sábado, 15 de setembro de 2012

Texto publicado no portal cronópios.

03/06/2007 16:20:00
Uma visão periférica



Por José Marques Sarmento


Não é de fácil engolir, por ser de gosto azedo, o mundo contemporâneo para um morador de lugar como o nosso, de muitas favelas e comunidades, que vivem sentadas sobre a égide e a formosura do desfilar de tantas informações e muitas vezes não poder abraçar, como abraçaria se pudesse possuir o que vem da produção, pela pobreza que o cerca não dá margem que deixe se ver como um participante do progresso no entorno.

São tantas as possibilidades no contemporâneo, que muitas das vezes, devido a impossibilidade de possuir o que lhe rodeia, deixa o sujeito desorientado, valendo-se para tanto de alguns invólucros para cobrir a máscara que faz se transformar num delinqüente. Salvada essa posição mais para os jovens que muitas vezes, quando vem de pobreza absoluta, anda procurando de se encontrar, por esse motivo, ser presa fácil dos marginais mais experientes que atuam no crime por onde moram.
Para se inserir nesse tenso contexto que é viver no hoje, e por vários e tais motivos, muitas vezes, até tendo a possibilidade de outros caminhos varrerem com o vassourão do bem, (sem aqui querer exumar a figura do Jânio Quadros e desejando que ele não esteja em nenhum cargo executivo por onde estiver sua alma), o jovem se deixa levar pelas facilidades, pois, para esse termo, quero dizer que é entrar para praticar delitos, convergindo ao ganho que lhe deixa na marca da cal para chutar a bola mais próxima possível do ângulo onde estão os noventa graus da meta, no entanto, muitas vezes antes de chutá-la, é derrubado por um concorrente de mesma índole que se pôs a frente para frear sua busca, o derrotando nas trocas de tiro, por brigas confrontantes nos negócios escusos. Quem já não ouviu dizer por aí, nas estatísticas do crime pela periferia, que as mortes acontecem mais para os jovens. Este é um dos caminhos para conseguir depressa os bens de produção, ir de encontro à criminalidade, por se desleixar na freqüência das aulas, mais tarde abandonar de vez os estudos, por ver que o filho do vizinho já conseguiu o que a produção de bens lhe joga na cara, sem ter freqüentado a escola, como freqüenta a classe de moradores que tece como a aranha, de riqueza, o  entorno do cinturão de pobreza aonde mora.
Os jovens que são criados sem a atenção portentosa dos pais, são presas fáceis por terem as ruas como meio de estar o dia inteiro, pelas suas moradias não caber desde si mesmo de corpo presente, aos sonhos que são dezenas. São levados a se jogarem por cima dos “bodes” as motos montadas com peças de “robauto”, os desmanches e serem levados a praticar os primeiros delitos.
As escolas públicas da periferia estão perdendo muitos jovens para as aventuras das motos, que são compradas com prestações a perder de vistas, levando muitos também a lotar os hospitais quebrados.
       Saída justa para aplauso para aqueles que não encontrou na índole caminho para ir de encontro do jovem que já se encontrou no crime em geral, e quando eu falo em geral, é porque o crime tem diversas facetas. Para as autoridades policiais, é duro hoje em dia chegar primeiro a um delito, pela criativa inclusão de novas modalidades de crimes pelos que vivem de praticá-lo. Uma das soluções para se resolver no que fazer para os que conseguem varar a facilidade  com que apresenta os convites para as “correrias”, é comprar a moto, entrar no subemprego, viver de bico esporádico, ou se for um otimista, e ter vindo de família geralmente com os pés no chão, respeitadora da ordem pública e religiosa, sentar-se num banco de escola de algum curso profissionalizante ou alfabetizante, depois sair atrás de colocação. Situação muito dura para quem mora numa favela, por não ter as favas do destino lhe dando oportunidade de ter nascido em melhor ambiente. È um descriminado até mesmo antes de passar o endereço quem mora por aqui. É o que tem em executar como profissão um cidadão como este, porque para estudo mais adiantado não serviu ou não deram chance até os dias de hoje, pelo ensino público ser de pouca qualidade e, os cursos superiores das universidades públicas, serem dirigidos a quem teve a oportunidade de estudar em boa escola até o ensino médio.
       Numa região como o Jardim Ângela, de quase 300 mil moradores, as estatísticas mostram que pouco mais de 1.400 moradores chegaram ao curso superior.
Digo isto com conhecimento de causa. Estas são algumas maneiras de alguém criado por aqui viver nos tempos de hoje, se jogar no colo das avenidas e virar “cachorro louco”, mas sem receber afago, aja visto que o transito não é mãe para estender a mão e acariciá-lo com a ternura e os cuidados que um jovem como os nossos merecem. São caminhos bastante perseguidos que encontram para ganhar a vida o morador de uma favela, as motos, quando não cai na bobagem de virar marginal antes da maioridade.
A maioria dos moradores da periferia e, esta observação deve servir mais para quem mora numa favela porque, é bom que esclareça, a periferia não é por inteira uma favela como muitos pensam, ela tem sua classe média que participa razoavelmente da renda nacional, ela tem suas formas de engenhosidade que copia muito bem os bairros mais nobres, como os jovens daqui chamam, das elites. Tá certo que tudo isso é muito ligado pelas construções que nasceram sem a preocupação em deixar circular o olhar de uma bela visão, daquelas que a tela encanta a alma e vislumbra pormenores de alegria no semblante.
Para os moradores de comunidades faveladas, a participação no hoje, é mais em bens móveis, razão de ser que uma casa por mais simples que seja, tem que ter no mínimo um fogão a gás, geladeira, televisão e tantos outros objetos que fazem que o tempo atual se chame de contemporâneo e que as lojas populares venda cada dia mais. É claro que falta para o morador de setor assim, muito que sobra para a burguesia, pois lhes falta boa alimentação, daquela que todo tipo de nutrientes possua, falta-lhes uma saída para algum evento cultural, posto que a diversão concentra-se mais no interior das casas ou nas ruas onde residem e não nas saídas para diversão externa. O dinheiro é curto e talvez a visão de mundo moderno deles também.
Cultura, daquela do tipo freqüentada pelos “bacana”, basicamente não existe.Tirando ouvir músicas nos ritmos populares do momento, ou para alguns grupos que freqüentam o som do Hip Hop, que é um som produzido por aqueles jovens que enxergam maior distorção social na emblemática orbe da economia brasileira, bem mais por onde vivem, por ser, como dizem os entendedores, uma das mais perversas. Som a todo volume, muitas vezes ligados ao mesmo tempo, não dá a nem um nem outro, vindos do interior das casas ou dos carros que cada dia ganha mais potência, que parece uma discoteca ambulante, entendimento do que está tocando. Uma série de fatores faz que não sejam participantes diretos do desenvolvimento.
Essa gente sabe viver o momento em que vivemos. Por mais triste que esteja o tempo intrigando de como resolver as pendengas, alguma diversão não perde a oportunidade de se colocar em qualquer lugar que estejam até mesmo nas mortes. Não fosse assim não tinham comentários a fazer tão logo de alguém ser ferido, tão logo soar os ribombos de diversos calibres de armas nas trocas de tiros com a polícia ou com outras gangues. Não têm tempo ruim para a gente da periferia, mesmo possuindo o mínimo para se superpor à miséria, muitas vezes só os sonhos no semblante que resplandece em algum instante, também preocupação. Se mãe, a preocupação que mais faz aproximar do cotidiano dos filhos que ainda não voltaram das longas noites dos fins de semana, é o desfecho concreto da violência. Se pai, porque me parece que os sentimentos do pai para com os filhos ser diferentes do da mãe, que o filho tenha o cuidado de não entrar para fazer alguma bobagem junto à folia daqueles que não conhecem direito. Pois é a preocupação maior dos tempos modernos pela periferia, eu falo daquelas famílias que realmente se preocupam com os que botaram no mundo, é com a que desfalca muito as famílias, a violência. Para os meninos que realmente são criado nas ruas,  por não ter alguém que se preocupe, e nesses casos, a soma chega a um número razoável deles, são estes que mais querem a facilidade do envolvimento das drogas para traficar, para o consumo, para os assaltos  a caminhões de cargas, as investidas para entrada nos bancos ou nas mansões ou em prédios, por não ter tido a guarda quando criança de quem o fez nascer para viver em tão dura realidade.
Nunca nasceu tanta criança pela periferia, nunca se produziu tanta criança que não vai chegar ao momento de comemorar a passagem dos 20 anos, as cadeias não cabem mais tantos jovens que se perderam para as facilidades de ter depressa um carro usado, uma moto para sair às correrias, tênis e roupa de marca, as camisas dos times que torcem, pelos becos apertados das favelas posicionar as meninas para a entrega no mais novo dos seus dias. Novinhas ainda, parindo crianças que no futuro serão cuidadas por criança, porque foram duas que fizeram, isto se os pais não se mostrarem de bem com a filha para tocar mais um que veio sem a auspiciosa busca. Os bebês da periferia não nascem parecidos com as de quem tenta ter um filho bastante programado. Os filhos daqui não se programam, vêm à baila por existir muita energia nos jovens que se cruzam, com o mínimo de roupa, uns pelos outros, com olhadelas plenas de desejos, pelas janelas de barracos parede e meia, muitas vezes por se acharem muito tempo do dia a sós, sem a responsabilidade de sair para algum serviço profissional.










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