sábado, 10 de setembro de 2016

MONALISA DONNA MINHA VII (continuação)

121-Da Vinci-
Tá bom minha querida Mona Lisa, que um dia deixará de ser lisa e dura, e se condenará ao supérfluo. Perdoe essa minha falta de sentimento para com quem quer ser recriada e penetrada ao mesmo instante da criação. O erro não é meu, é do próprio sentimento comum a todos os artistas,  desejar  e não desejar a sua cria intimamente, por ser a musa, vivente só para ser apreciada pelos desejos secretos e não viver em pessoa a ser tocada.

122-Mona Lisa-
Então adeus o medo do meu criador, já não existe aquela total enganação e encenação a despeito de quereres me desejar ou não em viva pessoa como tinhas nas preliminares da nossa relação.

123-Da Vinci
Levante-se e ande pelos montes cristalinos do meu peito, pelo menos a última vez, beije minha testa usurpando-a, alise minhas costas com as garras da ambição, só não cuspa na minha cara, assim seria desmoralizar demais nossa discussão.

124-Mona Lisa
Levante-se, então, erga os braços para cima da cabeça até chegar aos céus, faça a pincelada derradeira para renovar a minha expressão corporal, pois a facial está concluída. Depois carregue novamente as energias e venha mesmo em bons ou maus dias pra junto do meu peito quando se cansar da vida que vais levar como artista de pobreza a dar com pau.

125-Da Vinci-
Eu não gosto muito mais do seu sistema de avaliação, ele já não será suficiente para sustentar a base de corrupção que entrará a  vigorar naquele país que, dizem ser do futuro, mas que nunca chegará a ser pelo seu provincianismo e povinho. Feito de cafajeste de bem e políticos de mal com a sonhada oligarquia vigente no traseiro do quintal alheio embolsando a parte maior do boi comestível  e emprestando a parte maior a juros inexistentes aos bancos, deixando ainda mais outras classes menos favorecidas desfalcadas de bens principais.

126-Mona Lisa
É assim que me queres ver sorrir a qualquer hora passando sempre por essa demora de dizer às coisas que sinto? Um sorriso falso em certos lábios não é tão fácil de livrar, para encantar ou desencantar de vez a transformação daqueles que quer ver e sentir o hálito infestar o ar da imperfeição facial. Não é à toa que me banho de lágrimas e vivo nesse lado podre da cidade, no lago apodrecido de germes tentando ser pescado pelos anzóis do desgosto, enquanto os capitalistas giram pela larga cidade mostrando suas fardas douradas, levando o tesouro encostado atrás de imensa corrupção. Vivo numa casa tosca chamuscada de cupim, penalizado igual o sofrimento de reféns em cativeiro, depois sorriem para o vizinho comentando o desenvolvimento do país que a ele ainda não chegou.

127-Mona Lisa-
Ora, Leonardo, não me faça rir à toa dos à-toa na bosta do giro. Esse prefácio de iniciação é pura sentinela dormindo com a arma encostada no saco, bateu o pé o ladrão, no pesadelo do sono, atira contra si mesmo.


128-Da Vinci
A falsa etiqueta não faz o meu gênero.

129-Mona Lisa-
Não acredito. Isso é subterfúgio.

130-Da Vinci
Você os saqueia.

131-Mona Lisa
Não, mas fugirei dos sindicatos e jornais massacrados pelas explosões sacanas em combinação com o poder que vem de cima, jogado por falsos armados fardados anarquistas, escravos do vício do poder da farda.

132-Da Vinci
Eles serão os prendedores da respiração alheia, irão fechar as portas da expressão artística, os Generais desse tal país que se chamará Brasil. Viverão os artistas  penalizados por aqueles que procurarão nos caminhos tortuosos a verdadeira democracia, por julgarem todas as cores como as cores de qualquer iniciativa governista, fazendo deus e o diabo de um mesmo pensamento e produto químico.


133-Mona Lisa
Não admito que seja mais um articulador sem braços, para me pintar e me retratar como sendo a sua Amante de todos os dias de nosso tempo e que serei para sempre a sua musa quente. Você precisa do meu sorriso perfeito para me deixar no jeito de engrandecer e agradecer a quem vai me visitar.

134-Da Vinci
Então, Mona, pra isso acontecer, Madame, terá que engrossar meu caldo e me dar pernas para assegurar o meu sustento, logo depois então me tire do meio daqueles reacionários da sociedade fatídica.

135-Mona Lisa
Essa sociedade não vai lhe aceitar assim como é, não, Criador, pois você viverá por abaixo do máximo desprezo dos sabedores das coisas. Serás sozinho no meio da querela daquela gente, gente que irá jogar seu sonho nos jogos das loterias, dando evasão à ilusão nos jogos de futebol ou nos braços estendidos das avenidas por onde desfilarão as escolas de samba do primeiro grupo.

136-Da Vinci-
Porra, meu, então agüente firme seguro e tranqüilo a decepção dos instantes que o encontro lhe deu. Seja seu próprio grande canalha para levar-lhe as alturas nas alvuras do tempo. Não decepcione o Rei. Ele está presente e quer-te ver sorrir a qualquer tempo de festança ou faltança. Ceda aos seus caprichos, então deixarás de ser marcado a ferro em brasa pelo ferrão de ferrar as ilusões.

137-Mona Lisa
Isso mesmo, terá que ser você e mais ninguém. Sentirás a dor na tua carne, sentirás as dores no corpo onde corre sangue sem nenhum prestigio. Sentirás a dor de apanhar nesse corpo ensangüentado, bem  longe das vistas das autoridades que fazem a fome, a resistência de corpos esquálidos, de ossos a mostra, descalvados de carne gordurosa para esconder a ossada esquelética. A gente, maioria daquele país, te verá desse jeito.

138-Da Vinci
Quero que me entendam por querer levar a liberdade da ação, juntando a tese lúcida da memória, tendo o frio do tempo como o parente mais próximo, vindo cair por fraqueza do espírito e organismo, nas sarjetas estragadas do entendimento irracional do estado governamental.

139-Mona Lisa
Serão pessoas livres de tempo a gente daquele país, por não terem hora marcada para nada que os faça cidadão. Nunca serão soltos da prisão que os aprisionam desde o nascer e não encontrarão o valor individual e coletivo nos esquifes do tempo.

140-Da Vinci
Será que serão todos cruéis os donos do poder soberano daquele povo de país continente, que receberá o nome de Brasil, país do futuro, mas que nunca chegará para a  maioria de sua gente faminta o necessário para a resistência e sobrevivência?

141-Mona Lisa
Nunca serão pássaros livres em voas altos pelas costas da beleza que emana da terra Tupi-Guarani, nem encontrarão  os caminhos abertos para quem quiser por si só partir em busca da alvura dos dias.

142-Da Vinci
Eu queria força maior nos meus braços e pernas para abraçar a terra e pisá-la com a reta certa de encontrar o que dizer e o que fazer para aquela gente sem nada para mastigar pelos dentes. Queria ter o coração para dar as belas mulheres e sentir a sensação alucinante do prazer que é ser e viver no que sobra de mais para os outros.

143-Mona Lisa
Eu queria sentir essa reflexão em outras mentes distantes daquelas pessoas, queria evoluir para a grandeza da sabedoria e, logo após, pôr para dentro de mim o que me faria conquistar a vitória do terceiro tempo de minha vidinha.

144-Da Vinci
Eu queria ter a certeza que iria ganhar aquela casa na loteria, com carro na garagem e mobília, jogando num BAU feliz qualquer, antes de desembolsar os tutus monetários no valor de alguns mil em dinheiro vigente, para pagar adiantados os bilhetes da federal.

145-Mona Lisa
Queria sentir na desenvoltura dos meus dedos a maciez da pele do meu amante preferido, entre muitos outros, queria ver a chama por ti reacender em diversas claras chamas partes de mim. Vamos mais uma vez pôr na telha que precisamos dar um jeito nessa nossa ceia sexual e nos enforcar pendurados numa árvore Pau-Brasil.

146-Da Vinci
Não, agora eu quero é fazer um cego andar por sobre os espinhos do seu próprio destino e depois disso, pô-lo no trono da sabedoria, fazendo enxergar do por que tudo tem um porquê, em seguida pedir-lhe sabedoria florida para a vista que começou a ver, mas que não sabe ainda distinguir as cores do certo e errado.

147-Mona Lisa
Eu quero é correr pelos campos daquela gente índia, das Iaras escondidas e reprimidas naufragando os Sacis e as mulas-sem-cabeça nas conquistas destemidas das matas virgens, usurpadas logo após o sufrágio na urna, enganados logo após a subida ao poder dos homens brancos da nossa descendência. Vou dizer-lhes que não quero mais os distintos referendados outra vez, que o bom seria pôr no poder alguém que saísse do Gene deles.

148-Da Vinci
Eu quero é soltar todas as cordas que prendem a respiração ofegante daquela gente, por viver eternamente dentro da gente política que não sabe fazer e acontecer, nem desfazer o caos nacional, pela falta de cumprir as promessas de melhores dias que fizeram antes do pleito. Dias que ficarão marcados pela presença das raivas repugnantes aos donos de todos os poderes.

149-Mona Lisa
Eu não quero a precisão de um instrumento falso para me guiar, dele já estou cheia e quero acelerar distância.

150-Da Vinci

Eu não quero meu capital diário cotado nas costas suadas daquele povo sem ossos para se firmar como pessoa decente. Eu tenho direito a um determinado valor sem bolor no maço que cabe a mim, mas desde que venha da corrente deslizante sem a oscilação que seria se viesse de horizontes descabidos.

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