segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

COMEDORS DE PRÉDIOS


 COMEDORS DE PRÉDIOS

Gostaria de ser uma floresta cheia de animais invisíveis aos olhos de pessoas que habitam este planeta.
Iria soltar meus bichos na cidade desumanizada entregue às corretoras.
Abriria o portal da liberdade deles pra um serviço de sutil presteza.
No meio da urbanidade, meus bichos começariam se alimentar.
O alimento viria de prédios suntuosos com fachadas de vidro protetores do capitalismo destrutivo.
Meus bichos da grande floresta.
Famintos, começariam se alimentar de suas colunas subterrâneas.
Das ferragens internas não ficaria vigas intactas que meus bichos não abocanhassem.
Meus bichos comeriam suas ferragens no silêncio das noites insones.
O sinal do fim do apetite saciado dos meus bichos.
Seria uma festa que fariam pendurados nas árvores afastadas do centro.
Árvores que ainda não receberam visitas das serras elétricas.
Assistiriam de camarote o préidão tremer.
Na correria do povo passando para escapar da sua derrocada.
Ficaria para traz muitos produtos inoportunos que destrói o meio ambiente.
Com o monte de concreto e ferragens no chão.
Meus bichos deixaria mais uma vez a floresta.
Levariam sementes para jogar no novo terreno que acabou de ser recuperado.
Uma praça ali seria construída.
Brinquedos pra criança, pista de caminhada.
Fariam festa no fim de semana os moradores sem sombra no centro da cidade.
Uma biblioteca seria construída no meio da praça.
Receberia leitores ávidos por livros e literatura.
Oh, sonho doido de um velho que adora viver sua criança.
Menino danado que ainda insiste em viver pendurado em sua cacunda.

 

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

AQUI TEM HISTÓRIA - A REGIÃO CENTRAL E SUA ARTE POPULAR

AQUI TEM HISTÓRIA - A REGIÃO CENTRAL E SUA ARTE POPULAR
Minha paixão por cinema e literatura desde que aprendi a ler aos 14 anos e assistir aos filmes a parti dos 10 no cineminha da minha vila operaria do DNOCS, São Gonçalo, Sousa, PB, me fez chegar em São Paulo pronto pra correr atrás dos meus sonhos personificados no desejo de trampar com a sétima arte.
Depois de ser ajudante de metalúrgica e auxiliar de almoxarifado por um tempo, no mesmo ano que migrei como retirante da seca, me matriculei pra estudar num cursinho de cinema, três anos depois estava vivendo de diárias de longas-metragens, curtas, documentários e depois muita publicidade.
Gostava dos longas pelo fato de as equipes tornarem minha família, antes vivia muito só por ser tímido e fechadão no meu mundo de ilusão.
O centro da cidade de Sampa com suas ruas movimentadas, era lugar de passagem e paradas pra assistir de tudo que se propagava nelas, antes de chegar à rua do Triunfo, ou depois de sair dela. O Livro Bixiga, um cortiço dos infernos que o diga.
Nas folgas era hora de entrar de cabeça a escrever meus manuscritos, depois usar a remington para datilografar, isto já morando no cortiço da rua Abolição com mais dois amigos que também faziam cinema, um pernambucano e um mineiro, e assistir teatros, filmes e tudo mais.
Antes de ser profissional de cinema me deparei e descobri a estação do metrô São Bento, morava num cortiço no Brás. Aos domingos tinha shows de bandas muito boas, lugar de matar o tempo e esquecer um pouco das memórias familiares e territoriais e viver arte.