Homenagem ao meu finado
pai que um dia foi vaqueiro.
Rude homem do sertão de João Guimarães
Rosa e da caatinga nordestina de Graciliano Ramos.
A terra que diga da valentia em busca de reses soltas
em meio à caatinga rala, sobre os lajedos e matas intransponíveis de meter medo
até em cavalo de aparte, por espinhentos
galhos e traiçoeiras brenhas os despedaçar o corpo.
Sobre o alazão enfrenta a vegetação da
caatinga. Pele-Couro chamuscada pelo sol-calor de quarenta graus, encontram pra
perseguição com segurança, gibão de couro de rés como carapaça impenetrável
pelos esporões da mata calcinada.
O cavalo é seu corpo, parte inconteste
de si mesmo, ainda com poder de ser também sua alma para a somatória de tanto
entendimento de se conectar com o
sustento que os levam a viver uma vida ardilosa.
Seguro das rédeas do destino, argúcia
de homem que nasceu para as brenhas, assim como seu companheiro e irmão de
afobação e fôlego tenso atrás de rês apartada do rebanho. Os dois na somatória tornam
um, se acham como amigos de ganha-pão em fuga para resistir ao máximo às
intempéries da vida insidiosa da caatinga.
Cavalo-homem, homem-cavalo endiabrados
nas esporas que os ferem, se completam para a contenda das obrigações: pegar o
boi e derrubá-lo pelo rabo, amarrá-lo pelas pernas e mascará-lo. Nessa configuração estará
seguro o trazendo de volta para o curral, preso pelas artimanhas de quem sabe
lidar com gado desde menino. Sim, ali
este homem foi criança sem letras, foi jovem sem cultura. Dela só sabe da sua
lida. É homem sem medo de se entregar a caça de animais fugidios, e será mais
um a morrer no esquecido das terras sem lei, que dela só ganhará os sete palmos
para viver no sossego do céu azulado do sertão após a morte.
Na apartação e perseguição,
os dois animais, um irracional ou outro muito homem, se permeiam de movimentos,
desviando-se de solapadas mortais pelo meio dos galhos e cipós de madeira de
lei como o angico, a aroeira e afins de matos brabos como descreveria Euclides
da Cunha.
Sangue ferve e coração pula pela
estripulia dos bichos, quando alguma rês se veste de euforia e sai pela
caatinga para fugir ao destino das matas nas cercanias. Um em solo medonho de
tabuleiros de pedras, o outro no medonho do dorso que se esquiva para sobreviver em harmonia com o brado do destino que faz da
mata, sua reserva para a morte, se o
erro estiver por ordem do dia.
Não errando nem homem nem cavalo,
estarão aptos para a próxima aventura, quando algum dia, se desgarrando nova
rês do rebanho, se embrenharem nos veios desconhecidos da caatinga e tenha que
ser encontrada, para dar, homem e cavalo, juízo dela ao latifundiário que os
explora desde o Brasil colônia.
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