O QUE É
PERIFERIA, BURGUÊS?
Periferia é um
recorte da cidade metrópole aonde se encontra os bairros mais carentes ocupados
por pessoas que foram expulsas das
proximidades da casa grande.
É lugar
recortado por talhos fundos em rosto sofrido por ainda lutar contra o
preconceito e as adversidades de uma sociedade conservadora.
Periferia é aonde se assenta os casos de necessidades básicas que o Estado rico formado pela
burguesia, não soube como dá o pontapé inicial para acabar com as desigualdades
sociais e exclusão.
Periferia é a aonde mora a gente que lhes serve
a preço cômodo.
É o lugar de
problemas sem solução pra morador das encostas.
É por aqui que o bicho pega em corpo que quer
movimento, quer assento nos ônibus pra viajar pra servir vocês do outro lado da
ponte.
É lugar recortado por talho de faca, tiro,
necessidades, lugar de ruas cheias de vida nos fins de semana com o som da
caranga alimentando a alma, que molha a garganta com cerveja de marca ou vinho
barato.
Periferia
não é só problema, é solução pras vossas necessidades quando estão com a roupa
suja, a casa por arrumar e limpar, a cama por fazer depois de uma transa, as
paredes por pintar, um portão por consertar.
Periferia é
lugar onde vos serve quem nela mora e acorda cedo, chegando tarde em casa, sem
dar tempo de ter tempo pra sonhar.
Periferia é
lugar de esgoto correndo a céu aberto, córregos maus cheirosos fedendo ao que
vocês consomem, é lugar onde se joga
fora vossos lixos quando não os servem mais.
Periferia é
lugar de poeta, artista, escritor, doutor que sonha por igualdade de condições
num Brasil que não os quis até uns anos atrás.
Nas
periferias estão a energia da virada de mesa pra um país mais justo. Delas
sairão os votos dos mais elucidados para trazer os políticos honestos pro seu lado, por que estes
sempre estiveram do lado de quem não sabe o quê, e seja periferia.
Periferia é
brisa na manhã alisando rosto cansado quando sai na segunda- feira para
trabalhar em vossos condomínios. Os porteiros de vocês, as faxineiras, os motoristas,
manobristas, as enfermeiras que cuidam dos vossos moribundos e nenéns, os vigilantes,
os jardineiros, pedreiros, marceneiros, todos dormem em alguma periferia, e
acordam cedo para não deixar faltar o café da manhã nas vossas mesas.
Periferia é
onde se nascem as crias de um futuro incerto, mas que serão certos que irão vos
servir, mesmo sabendo que pagarão pra eles salários miseráveis.
Periferia é lugar que cresce aqueles que no
futuro irão fazer tremer as vossas carnes, se o Brasil não descobrir que nela precisa
investir muito mais que aí, na educação, cultura, esporte, transporte, moradia,
saneamento, renda, saúde.
Periferia é lugar que estão às armas que os
fazem tremer de medo quando apontadas para vossas cabeças, pela vida toda vocês
negarem um pouco do que possuem, por os
terem feitos escravos das vossas ações e enriqueceram os expulsando para lá.
Periferia é
onde mora a descendência de escravos, de nordestinos, pretos, ídios e brancos
pobres que não tiveram oportunidade no campo de atuação que requer a educação.
Periferia é lugar que mora gente que tem sentimento,
não de culpa, de culpa teria que ter vocês, por explorá-los até os ossos, e
terem enriquecido por sonegar impostos que poderia ter melhorado a situação.
Periferia é
lugar que nem os piscinões dão jeito nas enchentes, nos córregos que se enchem
levando nossas vidas, como vocês também os levam, os fazendo adoecer de tanto
vos servir.
Nas
periferias de são Paulo e do Brasil é onde mora gente que não dá risada quando
perde um ente querido, chora pelo sentimento da perda, porque é coração, ação,
também razão quando é necessário botar
fogo na engrenagem de uma sociedade medíocre que recria seus dramas
alicerçando-os através da arte da escrita, da pintura, do cinema, da vida
vivida intensamente.
Viva as
periferias de todo mundo que busca um acento nas costas do planeta para
usufruir do que ele é capaz de produzir. Zé Sarmento
Nenhum comentário:
Postar um comentário