou até 2000 e pouco. Muitas marcas fazem filmes com o assunto natal. Muitos perus, frangão, linguiça vão ao ar cuidados por mãos de efeitos especiais, diretores de fotografias e pós-produção nas ilhas de edição, filmes de shoppings não ficam atrás com promessa de sorteios de carrões importados, lojas de vestuários e de bebidas não ficam na rabeira. Aposentado e longe dos sets, sei que tem muitos técnicos nos seus grupos de zap se vendendo para um trabalho, e isto vira leilão nas produções, vindo o preço desabar e o profissional ser desvalorizado, poucas produtoras têm a ética e moral de pagar cachê integral negociado via sindcine. Viva a leitura, os estudos, a literatura, a arte da palavra escrita e falada no pé do ouvido, e de quem gosta de poesia e prosa e conto e crônica e arte em geral. Falar nisso, essa noite eu filmei, um filme pesadelo e pesado, era numa praia e de noite, muitos refletores grandes e pesados para ser colocado em torres pra iluminar areia e mar. Ainda bem que eu tava com parças competentes da equipe que escolhi.

AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL


 AQUI TEM HISTORIA NO AUDIOVISUAL

Ao virar profissional do audiovisual no início de 1980 na boca do cinema paulista, ganhando bem nas produções dos longas-metragens e publicidade, achei que tinha virado um nordestino RICO, ora, cheguei em Sum Paulo preparado pra qualquer serviço, vinha de ser boia-fria por mais de 5 anos nos campos irrigados da minha paradisíaca São Gonçalo, distrito de Sousa, PB, então filmando em casas e locações da elite paulistana ou burguesia do primeiro escalão com atrizes e atores famosos ou bonitos modelos(as), isto me envaidecia, conseguia, inclusive, mandar dinheiro pra casa da minha mãe e pai, com isso ajudava nas despesas dos irmãos que lá ficaram, alguns ainda em crescimento e momentos de estudos técnicos em agronomia em outras cidades sertanejas, para tanto precisavam levar mantimentos pra suprir necessidades básicas. Muitas vezes dava vontade de entrar numas de comprar um carrão do tipo que usava os diretores de publicidade, os filhos de bacana, logo me vinha o pensamento de que poderia faltar grana pra bancar meus 4 filhos e a reforma da casa que havia recém adquirido no bairro do Campo Limpo, ou é Capão Redondo? Risos.
A ficha na cabeça desse cabra caiu dizendo que eu não era nada disso, de ser classe média, logo depois de pesquisar e escrever o livro Paraisópolis, caminhos de vida e morte em 2000, editado em 2002 pela Editora Zouk com financiamento de edital público da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, edital em que o agente cultural tinha que correr atrás das empresas para patrocinar o projeto. Diferente de hoje que tem os financiamentos direto pra alguns projetos. Consegui convencer uma empresa de locação de material de luz pra cinema me patrocinar. Cinecidade Locações Produções do querido Jose Macedo (Jamelão).
Pra ficha cair em definitivo e mostrar que eu não era mesmo pertencente a elite do cinema, nem daqui nem da China, e entrar com tudo na turbulenta e politizada luta de classes, me caiu a ficha de estudar história com graduação com licenciatura, graças ao ProUni, mas só depois de fazer o ensino médio na modalidade de ensino EJA. De lá pra cá minha escrita pra meus romances e os textos que escrevo pra falar nos saraus ficaram mais contundentes nos pormenores de que sou um pé rapado pertencente a pobreza das margens e que continuarei a ser rejeitado como um ser pensante que escreve sobre seus páreas, pra deixar registrado que a luta de classes terá que existir e seguir em frente, sem entregar a rapadura raspada na boca da elite que quer nos ver preparados para ceder a ela nosso couro e carne de primeira, quando se é novinho, carne de pescoço e osso quando se é um coroa como eu.

Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

 Zé Sarmento e sua VAZANTE de poesia!

Por: Varneci Nascimento

São Paulo tem me proporcionado conhecer tantos escritores e, entre eles meus conterrâneos nordestinos, que trabalham com a palavra nessa megalope de sonhos e desilusões. @zesarmento sempre esteve ligado as artes, mas nem sempre produzindo sua arte que pulsava, desde a infância, no coração e nas veias deste paraibano que foi alfabetizado aos catorze anos. Sarmento é um jovem aposentado advindo do cinema, que está em plena atividade literária, força pulsante que só veio dar mais atenção depois do tempo ganho com o afastamento dos Studios de filmagens.
A literatura deste poeta é tão vibrante como quando ele sobe nos palcos para recitar. Quem assisti-o pensa que ele está brigando, e de fato está, porque sua poesia é denúncia, é faca de dois gumes na goela deste sistema opressor que se acostumou a matar pobre, preto e favelado, ainda por cima, convencê-los de que são os culpados. Estou lendo Vazante no metrô, indo para eventos literários e, às vezes escondo as lágrimas vindas ao rosto, porque vejo em Tonho de Joaquim de Moça os milhões de nordestinos que gastaram suas vidas, em troca de um prato de comida. O triste é ver alguns convencidos de terem feito uma troca salutar. Que venham tantos Sarmentos para usar a poesia como arma de luta social, porque quem se une a dor dos outros pode até ter um inferno astral, mais jamais carregará a responsabilidade da omissão. Vazante foi publicado pela @selintrovoar e é brilhantemente ilustrado por @joao.pinheiro Fico com vontade de ler Vazante, chame Zé Sarmento nestas redes tidas por sociais, que afastam os próximos e aproxima mais ou menos os distantes.