segunda-feira, 16 de julho de 2007

Crítica:

A vida do escritor dá força as suas palavras

Tomara que isso seja literatua, diz José Marques Sarmento, apontando-me o exemplar de seu mais recente lançamento, o romance "Urbanóides, um Caos Paulistano".
Será que isso é literatua?É a pergunta que muitos escritores fazem, depois de enfiarem um ponto final num romance.
Quando um cítico mal-intencionado quer desdenhar a obra de um escritor, diz:"Isso não é literatua".Já fizeram comigo.Já aconteceu com muitos.
Outros críticos esperam que cada obra acrescentem elementos inovadores ao gênero.Um crítico certa vez, ao analizar um livro meu, escreveu algo como,"é bom, mas não tem novidades", como se fosse minha intenção querer inovar algo.
Qualquer sequencia de palavas ordenadas de tal forma que deem sentido a uma história é literatua, "a arte de compor e escreve", "na definição do dicionário Aurélio".
É evidente que o mais novo romance de Sarmento é liteatua.E é bom?
Bem, aí são outos cascabulhos.Bom para quem ou para que, Mané?
Paulo Coelho é bom para muitas pessoas.Guimaães Rosa é bom para os ouvidos, os olhos e o coração, mas tem gente que o detesta.
Não se pode ler coelho esperando um gande jogo semântico.Não se pode ler Guimarães esperando uma degustação distraída.Coelho se ler numa fila de espera.Guimarães se ler em casa, em silêncio, concentrado.
Quem quiser ler em Sarmento profundeza semântica talvez não fique plenamente satisfeito.Agora fique a vontade quem quiser ler nele as particularidades de uma literatura popular, rica, dinâmica, desesperada e verdadeira.
Contrariando os caminhos traçados por alguns escritores que escrevem sobre o que não conhecem e se atrapalham com pesquisas (já aconteceu comigo),Sarmento vive aquilo que está em seus livros.
A indignação de um motorista de ônibus que, mais que ninguém,é testemunha do caos humano,é complemento da indignação do autor, o que dá força as palavas.
O narrador tromba com tipos urbanos, sente saudades da sua terra natal e lamenta que muitos passageiros"...cheguem cheios de sonhos e acabem tropeçando nos próprios pesadelos.É literatura ou não é?

Macelo Rubens Paiva para ilustrada da folha, em 2 de dezembro de 2000



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