A crise de valores na sociedade contemporânea
Por José Marques Sarmento
Reflexão de um cão vira-lata, preso na jaula dos cachorros finos
Refletindo
cá comigo, no meu canto de ser só meu, bom tempo meu que ninguém mete a
mão, tempo de escritor, diria, porque sem esse tempo que é só nosso não
há criação.
Nele
sou mais eu cá com minhas dúvidas, minhas angústias, minhas alegrias.
Quem tiver tempo de sobra que divida com que tem tempo sobrando. No
tempo que é meu, eu me acho como a água encontra o mar. Uma vez ou outra
a água do tempo meu, de estar em sobras múltiplas comigo mesmo, pode
ser revolta, mas me seguro e peço que não passe a quem tem tempo livre
também, a ira dos endemoninhados, dos que não sabem viver entubados na
UTI dos valores contemporâneos.
Digo
isso, mesmo sem conhecer direito o aparato das personalidades da maior
parte dos cidadãos (não sou psicólogo) que, a mim parecem, e só a mim
parecem, ter a “persona” de uma espécie de Macunaíma, desencardidos uns,
encardidos outros, que tiveram a possibilidade de se branquear por meio
dos conhecimentos de causas e efeitos e, que, amparados nas leis
vigentes, se acham os mais enfeitados da pintura descolorada da
delinqüência para se amparar sobre os pilares que sustenta a laje
movediça da crise de valores.
Ora,
tempo livre meu, me leva às letras, a aglutinação irreverente delas,
para definir as frases, os períodos longos, dando-me uma forma de
expressão, sem judiar a retórica contemporânea, mas descer a borduna nos
nefastos que acham que os valores se esfriaram, e para os alimentar por
esse tempo, o fizeram ir parar nos fornos aquecidos a mil graus de
calor e se derreteram.
(Resolvi
escrever sobre o tema levando o leitor a refletir também. ?E não é pra
isso que serve a escrita, desde aquela vindo das cabeças mais acentuadas
no dístico que as distingue como pedra preciosa de lava bem formada, à
aquela que encena como representante também de um segmento social menos
sedento de sabedoria e que se formou da pedra bruta como eu?)
Pois
bem, os valores não estão mais em crise de ser ou não ser, pelo visto.
Os valores já se entrincheiraram na desordem, por escutar que, o jeito e
a ordem são se dar bem, não importando os meios pelos quais querem
levar vantagem. Em crise e, achando que tudo pode, acharam um meio de se
enfeitar para redigir o panorama atual do povo brasileiro, desde aquele
mais simples cidadão vestido de comum andando pelas ruas fazendo
negócios escusos, a aqueles que se fardaram num passado para receber o
diploma universitário.
O
saco de forte fibra de sisal ou algodão que antes levava a disposição
da multiplicação dos pães para a excentricidade do caráter nacional, não
mais distribui caráter único, não, duplicado por mil e
ensacado por sacola de plástico barato se encontra desde muito, aja
visto que todos estão mergulhados na defesa da honra e da hora exata de
se dar bem, à saber bem mais, em vista dos escândalos que se renova a
cada dia mostrados pela mídia que os desensaca, deixando a olhos nus, e distribui gratuitamente a quem quiser se informar dos valores em crise.
Foi-se
o tempo, em hora tão adiantada nas informações, do homem se deixar
minimizar pelo largo corredor do pregresso e não querer vivê-lo de forma
intensa, possuindo aquilo que a indústria o põe às vistas e o cega de
informação para tocar no produto e dizer: é ele que eu quero, é dele que
preciso (mesmo sem precisar). Quero só pela forma de dizer que
consegui, nem que seja por vias ilegais, mas eu preciso. Quero ser dono
da usura, imperador da fortaleza que me cerca, quero ser o capanga que
resguarda a suntuosa indústria psíquica interna que acho que devo
possuir.
Assim
não há quem queira caminhar pelas vias legais até o altar da cidadania
plena, desde os bem informados, aos maus. Pelo menos um deslize, se não
deu até agora, vai chegar a dar o cidadão de hoje para se compor da
sabedoria e do poder de conseguir regurgitar pelos cantos da boca a baba
da avareza.
São
valores impetuosos perseguidos pelos colarinhos brancos/azul/anil,
dizendo que ama o Brasil, mas que vão se divertir fora levando os
malotes captados das repartições públicas. Numerários vastos adquiridos a
vista de grossa e engenhosa corrupção.
Assim acontecendo, há o ensinamento para quem já aprendeu na graduação, chegando a fazer a pós, há o ensinamento a quem quer aprender fazendo o curso superior, há o ensinamento a quem não nasceu para aprender em poucos dias, por só ter feito o ensino médio, e haverá o ensinamento a quem não vai aprender
nunca, por ter ido só até o ensino fundamental então, por essa razão,
se masturbam de subserviência suficiente para tentar mamar na teta
daquele que se fez como homem dono do alheio. Esse é um dos piores na
crise, porque se deixa levar por pouca prerrogativa e assistencialismo.
Todos,
ou quase, estão e estarão à disposição de mudança de caráter e com as
mãos coçando para se enturmar com quem tem o poder de demanda de
fazer-lhe um cliente do desmando. (Sem esse aprendizado passado pelo
mau-caratismo brasileiro, não há solução para o enriquecimento, para os
louros da vitória e a participação na renda do tesouro nacional).
Visão
caótica, sei que é essa, de ceticismo a dar com pau no cangote de um
mal-feitor, mas não posso fugir para nenhum lugar do cantinho da mente
sem que veja no cidadão atual, a acidez da crise cruel de ser ou não
ser, vou ou não vou. Escuto a conversa no repouso que requer o meu
ouvido, por todos os cantos imagino que seja essa a conversa,
infelizmente da maioria. Vamos, cara, entrar nessa, tem tanta gente se
dando bem. Vamo que vai dar certo. ...E se formos pegos? Esquece, com o
que conseguirmos, compramos nossa liberdade, o nosso repousa estará
garantido pelos seqüentes anos, e outra... nunca mais nos acharão sem
estarmos com os cálculos da fuga engendrada. No máximo, por aqui, vamos
puxar um mês, dois. Parece que não conhece o judiciário do nosso país,
as delegacias distritais, a polícia. Parece que não conhece o homem
atual, estudado, alfabetizado, formado em letras, em medicina,
engenharia, administração, parece que não conhece o pedreiro, o padeiro,
a parteira, todos precisam do papel que faz vislumbrar a quem estar
vivo sonhar. Por dinheiro é tudo e nada mais!
Espero
que me entendam, quem anda alegre ou entristecido com a crise de
valores. Primeiro, nesse cara, tem que ir pondo com vaselina, mais a
frente com cuspe, manteiga é muito cara, depois um cuspezinho não vai
mal, cuspe é de graça, quase no final, será apresentado a pasta ”nada”, isto é, temos que lhe por à cru, e no ”The End”, irá ser recebido com um punhado de areia.
Cuidado
cidadão moderno que quer se elevar de sabedoria para passar a perna
naqueles coitados que vendem confete por aí em meio à folia de carnaval
fora de hora para sobreviver, você merece ser “tarado” com despudor.
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