sábado, 17 de setembro de 2016

MONALISA DONNA MINHA X (continuação)





 211-Mona Lisa-
Calma, camarada Koskovisk, o canhão da revolta é ruim pra sociedade lúcida, deixa horripilante seus dias fatídicos.

212-Da Vinci-
Agora, senhora, quer me ver sorrir, que me ver saltar e muito mais fazer, até rezar dobrando o joelho, quer me ver tão rico, cheio de vida e ousadia para seguir os dias, tão gordo, tão farto? Mim faça de cidadão criado por ordens e deveres, beleza do meio, rapaz do seu elo ligado, um menino com chão firme para pisar e que tenha pão farto pra degustar.

213-Mona Lisa-
Não corra de mim, Senhor pintor, quero fazer minhas mãos encher-te de tocar por carinho bondoso, meu calor iluminar-te de odor e minha vontade de te amar encher-te de amor, assim me encontrarás cheia de vida e têmpora brilhando a qualquer sol existente ou faltante.

214-Da Vinci-
Não, antes me ouça com atenção, quero que você permaneça como nos dias passados, os primeiros desse atelier, depois das dores sofridas causadas pelo bicho homem sem cor, veneno de branco, que mesmo sem ser aceito pelo de cor áspera, ainda causa muita dor.

215-Mona Lisa-
Pra isso me tire da guerra dos falsos dias, da greve das classes baixas, das notícias ferroando a mente nos mais lúcidos momentos. Faça vir a minha frente os dólares que dominarão o mundo contemporâneo. Não roube o último dinheiro que me restou. Não me negues um PF ao menos, aquele  que algum dono de botequim me negou, dizendo que tinha em sobra, mas que não ia me dar pra não me viciar. Ponha minha cara para fora do anonimato e me resgate do poço fundo das incertezas.

216-Da Vinci-
Dou tudo isso, mas se você não negar o sapato que o dono da fábrica um dia me negou, dizendo que já tinha mandado sua parte para instituição de caridade e que não lhe encha o saco, que está prestes a estourar e sair voando feito uma bala e pegar em quem de longe o espia para retirar o que é seu na mão grande.

217-Mona Lisa-
Casaco que um dia ele tirou de alguém nos desgoverno, de alguma repartição, de alguma instituição dessas modernas, ou então foi  roubado da euforia que o time  negou no final do campeonato, perdendo para um fraco adversário que até o admira. Me dê tudo isso, senão te jogo no seio dos banidos, dos moleques varridos que usarão por muito tempo uma tal de FEBEM, por estarem  perdidos pela passagem discreta e direta pelo ponto final do último trem periférico.

218-Da Vinci-
Não quero que me falte toda força capaz de girar os substantivos depois dos verbos e que seja decepada a cabeça dos trouxas, pois no meu pé ninguém vai pisar.

219-Mona Lisa-
Que é de sola, de borracha resistente, do gigante Pau-Brasil, da árvore Jacarandá.

220-Da Vinci-
Sabe por quê? Não sabe, né? Digo, é porque minhas mãos não vão pedir esmola, elas desabrocharão para a glória de todo dia na certeza do sempre ter o que  comer.

221-Mona Lisa-
Do nascer.

222-Da Vinci-
No bom vestido.

223-Mona Lisa-
Do beber.

224-Da Vinci-
Um bom uísque.

225-Mona Lisa-
E depois tirar bebê.

226-Da Vinci-
Pra deixar de derreter.

227-Mona Lisa-
Sem deixar transparecer que a linda anda na moda, anda na linha estrema do bem viver, retirando da melhor loja dos shoppings, a cobertura da moda.

228-Da Vinci-
Nada de dizer que tudo será egoísmo de dias contados o que virá para aquela gente de pires na mão pedindo dinheiro aos estrangeiros com a gordura financeira de alguns saindo pelos cantos da boca.

229-Mona Lisa-
Está lá na garagem o carro a pagar trancafiado por solda bruta numa caixa de tradição, por ser assim que vão ficar devendo ao patrão que lhe deixou na mão por ter pisado de montão por cima de sua comiseração. Sendo assim que irá acontecer, irá chorar e ficar sem credito na mão.

230-Da Vinci-
Garagem difícil de ladrão entrar irão gradear, pela guarda vigilância todos ligados nas noites das madames agonizando com doença de cama.

231-Mona Lisa-
Eu quero ver algumas rebolar nas noites de sonambulismo e ter acesso ao orgulho reprimido. Afirmo que irão sair de cima da minha sombra, pois sou sobra frágil e frigida, não tenho mais direito a nenhum prazer.

232-Da Vinci-
A futilidade lhe tirou a harmonia das células viris que fazia questão de com ela estar, e nenhum britador a fazer mais gozar.

233-Mona Lisa-
Preciso tomar gemada pra encontrar minha tara perdida, meu corpo não tem sentimento é apenas uma semente que não quer renascer, falta  o adubo do sêmen para fazer-me viver.

234-Da Vinci-
É calado, também não fala nem geme, cai no abismo do cúmulo, serão os tempos futuros na caçada aos pokemons.

235-Mona Lisa-
No ontem dizem que era pior, tinha a morte de porta em porta.

236-Da Vinci-
Me enganei por demais nas noites sonâmbulas, pelas drogas medicinais e não medicinais, os calmantes me deixaram sem a harmonia do amor.

237-Mona Lisa-
Por isso eu sofro e choro piedosamente. Fico triste em ver triste crianças falando com a boca bem cheia de língua nas noites de farra que se perverteram compenetradas com a penetração por dinheiro, para comprar o que comer e vestir.

238-Da Vinci-
Caíram mesmo no abismo do cúmulo, no abismo do túmulo que mais tarde serão encerradas.

239-Mona Lisa-
Sai de perto de mim, Da Vinci. Não sou bombeiro para meter fogo e apagar.
Não vou mais acender a chama do seu amor e depois sair vaiada por não poder continuar a atiçar. Não vou entrar na sua nem cavar o túmulo da minha própria sepultura. Se eu entrar aí, nunca mais sairei, porque nunca mais me soltarás.

240-Da Vinci-
Você não sabe o que está perdendo. Também não preciso de ninguém bruto perto de mim. Tem que haver carinho, afago, mimo pra depois entrarmos um no outro.

241-Mona Lisa-
Tem que haver uma espera, um apoio, uma linha de convergência mútua. Nada de entregar minha grana, minha fama de avião. Se não presta, não me satisfaz, dinheiro não leva.

242-Da Vinci-
Se for assim, te pergunto. Por que as madames zombam dos guris que ejaculam a distância, que querem levar sua grana, sem deixar um pouco de seus movimentos  desenhado na mente, na zona erógena?

243-Mona Lisa-
Respeito com os direitos legais das mulheres da zona, Da Vinci.

244-Da Vinci-
Polícia, polícia, homem da lei, vou viajar pra bem longe pra ver minha cria exposta nos museus do  mundo, pra que você prenda a minha criatura por ela não está querendo viver mais com o criador. Levarei sua imagem na esperança perdida de minha vida  que foi fula.

245-Mona Lisa-
Não me entregue para aquela gente, meu melhor Criador, o mais famoso de todos. Não me faça resto de soro de entrar na veia de doente à beira da morte em hospitais alquebrado. Se isso acontecer de ser, vou viajar na carona dos sonhos e nunca mais volta à realidade.

246-Da Vinci-
Você não presta, Mona Lisa, abriu uma fresta de esperança no meu peito agora quer me largar. Não sou do tipo que vai gostar de estar exposto iluminado por facho de luz amarelo igual você vai viver pela vida toda. Ainda te digo, fugirás com o que eu tenho de material e espiritual  deixando meu amor na sarjeta esperando as patas dos monstros que os governarão em frente a faculdade São Francisco.

247-Mona Lisa-
Não me deixe tão maluco. Se for assim matarei de graça só pra ver o corpo ser fulminado no chão da amargura e começar a se debater sofrendo as dores da sorte por ter morrido como revolucionário, e não feito um passarinho em seu ninho de quentura preparado pelo capim da cultura ocidental. Eu deixarei um corpo no chão, nem que seja um só, pisado pela bosta que saem dos cavaleiros do cão.

248-Da Vinci-
Policia de verde, sei que você sentiu o meu pincel, não me pagou porque não quis, dinheiro você tem, recebe propina dos marginais e traficantes desleais, pardos pela cor da raça.

249-Mona Lisa-
Não fale desse jeito com eles, Da Vinci, antes de tudo os tire do lixo, os punha no luxo que é o que todos sonham, assim dirão e farão as novelas das oito que será o elixir do divertimento pro povo daquele país carente de entendimento.

250-Da Vinci-
Entre já e sai já do meu espaço focal, venha e vá assim estará sempre presente e ausente. Do jeito que vai, a relação não agüenta, as brigam ficam iminentes.

251-Mona Lisa-
Preciso jogar alguma bola pro ar. Tenho o direito de soltar todos os papagaios que estão presos nos pavimentos dos falantes e não farsantes que se desalentaram ao irem presos em pleno sonhar de outubro.

252-Da Vinci-
Eu vou é quebrar um grande ovo e ver se sai dele uma dúzia de pintinhos galados há alguns meses. É a lei da produtividade dos tempos de agora. Se não produzir, será renegado ao estado cadavérico de quem está morto.

253-Mona Lisa-
Eu também preciso agir, Da Vinci, como aquele grande rei, o rei dono do cinturão das leis que penaliza a competência da sobrevivência dos pobres coitados  que pendura a conta pro final do mês, chegando esse dia de não ter como quitar. Se não for do jeito que eu quero, vou jogar açúcar, quero dizer merda na produção dos dias que todos inventam e sair vendendo pra todos com caras de bobo, e dar uma de boba também, pra ver se me safo sem pagar a ninguém, dizendo que tudo que eu vendia era coisa feita de verdadeiro caviar russo.

254-Da Vinci-
Vou também ser forte, Mona Lisa, fazer um míssil sair voando fazendo piruetas no ar da minha imaginação e ir de encontro a aquele avião que transporta os grandes que mandam no mundo de todos os tempos. Aí eu quero ver aquela gente poderosa sair pela rua se descabelando gritando, salve meu filho! Salve o meu filho! Ele é bom e não tem cara de jirico como a maioria desse lugar tupiniquim nanquim cáften, correndo pelo chão perfumado da dama do general.

255-Mona Lisa-
Homens, veja como sofro, sou um pequeno ovo chocho depois de ser considerado  um eldorado, sem cama pra esquentar o saco de dormir, sem quintal pros meus filhos brincarem, sem varal de estender as roupas da fortaleza do poder.

256-Da Vinci-
Conto que hoje sou um homem desiludido pela ferida que os tempos modernos me fez. Estou com os olhos sangrando sofrendo as batidas no coração, ele não resistirá  por muito as grandes emoções.

257-Mona Lisa-
As emoções não passaram por aqui por esse peito, sangrando pela falta de realizar o que tinha que ser feito.

258-Da Vinci-
Acho que vou perder a voz e morrer com a ferida refinada pela voraz forma de consumir o pudim do desenvolvimento, depois de morto, ponho a boca para algum santo do momento beijar e dar o perdão pelos pecados consumados no decorrer da minha produção.

259-Mona Lisa-
Porque não pede para ele te envivecer, fazer da tua cara um santo homem e pregar  nas cruzes das igrejas mais freqüentadas pelos menos desafortunados e madrugadores? Assim será uma imagem imaculada e será velado todos os dias de toda hora do sofrimento interior, pelos pagadores de promessa.

260-Da Vinci-
Eu não mereço o clamor que virá daquela gente que será os mais fervorosos católicos, depois de tanto pecado cometido e de ter vivido um caos mental e comido a minha principal peça para a criação.

261-Mona Lisa-
Quem sabe não cremarão o teu corpo e te amarão até morrer e virarão santos alguns pelos sofrimentos que passaram pela falta mínima de tudo que tem um ente pra sobreviver.

262-Da Vinci-
Não me faça pensar uma coisa dessas. É covardia massacrar a cara de quem será perdoado pela fé divina. Você com esse papo de não sei quê, parece mais uma lamparina querendo acender a noite como se fora dia. Sai de mim agonia de mulher mal-amada, sai pela tangente dos verbos e adjetivos das palavras e frases de efeito para pôr em evidência o teu conhecimento literário e linguístico.

FIM
Aqui jaz essa viagem lúdica, descompromissada com qualquer gênero literário, que me levou a escrevê-la num quartinho do Brás em 1979, com um ano e pouco de São Paulo. Era muito tímido, vindo do auto-sertão da Paraíba, Sousa, com muita dificuldade de relacionamento, querendo dizer alguma coisa, saiu esse texto, vindo a bailar no que queria dizer, carga poética comum a quem nasce naquelas terras e que fora criado ao som de cantador-violeiro, sanfoneiro, ritmistas de pandeiros e zabumbas, ao som dos relinchos dos jegues e berros das cabras, que davam fuga certeira para moleques arteiros.

ZéSarmento










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