Prezado face,
por que insiste tanto em me deixar preso a ti?
Estimado amigo, quero muito me levantar dessa cadeira num dia
de sol, sair pra espairecer, ver os amigos de toque e fala real, olhá-los nos
olhos, dar um abraço.
Porque insiste tanto me segurar nessa cadeira, olhando essa
tela colorida, cansando as pernas que pede uma caminhada, os braços que pedem
uma esticada, a bunda dormente que pede pra se livrar da cadeira e soltar um
peido em liberdade sem está travada.
Por quê?
Acho que não gosta de mim. Por ganância e inveja quer me ver
gordo. Quer me ver com a coronária fechada, viajando na maionese olhando orgulhoso
que tenho um milhão de amigos de todo o planeta, que quando me curtem, faz-me
achar que sou muito importante. Mas e daí? Pois quando saio às ruas e tenho
contato com as pessoas de carne e osso e não de bits, ninguém me dá tanta
importância? Acho, amigo face, que você quer me ver sem fôlego, correndo para
os medicamentos, para o analista.
Amigo face entenda a minha posição. Um dia gostei muito de
sair por aí. Sair para andar de bicicleta, correr, conversar no bar da esquina,
na padaria, na banca de jornal, na casa de amigo, me divertir em algum lugar
vendo pessoas. E hoje, veja o meu
estado, me prendi a ti e sou esse que se acha tão importante, que até
para os filhos, não sou mais atenção, nem eles para mim. Hoje é um “oi pai, oi
filho!” Aí se trancam no quarto quando chegam da escola ou do trabalho, e ficam
lá no seu canto, eu no meu, tendo você face como sendo a face opaca da
ingratidão por afastar meus amigos de verdade de anos desse que tanto a ti se apegou.
Amigo face, tou indo, espero que tua vida siga em frente, mas
que não deixe as relações entre as pessoas perder o tato nem o contato como no
passado, antes do teu surgimento.
Valeu amigo! Abraço e se cuida!
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