sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CARTA AO FACE


Prezado face, por que insiste tanto em me deixar preso a ti?
Estimado amigo, quero muito me levantar dessa cadeira num dia de sol, sair pra espairecer, ver os amigos de toque e fala real, olhá-los nos olhos, dar um abraço.
Porque insiste tanto me segurar nessa cadeira, olhando essa tela colorida, cansando as pernas que pede uma caminhada, os braços que pedem uma esticada, a bunda dormente que pede pra se livrar da cadeira e soltar um peido em liberdade sem está travada.
 Por quê?
Acho que não gosta de mim. Por ganância e inveja quer me ver gordo. Quer me ver com a coronária fechada, viajando na maionese olhando orgulhoso que tenho um milhão de amigos de todo o planeta, que quando me curtem, faz-me achar que sou muito importante. Mas e daí? Pois quando saio às ruas e tenho contato com as pessoas de carne e osso e não de bits, ninguém me dá tanta importância? Acho, amigo face, que você quer me ver sem fôlego, correndo para os medicamentos, para o analista.
Amigo face entenda a minha posição. Um dia gostei muito de sair por aí. Sair para andar de bicicleta, correr, conversar no bar da esquina, na padaria, na banca de jornal, na casa de amigo, me divertir em algum lugar vendo  pessoas. E hoje, veja o meu estado, me prendi a ti e sou esse que se acha tão importante, que até para os filhos, não sou mais atenção, nem eles para mim. Hoje é um “oi pai, oi filho!” Aí se trancam no quarto quando chegam da escola ou do trabalho, e ficam lá no seu canto, eu no meu, tendo você face como sendo a face opaca da ingratidão por afastar meus amigos de verdade de anos  desse que tanto a ti se apegou.
Amigo face, tou indo, espero que tua vida siga em frente, mas que não deixe as relações entre as pessoas perder o tato nem o contato como no passado, antes do teu surgimento.
Valeu amigo! Abraço e se cuida!

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