sexta-feira, 18 de maio de 2012

FRUTARIA

Outro dia me peguei voltando ao tempo de criança, de jovem E senti saudade de pedir cana caiana gritando pra natureza. Eu quero chupar! eu quero chupar! Eu quero chupar rolete de cana caiana! Eu quero chupar uma bacia de manga espada, uma cuia de manga coquinho, um cesto de manga rosa! Silenciei-me e pensei, Chupar da Rosa eu não quero nada, Ela é moça muito prendada, é filha do patrão e merece respeito até nos peitos. Esse patrão é dono de latifúndio, é coroné E vai fundo enfiando um punhal em quem meche no que é seu. Correndo atrás de passarim pra engaiolar, me dava uma fome da gota serena Era quando gritava, eu quero chupar! eu quero chupar! Eu quero chupar o sangue do latifundiário que explora essa terra e não deixa eu plantar um pé de manga qualquer pra quando ele crescer e der os primeiros frutos pode chupar toda sua produção, sair de buxo cheio e goela arrotando. Satisfeito, gritarei aos quatro ventos: obrigado, Brasil, por me dá o direito pelo menos de comer do que a terra produz com abundancia! Pé de caju, cadê a tua safra, sinto prazer por te morder a polpa, preciso te chupar também e das castanhas me esbaldar como tira gosto pra cana cachaça pitu. Onde anda tu laranja baiana, mexerica e lima verde . Onde anda tu mamão papaia? Umbu deixa os dentes doendo ao vento quando a boca se abre pra comer banda de pinha e graviola. Juro que a juriti a fome pedia pra ser comida assada pelas brasas da jurema. A Jurema moça prendada fazia graça convidando pra ir pra debaixo da moita à noitinha, era o cio de menino arteiro que tirava os dias da mocidade pra pegar as cabritas pelas veredas da caatinga. Beeeer, era o que dizia as cabritas, entendendo os meninos que era “eu te amo”. Tou a disposição, béeer! Béeeer! Quero banana! Tempo bom esse de menino jovem crescendo sem pensar na inflação, no desemprego ou no emprego, no entrar na condução, no cair de vez na vida de adulto que paga um alto preço pra poder ser participante da renda nacional. Béeer, as cabritas, as barranqueiras já não existem, foram trocadas pelas mulheres que custam alto preço pra ser trazidas até o berço e ouvir delas “eu te amo”. Era uma frutaria! De abacaxi, tou fora!