quarta-feira, 29 de abril de 2020

AQUI TEM HISTÓRIA - DE PESCADOR


AQUI TEM HISTÓRIA – DE PESCADOR
Às sextas-feiras da paixão lembro minha mãe Francisca cobrando pescados do meu pai. Antônio. Peixe, peixe, home! Num vê que é dia santo!
Fosse atrás dos pescadores do açude que irrigava o vale de um verde que o embelezava nos bons invernos.
Alguns homens tiravam seus sustentos das águas calmas do açude. Deslizavam canoas com movimentos de fortes braços, através de remos. Direcionavam-se aos lugares onde podiam jogar tarrafas, galões e anzóis com as manhãs frescas se descortinando para o calor. Por experiência, se direcionavam aos lugares  mais rasos, ou próximos as locas de pedras em que a água não era tão fria. Lá os peixes achavam mais alimento, como  achavam eles as redes e anzóis dos experientes pescadores.
As fieiras nos cipós não recebiam apenas um tipo de peixe, seguros pela goela. Tinha traíra, apanharí, piau, corimba, piranha, tucunaré. Esse último peixe de cor amarelada listrado com preto era o mais caro, por ser o mais procurado para descer por goelas famintas de trabalhadores que ganhavam melhor salário. A maciez da carne sem espinhas desse peixe o fazia famoso, bem mais aqueles que tinham mais tempo para ficar maiores. O hotel catete, restaurante chique da vila de funcionários públicos do DNOCS, que já recebera presidentes como Getúlio Vargas e Lula, adquiria, a bom preço, os peixes mais nobres e maiores. Para as casas dos humildes trabalhadores do eito, sobravam os peixes que mais cuidados exigiam para comer, as espinhas das suas entranhas acabavam engasgando os mais gulosos. Aja farinha seca e murro nas costas para fazer o sujeito voltar a respirar. A fé em Jesus também o salvava, sua imagem pregada na cruz era exemplo de resistência e lealdade para os humildes homens do campo.

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