AQUI TEM
HISTÓRIA – DE FORMAÇAO COMO LEITOR
A minha
formação do tempo d’eu menino foi pobre de marre marré.
Nasci numa
vila operária sem biblioteca nem o hábito da leitura.
O habito de
jovens para estudos em algumas famílias mais esclarecidas, sim, de leitura não.
A base da arte
pelas plagas sertanejas era no popular, na oralidade.
Circos
visitavam o povoado uma vez por ano. Rádio Semp numa casa ou noutra. Filmes só
aos sábados e domingo. A TV chegou quando já era pra lá de adolescente.
Dos 13 pros
14 anos, quando aprendi a ler sem ser soletrando, comecei a ler livros de
faroeste e revistas de fotonovelas. Era o que tinha. Me faziam viajar na mionese e esquecer a pobreza quase absoluta. Leitura mais
elaborada só quando cheguei em São Paulo aos 20 anos, no corpo estrutura de 15, cabeça de 12.
Antes de
aprender a ler, alguns jovens leitores já andavam com livros na mão e contavam
histórias que esses livros narravam.
Aumentava
mais o meu interesse por esses livros, quando estava programado para passar filmes
do mesmo gênero no cinema local, e os cartazes expostos no centro da pequena
vila chamavam atenção para o filmes do fim de semana. Para mim, as mãos que
desenhavam os cartazes eram mãos divinas.
ADENDO...(Um
dia eu e um amigo entramos mais cedo no cinema, por descuido do faxineiro ter
deixado a porta aberta, e fomos parar
atrás da tela, lá sentamos numa viga de madeira que segura a mesma, mais tarde,
quando o filme foi projetado, o assistimos ao contrário. Aventura que nunca
saiu da minha memória).
Os moleques
que liam e contavam as histórias dos poucos livros que pela vila circulavam, me
causavam inveja, então, esse sentimento, me levou a pegar mais sério nos
estudos pra aprender a ler corrido. Pra tanto, tive que me matricular numa
escolinha de uma sala só, bem pequena. Cabia uns 20 alunos entre meninas e
meninos.
Não sei onde
minha mãe arranjou os cobres, (acho que sei o motivo). Cheguei nela quase chorando
e disse: “Quero aprender ler cuma meus amigo já aprendeu e tão lendo livro. Eu
num sei ainda”.
Dona
Francisca pegou umas notas amassadas de cruzeiro, depositou na minha mão, depressa
deixei a casinha de taipa onde morava com oito irmãos, desci o morro, meti os
pés na estradinha de terra à milhão desamassando as notas.
Matriculado,
logo as letras separadas começaram entrar juntas na minha cachola, (palavra
muito dita pela professora) para incentivar os alunos a ter pressa. Dizia: O
exame de admissão pra entrar na 5º série é no final do ano. Quero vê todos
passar na prova de admissão.
A maneira
que ia aprendendo mais a ler com a dureza da professora, mais ia lendo os
livros, e ao mesmo tempo, com outra descoberta de leitura me deparei, as
histórias de fotonovelas das revistas contigo, capricho, grande hotel...Porém,
não em minha casa, nela não tinha livros nem revistas, só pobreza e muita desordem.
Sobrou à casa de uma prima que adquiria as mesmas na cidade de Sousa aonde estudava o normal. Emprestava-me.
Da casa dela só saia depois de terminado dois interesses, o da leitura e o da
visão da sua calcinha à mostra quando se sentava, era tempo em que as moças
usavam minissaia. As imagens das revistas me faziam viajar, as imagens da
calcinha da minha prima me faziam bater muita ciririca.
As revistas
com fotos coloridas, mais os anúncios, e algumas fotos de grandes capitais do
Brasil e de fora, com aqueles ‘preidão’ aglomerados de carros e gente e riqueza,
também me tiravam da realidade.
Nas horas
das leituras, quando os colegas chamavam pra jogar bola e nadar nos canais de
irrigação e açude, ou sair pelos sítios e vazantes dos agricultores pra pegar
alguma fruta como banana, manga, graviola, mamão, caju, abacate dizia na cara deles
que só sairia daquele tamborete, depois que terminasse a leitura e a prima se
aquetasse.
Acabei
perdendo muitas aventuras no perímetro irrigado de nome São Gonçalo, com a
molecada, motivo de viagens lúdicas que fazia
lendo revistas e livros que pela minha quebrada do tempo d’eu menino
surgiam.
Não tive
acesso a revistas de HQ. Acho por isso até hj não me interessar pelo assunto.
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