AQUI TEM HISTÓRIA – DE PESCADOR
Às
sextas-feiras da paixão lembro minha mãe Francisca cobrando pescados do meu pai.
Antônio. Peixe, peixe, home! Num vê que é dia santo!
Fosse atrás
dos pescadores do açude que irrigava o vale de um verde que o embelezava nos
bons invernos.
Alguns homens
tiravam seus sustentos das águas calmas do açude. Deslizavam canoas com
movimentos de fortes braços, através de remos. Direcionavam-se aos lugares onde
podiam jogar tarrafas, galões e anzóis com as
manhãs frescas se descortinando para o calor. Por experiência, se direcionavam aos
lugares mais rasos, ou próximos as locas
de pedras em que a água não era tão fria. Lá os peixes achavam mais alimento,
como achavam eles as redes e anzóis dos experientes pescadores.
As fieiras nos cipós não recebiam apenas um tipo de peixe,
seguros pela goela. Tinha traíra, apanharí, piau, corimba, piranha,
tucunaré. Esse último peixe de cor amarelada listrado com preto era o mais
caro, por ser o mais procurado para descer por goelas famintas de trabalhadores que ganhavam melhor salário. A maciez da
carne sem espinhas desse peixe o fazia famoso, bem mais aqueles que tinham mais tempo para
ficar maiores. O hotel catete, restaurante chique da vila de funcionários
públicos do DNOCS, que já recebera presidentes como Getúlio Vargas e Lula,
adquiria, a bom preço, os peixes mais nobres e maiores. Para as casas dos
humildes trabalhadores do eito, sobravam os peixes que mais cuidados exigiam
para comer, as espinhas das suas entranhas acabavam engasgando os mais gulosos.
Aja farinha seca e murro nas costas para fazer o sujeito voltar a respirar. A
fé em Jesus também o salvava, sua imagem pregada na cruz era exemplo de resistência e lealdade para os humildes homens do campo.
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