Uma visão periférica
Por José Marques Sarmento
Não
é de fácil engolir, por ser de gosto azedo, o mundo contemporâneo para um morador de lugar como o
nosso, de muitas favelas e comunidades, que vivem sentadas sobre a égide e a
formosura do desfilar de tantas informações e muitas vezes não poder
abraçar, como abraçaria se pudesse possuir o que vem da produção, pela
pobreza que o cerca não dá margem que deixe se ver como um participante
do progresso no entorno.
São
tantas as possibilidades no contemporâneo, que muitas das vezes, devido
a impossibilidade de possuir o que lhe rodeia, deixa o sujeito
desorientado, valendo-se para tanto de alguns invólucros para cobrir a
máscara que faz se transformar num delinqüente. Salvada essa posição
mais para os jovens que muitas vezes, quando vem de pobreza absoluta,
anda procurando de se encontrar, por esse motivo, ser presa fácil dos
marginais mais experientes que atuam no crime por onde moram.
Para
se inserir nesse tenso contexto que é viver no hoje, e por vários e
tais motivos, muitas vezes, até tendo a possibilidade de outros caminhos
varrerem com o vassourão do bem, (sem aqui querer exumar a figura do
Jânio Quadros e desejando que ele não esteja em nenhum cargo executivo
por onde estiver sua alma), o jovem se deixa levar pelas facilidades,
pois, para esse termo, quero dizer que é entrar para praticar delitos,
convergindo ao ganho que lhe deixa na marca da cal para chutar a bola
mais próxima possível do ângulo onde estão os noventa graus da meta, no
entanto, muitas vezes antes de chutá-la, é derrubado por um concorrente
de mesma índole que se pôs a frente para frear sua busca, o derrotando
nas trocas de tiro, por brigas confrontantes nos negócios escusos. Quem
já não ouviu dizer por aí, nas estatísticas do crime pela periferia, que
as mortes acontecem mais para os jovens. Este é um dos caminhos para
conseguir depressa os bens de produção, ir de encontro à criminalidade,
por se desleixar na freqüência das aulas, mais tarde abandonar de vez os
estudos, por ver que o filho do vizinho já conseguiu o que a produção
de bens lhe joga na cara, sem ter freqüentado a escola, como freqüenta a
classe de moradores que tece como a aranha, de riqueza, o entorno do cinturão de pobreza aonde mora.
Os
jovens que são criados sem a atenção portentosa dos pais, são presas
fáceis por terem as ruas como meio de estar o dia inteiro, pelas suas
moradias não caber desde si mesmo de corpo presente, aos sonhos que são
dezenas. São levados a se jogarem por cima dos “bodes” as motos montadas
com peças de “robauto”, os desmanches e serem levados a praticar os
primeiros delitos.
As
escolas públicas da periferia estão perdendo muitos jovens para as
aventuras das motos, que são compradas com prestações a perder de
vistas, levando muitos também a lotar os hospitais quebrados.
Saída
justa para aplauso para aqueles que não encontrou na índole caminho
para ir de encontro do jovem que já se encontrou no crime em geral, e
quando eu falo em geral, é porque o crime tem diversas facetas. Para as
autoridades policiais, é duro hoje em dia chegar primeiro a um delito,
pela criativa inclusão de novas modalidades de crimes pelos que vivem de
praticá-lo. Uma das soluções para se resolver no que fazer para os que
conseguem varar a facilidade com
que apresenta os convites para as “correrias”, é comprar a moto, entrar
no subemprego, viver de bico esporádico, ou se for um otimista, e ter
vindo de família geralmente com os pés no chão, respeitadora da ordem
pública e religiosa, sentar-se num banco de escola de algum curso
profissionalizante ou alfabetizante, depois sair atrás de colocação.
Situação muito dura para quem mora numa favela, por não ter as favas do
destino lhe dando oportunidade de ter nascido em melhor ambiente. È um
descriminado até mesmo antes de passar o endereço quem mora por aqui. É o
que tem em executar como profissão um cidadão como este, porque para
estudo mais adiantado não serviu ou não deram chance até os dias de
hoje, pelo ensino público ser de pouca qualidade e, os cursos superiores
das universidades públicas, serem dirigidos a quem teve a oportunidade
de estudar em boa escola até o ensino médio.
Numa
região como o Jardim Ângela, de quase 300 mil moradores, as
estatísticas mostram que pouco mais de 1.400 moradores chegaram ao curso
superior.
Digo
isto com conhecimento de causa. Estas são algumas maneiras de alguém
criado por aqui viver nos tempos de hoje, se jogar no colo das avenidas e
virar “cachorro louco”, mas sem receber afago, aja visto que o transito
não é mãe para estender a mão e acariciá-lo com a ternura e os cuidados
que um jovem como os nossos merecem. São caminhos bastante perseguidos
que encontram para ganhar a vida o morador de uma favela, as motos,
quando não cai na bobagem de virar marginal antes da maioridade.
A
maioria dos moradores da periferia e, esta observação deve servir mais
para quem mora numa favela porque, é bom que esclareça, a periferia não é
por inteira uma favela como muitos pensam, ela tem sua classe média que
participa razoavelmente da renda nacional, ela tem suas formas de
engenhosidade que copia muito bem os bairros mais nobres, como os jovens
daqui chamam, das elites. Tá certo que tudo isso é muito ligado pelas
construções que nasceram sem a preocupação em deixar circular o olhar de
uma bela visão, daquelas que a tela encanta a alma e vislumbra
pormenores de alegria no semblante.
Para
os moradores de comunidades faveladas, a participação no hoje, é mais
em bens móveis, razão de ser que uma casa por mais simples que seja, tem
que ter no mínimo um fogão a gás, geladeira, televisão e tantos outros
objetos que fazem que o tempo atual se chame de contemporâneo e que as
lojas populares venda cada dia mais. É claro que falta para o morador de
setor assim, muito que sobra para a burguesia, pois lhes falta boa
alimentação, daquela que todo tipo de nutrientes possua, falta-lhes uma
saída para algum evento cultural, posto que a diversão concentra-se mais
no interior das casas ou nas ruas onde residem e não nas saídas para
diversão externa. O dinheiro é curto e talvez a visão de mundo moderno
deles também.
Cultura,
daquela do tipo freqüentada pelos “bacana”, basicamente não
existe.Tirando ouvir músicas nos ritmos populares do momento, ou para
alguns grupos que freqüentam o som do Hip Hop, que é um som produzido
por aqueles jovens que enxergam maior distorção social na emblemática
orbe da economia brasileira, bem mais por onde vivem, por ser, como
dizem os entendedores, uma das mais perversas. Som a todo volume, muitas
vezes ligados ao mesmo tempo, não dá a nem um nem outro, vindos do
interior das casas ou dos carros que cada dia ganha mais potência, que
parece uma discoteca ambulante, entendimento do que está tocando. Uma
série de fatores faz que não sejam participantes diretos do
desenvolvimento.
Essa
gente sabe viver o momento em que vivemos. Por mais triste que esteja o
tempo intrigando de como resolver as pendengas, alguma diversão não
perde a oportunidade de se colocar em qualquer lugar que estejam até
mesmo nas mortes. Não fosse assim não tinham comentários a fazer tão
logo de alguém ser ferido, tão logo soar os ribombos de diversos
calibres de armas nas trocas de tiros com a polícia ou com outras
gangues. Não têm tempo ruim para a gente da periferia, mesmo possuindo o
mínimo para se superpor à miséria, muitas vezes só os sonhos no
semblante que resplandece em algum instante, também preocupação. Se mãe,
a preocupação que mais faz aproximar do cotidiano dos filhos que ainda
não voltaram das longas noites dos fins de semana, é o desfecho concreto
da violência. Se pai, porque me parece que os sentimentos do pai para
com os filhos ser diferentes do da mãe, que o filho tenha o cuidado de
não entrar para fazer alguma bobagem junto à folia daqueles que não
conhecem direito. Pois é a preocupação maior dos tempos modernos pela
periferia, eu falo daquelas famílias que realmente se preocupam com os
que botaram no mundo, é com a que desfalca muito as famílias, a
violência. Para os meninos que realmente são criado nas ruas, por
não ter alguém que se preocupe, e nesses casos, a soma chega a um
número razoável deles, são estes que mais querem a facilidade do
envolvimento das drogas para traficar, para o consumo, para os assaltos a
caminhões de cargas, as investidas para entrada nos bancos ou nas
mansões ou em prédios, por não ter tido a guarda quando criança de quem o
fez nascer para viver em tão dura realidade.
Nunca
nasceu tanta criança pela periferia, nunca se produziu tanta criança
que não vai chegar ao momento de comemorar a passagem dos 20 anos, as
cadeias não cabem mais tantos jovens que se perderam para as facilidades
de ter depressa um carro usado, uma moto para sair às correrias, tênis e
roupa de marca, as camisas dos times que torcem, pelos becos apertados
das favelas posicionar as meninas para a entrega no mais novo dos seus
dias. Novinhas ainda, parindo crianças que no futuro serão cuidadas por
criança, porque foram duas que fizeram, isto se os pais não se mostrarem
de bem com a filha para tocar mais um que veio sem a auspiciosa busca.
Os bebês da periferia não nascem parecidos com as de quem tenta ter um
filho bastante programado. Os filhos daqui não se programam, vêm à baila
por existir muita energia nos jovens que se cruzam, com o mínimo de
roupa, uns pelos outros, com olhadelas plenas de desejos, pelas janelas
de barracos parede e meia, muitas vezes por se acharem muito tempo do
dia a sós, sem a responsabilidade de sair para algum serviço
profissional.
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