quarta-feira, 6 de maio de 2020

ÓBITO ÓHBITO HÓBITO


ÓBITO ÓHBITO HÓBITO
Uma agonia sentir angustiado.
As imagens me fazem angustiado.
As audições me fazem angustiado.
As necessidades me fazem angustiado.
O dia segue angustiado.       
Óbito óbito óbito!
A noite chega e continuo angustiado.
Óbito, óbito, óbito!
Ah, esse isolamento sem distanciamento.
Tudo por ver e ouvir sobre a morte que não largo a foice. Óbito!
Anda de dia e de noite obitando pessoas.
Em todo mundo. Óbito óbito óbito!
Quem mais estava pela hora da morte são os que mais caem. Óbito!
Sorrateira ela anda por vias escuras, estreitas.
Não importa não. Iluminadas. Largas. Qualquer hora em todo lugar. Óbito!
A vigilância da cidade está cuidando de outros assuntos. Macabros!
As pessoas estão em seus aposentos. Pavor. Óbito!
Presas em si mesmas com medo de dá de cara com espirros de óbito.
Todas angustiadas. Acham que serão a próxima vitima.
A morte por esses dias anda com cara de mau. Impiedosa.
Mascarada pelo ódio ou pelo amor de tirar uma vida que já não existe.
Ou que existirá muito.
Ela impõe medo. Óbito!
Sabe todos que estão trancados em suas casas que é hora de vigilância.
Hora de limpar as mãos como nunca.
Até  mãos que já esganaram mulheres estão em vigilância.
Até mãos que manusearam dinheiro sujo estão em vigilância.
Em luta com o sabão. Óbito!
Nos hospitais e casas de repouso a morte está mais presente. Apetitosa. Por óbito!
Ela ama estar nesses lugares.
Com calma ela vai prolongando a agonia do doente.
Então chega uma hora que desfecha sua foice. Óbito!
Dá muitas gargalhadas vendo um amontoado de paciente entubado.
A maioria que não tem como entubar. Ela leva primeiro. Óbito
Geralmente aqueles doentes pobres, das franjas da cidade. Óbito!
Esses não são contabilizados como morto infectado.
Ah, foi o coração fígado falta de ar nos pulmões. Óbito!
Cadê as máquinas! Grita a multidão tirando reservas de ar dos peitos.
Cadê as máquinas de ventilação para os doentes pobres?
Vai morrer mais da minha gente do que da gente outra.
Agentes de saúde não dão conta de tanta gente na fila para cuidar.
Escolher quem  vai morrer é um dilema que angustia.
A granfinagem tem de onde tirar e a quem cuidar.
Ah, essa angustia que não me larga nem na hora de profundo sono.
Haja pesadelo...Haja óbito, óhbito, hóbito!
E desgoverno com chacota exorbitante e sem pranto.