AQUI TEM HISTÓRIA - A DESCOBERTA DA LEITURA
No tempo d'eu menino, depois de aprender a ler corrido aos 14 anos, era o que tinha de livro e literatura pra me retirar da vida dura da realidade da seca, ou de invernos que não se seguravam, e mesmo assim, tinha que ir pro cabo da enxada.
Gibi não tive acesso. Revistas de fotonovela, às vezes aparecia na casa de umas primas, lia até acabar a história, também me distraindo vendo as calcinhas das moças novinhas quando se sentavam, usavam minissaias. Sonhava com as fotos com gente diferente da gente com que convivia, tipo uns perebentos, uns buchudos, uns só os ossos à mostra e cancerosos, outros azaranzados nas suas loucuras andando pelos aceiros das picadas falando com seus demônios, remendados ou rasgados com as tiras mostrando a pele áspera queimada por quentura medonha de tanto entrar nas matas pra cortar lenha, tacar no espinhaço dos jegues e vender de porta em porta, era o gás de cozinha que tinha pra ir parar nas trempes dos fogões a lenha. Os jegues caminhavam cambaleantes de tanto peso nas costas, com a barriga raspando sua desgraça servil no chão.
Já na grande metrópole paulistana, com 20 anos de vida sertaneja, começando entrar no sangue a vida da urbanidade de guerra pra sobreviver sem desmandos, fui descobrindo outro tipo de leitura, as mais elaboradas, de autores que hoje são sinônimos de literatura clássica. Os romances sempre me tomaram mais tempo do que a poesia, mas dela não escapava, lia e já dizia no silêncio de mim mesmo num quartinho de cortiço do bairro do Bixiga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário