sábado, 7 de abril de 2012

O JURADO DE MORTE - CONTO


Passou a andar tão preocupado com o que prometeram fazer-lhe, que não parava em lugar algum de onde tivesse sem olhar para os lados, numa afobação de pôr os em voltar a sentir pavor de ficar ao seu lado.
O urbanóide, muito suspeito de alguma desordem emocional, mental, corporal, intelectual dava fuga intrínseca ao que fazia.
Isso é o que dá se meter em encrenca com quem não conhece nem de vista, de mais perto, pior, de mais longe, é ruim, e em nunca ter ouvido falar do nome, da cor, de onde veio, para onde vai, o que faz para viver, filho de que pai, de que pátria, a que religião pertence.
Prometeu o que carrega composto de Pit Bull com gente no vestir-se, nos atos e nas perturbações que causa por onde se faz presente depois de encher o caneco de breja: fique esperto, caralho, qualquer dia te pego na quebrada onde você tiver! Vou te pegar! Você não me conhece! Sei onde você mora!Pego você e sua família, tá ligado!Da sua gente nem a sombra vai sobrar pra contar porque se fudeu!
E não conhece mesmo.
Por bobagem o urbanóide Erisvaldo foi prometido de morte. E sabe ele que por onde mora, se for prometido de morte, pra não passar pelo trauma de levar um tiro quando desperto em algum lugar, quando do ir e vir do trabalho, dos passeios domingueiros para comer o macarrão da sogra com frango ensopado, (deveras o tiro é o único meio que os matadores têm para se livrar da concorrência, de quem prometeu de morte, estando o jurado num jogo de bola, de sinuca, na bebedeira de um boteco, parado num ponto de ônibus).
Acha Erisvaldo que pra se livrar de morrer primeiro, o melhor é agir em primeira instância, e partir pra cima daquele que o prometeu de morte, pra defender a entrada de ar pelas ventas e carregar os pulmões de ar produzido pela natureza que não nos cobra um vintém.
Por bobagem!Uma simples batida de carro!Vá lá que o carro do Pit Boy é um daqueles que, pelo prazer de ter um carro original, se gasta uma fortuna em pintura metálica especial, com som outro tanto de grana, com os pneus e rodas de magnésio mais um montante de notas uma sobre as outras em espécie, fora o amor que sente pelo que o faz se locomover para as paqueras das noites de qualquer dia para ganhar as melhores mulheres, deixando com inveja os que andam movendo os pés feito cão perdido esperando condução, por não ganhar mulher que se queira encarar depois da foda. Carro do tipo que não pode receber um respingo de água limpa vindo de fora, imagine suja, sujeira de pó de qualquer poeira, bunda de ninguém pode nele encostar, senão será visto com cara de ódio, fuligem de nenhum metal, que logo é parado pra receber enceramento no mover de mãos ao som baluarte de bregode, breganejo, fank/axé. Mais amado o carro que as mulheres rampeiras que consegue ganhar com ele, quando para na frente dos salões de festa de qualquer tipo de música, de fato, onde tiver aglomeração de gente estará ele apresentando o carro, em seguida se apresentando os paga pau. Ao ligar o som, outro baile se difunde fora do evento oficial, por botar as músicas mais tocadas do momento numa altura de deixar ouvidos surdos.
Chegou muitas vezes a ser mandado se retirar da frente dos salões de festa, de eventos, pelo som a todo volume atrapalhar a festa produzida. Saiu uma noite dessas quebrado da frente duma boate pelos homens brutamontes vestidos de preto, por não querer desligá-lo no primeiro pedido. Soltou a todo volume bombando os ouvidos dos que formaram roda em volta da máquina, a qual tremia feito gente tendo ataque epilético em meio a temporal friorento sem agasalho, pondo-os para dançar.
Como ninguém conhece ninguém nos dias corridos de hoje, o jurado de morte acha que a qualquer hora seu corpo servirá de abrigo para muitos balaços. Não consegue estar mais em nenhum lugar a não ser olhando o movimento em volta, deixando todos que surge de qualquer lado como suspeito potencial em disparar bala que atravessa os panos que veste o seu corpo. Não consegue mais dormir direito Erisvaldo.A mulher tem reclamado muito com o mexer-se a qualquer hora do seu lado.Não era assim o marido, só de uns tempos pra cá é que anda feito um bruto com ela, respondendo aos pontapés, aos solavancos de voz áspera às perguntas, as cobranças para pôr coisas de casa na dispensa do perrengue armário.
Como acontece com quem tenta deixar de fumar, em Erisvaldo os sintomas são parecidos: Náuseas vem lhe visitar, dores de cabeça, constirpação, fadiga, vontade de ir a todo instante no banheiro, insônia não o deixa relaxar, sufocamento, irritabilidade por qualquer pergunta ou pelo que acontece em volta, frustração, ira, depressão, agitação psicomotora, batimento cardíaco acelerado. O diabo está sentindo e passando, juntando aos problemas orgânicos e físicos, a mulher tentando descobrir da ocorrência que o levou a ficar assim.
O que aconteceu com você, Eris, é como o chama, abatendo pelo meio o nome do marido, como tenta abatê-lo para descobrir do porque da mudança repentina na forma de ser e agir para com a sua pessoa.
Tu andas de uns dias pra cá muito perturbado, homem!
Não foi nada, Judite, já te disse várias vezes que não foi nada!
Foi sim!Aconteceu alguma coisa, alguma besteira que tu me escondes!
Não perturba, mulher, vai dormir...!
Ora, como eu posso dormir do teu lado se tu também não dormes. Mim diga o que aconteceu. É grave?
Não tem nada, porra, me deixa em paz!
Pra não continuar a encrenca entre os dois, o lado mais fraco se cala.É dependente pra tudo do marido. Por ser dona de casa, quando as coisas engrossam em relação às pequenas discussões, é a primeira a jogar a toalha, por medo de levar sopapos na fuça.Socos e pontapés veio receber algumas vezes já, deixando-a marcada no franco do rosto e em alguns lugares onde pode esconder do corpo, por não andar pelada. Hematomas e arranhões que são cobertos pela roupa pra não passar à vizinhança que os dois são um casal que vive de atritos por besteira, andam fora do claro do dia. Dessa vez tá sendo a preocupação do marido a pô-los pra brigar, das outras o ciúme da mulher era à deixa pra endurecer a carranca da cara do marido, alterar a voz, preparar o bote, vindo a perder o controle emocional e partir pra ignorância, pro pau, a fabricar levantados hematomas em varias partes do corpo.
Só uma vez ou outro ainda fala que vai ao futebol dos sábados à tarde ou dos domingos de manhã e chega com a cara cheia. Às vezes por desconfiança ou simplesmente querer arranjar briga a mulher, diz a ele que está com cheiro de mulher na roupa, estando muitas vezes fedendo só a suor e cachaça e sujo de barro, por jogar em campo de várzea.
Tinhosa em descobrir os segredos do homem com quem divide o mesmo espaço desde muito, depois de conhecê-la através de uma amiga que a levou ao bar do Zé Batidão para ouvir pagode, no outro dia foi investigar, começando primeiro pelo interior do carro pra encontrar algum vestígio do que seria a preocupação do marido.Não achando nada por dentro, partiu pra fora, quando viu que a Brasília estava batida numa das laterais, quebrado uma das lanternas da frente, a ponta do pára-choque entrado.
Retornando ao dialogo no outro dia, mais uma vez investiu na descoberta da verdade.
Descobri sua preocupação, foi àquela batida no carro, não foi, Eris?
Para de querer tirar coisa da minha boca que eu não quero contar, Judite!
Foi aquela batida sim, alguma coisa mais grave ela trouxe até você e indiretamente até a mim, deve ser alguém que te arrumou encrenca no trânsito.
Para afastar por definitivo a intrusão da mulher no seu amuado sentimento, a pega pelos cabelos, coisa que a mais de mês não fazia, o máximo, desse tempo pra cá, uns murros nos peitos, uns tapas de mão aberta na cara, uns arranhões, uns chutes na barriga, dessa vez percorreu uma das mãos pelo longo cabelo encaracolado, cabelo que recebe produtos cosméticos para permanecer esticado e a chamou para si, a jogando longe, vindo-a a cair no chão, depois de um sopapo no nariz, este vindo a mostrar o escorregar do sangue pelos buracos.
Exclama com muita raiva da mulher, não dá uma de detetive sua cadela, eu não quero contar o que tá acontecendo comigo, porque comigo não tá acontecendo nada, além da encheção de saco que vem das tuas perturbações, caralho!
Você que anda perturbado, não pára mais em pé em lugar nenhum, se tá na frente de casa lavando o carro, fica numa aporrinhação só, olhando de lado, de banda, pra frente, pra trás! Eu acho que alguém quer é te matar por causa da batida de carro! Você que não quer falar! Eu vejo, eu já vi por diversas vezes, como quando aconteceu com um vizinho que eu tinha e um irmão meu, antes de ser morto por matador que jurou que tirava a vida deles, ficar igual a você por muitos dias, quando daí acharam o corpo em frente do lugar que frequentava! Tá pensando que tá lidando com burra, é! Não sou burra não! Eu sei o que acontece com quem é jurado de morte na periferia! Ele sabe se não matar primeiro, morre! É ou não é? É a lei da selva deixando impotentes as pessoas que nem você que não nasceu pra matar, só pra machucar, como me machuuuuuuuca.
É caralho, se você quer saber, é sim! Eu fui mesmo jurado por um boy do caralho louco que encostou o carro dele no meu, não assumindo que tava errado, e acabou partindo pra cima de mim com uma arma em punho, escapando aqui o babaca que não sabe e nunca aprendeu a dar um tiro, por aparecer uma viatura dos infernos e me salvar. Se é isso que você quer saber, é isso mesmo que tá acontecendo! Eu não consigo mais viver em paz, comigo mesmo nem com ninguém enquanto não tirar a vida dele ou ele tirar a minha! Uma coisa é certa, eu não vou ficar esperando de braços cruzados tomar rajada de uma automática, eu vou a luta!
No outro dia surgiu em casa Erisvaldo com uma arma, uma pistola PT de 11 tiros + 1 no pente que levava consigo pra onde ia carregada pelo pente principal, mais um no bolso de reserva. Como geralmente os encrenqueiros de plantão têm muitos amigos do submundo do crime, andava com muitas dúvidas se seria alvejado ou ia alvejar o principal concorrente, se este viria fazer o serviço pessoalmente ou mandaria outro no lugar. Porra, a dúvida era cruel! Para tanto, todos que divisava consigo, também passava a ser um suposto morto ou matador, porque estava disposto a ir a forra tanto pra morrer quanto pra matar, do jeito que tava ficando os dias era que não podia ficar.
As pessoas andam loucas. Cada cidadão se arma a sua maneira pra tentar resistir a assaltos, brigas de transito, sequestros relâmpagos a qualquer entrevero por mais simples que seja. A polícia não tá dando jeito na situação caótica que vive as metrópoles. Ela só chega depois do fato ocorrido, depois dos corpos dispostos mortos na sarjeta ou ainda por falecer mais tarde nos hospitais para onde são levados, morrendo fácil lá também por falha de quem uma palha de maior volume não mexe pra salvar quem quer que seja que tenha sido ferido em brigas de gangues. Acham os médicos que todos feridos são bandidos, para tanto, o atendimento nos hospitais públicos é de péssima qualidade, também por virem as pressas trazidas, ou por ambulâncias ou carros de particulares, com corpos peneirados de bala, perfurados de facadas, combalidos de porrada. O caos arruinando relações humanas, entrincheirando ruínas de apagadas sensibilidades internas.
Preparado para o combate, isto é, armado com uma pistola automática, coisa que aprendeu a tirar e a pôr o pente com facilidade, mas que não sabe se pra onde mira ser pra onde vai à bala, por não ter disparado um tiro de maior ou menor distância, também leva a pensar se acertará o alvo na hora da correria ou este se desintegrará a sua frente ou o alvo reagirá primeiro, por ser, talvez, um atirador nato. Deve o matador atirar com armas desde muito, uma vez que são os matadores, por serem matadores, atiradores, no mínimo, bons, se não não teriam se tornado matadores, não jurariam os inocentes de morte por simples encostada de carro.
Tem certeza que não é ele que vai primeiro no suposto tiroteio que vai realizar, por se achar um homem protegido pelos bons fluidos, nunca ter causado mal a ninguém e achar que quem deve ir primeiro numa situação como a que se encontra, é quem já fez muito mal a sociedade nas ações de retirar a vida dos outros. Verbera-se protegido por santos de sua crença. De vez em quando se pega imaginar que deveria ir primeiro aqueles que fazem o que fazem os matadores, os estupradores, os demagogos, os corruptos e ladrões de erários públicos, mas perece ser uma coisa que não entende aqueles que de vez em quando se pegam a pensar, por que não é assim que acontece, sobrevivem mais tempo, cabulando as pessoas fazendo o pandemônio por onde passa gente assim. Morrendo com facilidade pessoas como si, que nada de errado na vida fez até agora, a não ser quando tá de cabeça queimando miolos, retirar as inhacas dos dias corridos na mulher, por ela passar a ser deposito de porradas, pernadas, além de ter que abrir as pernas em certos momentos das surras, para apaziguar a conduta fula que o atormenta. De pernas abertas cedendo um tanto de desejo que o marido exige, se deixa largar em qualquer lugar e ser penetrada, vindo este a gemer sobre si banhando em suores achando ser a ultima vez que faz sexo, gozando na mulher como se tivesse penetrando numa jumenta. Mais uma medida para dá real situação a que se deparou, comer a mulher na hora que bem quer, sem ela está querendo nada no momento, porque acha que ganhando tempo fazendo com ela o que num passado fazia com desejo e ardor, está ganhando tempo, assim se direciona a comida. Nada fica mais nas panelas, na geladeira, se enervou de desejo de se alimentar achando que à pouco que vai morrer.Os sintomas aumentaram ainda mais indo agora parar sobre a gula que de si apossou.Um frango inteiro vem a comer de uma só vez, dava pra dois dias, as carnes de costelas lubrificadas com farofa de mesmo possuir de gordura idem.O dobro da comida tá gastando por esse tempo, fazendo ser o dobro o gasto em dinheiro com açougue, supermercado, padaria, remédio não, para ele não, este é para a mulher que se enche de medicamento pela mudança repentina do marido depois de ter sido encomendado pelo matador desconhecido, no máximo pra si, os antiácidos intestinais, pela maldita azia e má digestão. Dor alguma o sente mais. Dores de cabeça que achava que era enxaqueca, remédio pra ela não compra mais, por achar que logo morrerá ou matará. É o inferno carcomendo a vida pacata e adocicada que levavam até o dia em que o feioso malcriado literalmente dentro de família desconjuntada, o pegou no braço, laçou a mão na direção com ímpeto de um agourento, o segurou pelas pernas pra não usar do breque e fez o carro seguir em direção do outro, não dando pra sair fora do beijo da morte, onde o amor do proprietário pit boy pela máquina, fez o matador, o jurador de morte nas estradas e descaminhos sem leis da periferia, ir ao encontro da cor vermelha, a cor da irracionalidade, do obscurantismo, do fazer jorrar sangue levando o coração parar de bombeá-lo para regar a matéria do bicho racional, que tem ódio como peça fundamental na convivência humana nos dias de hoje e a inveja para o alimentar para o futuro material. Sem a inveja como peça de sobrevivência no submundo do materialismo selvagem de hoje, ninguém consegue possuir o que o mercado põe as vistas, também não encontra forma que o faça ser funcional e vencedor.
No primeiro dia da jura de morte, não conseguiu raciocinar o dia todo, o enfezando mais ainda, estado de indelicadeza e irracionalidade quando se viu deitado, estando do lado a mulher, aumentado ainda mais a desconfortável fadiga do corpo e mente quando esta saiu e perguntou o que acontecia que não conseguia ficar parado, sobre a cama, ao seu lado, foi quando recebeu resposta desonrada, descolorada de racionalidade.
Fica na sua que eu não quero conversar com quem conheço, com quem não conheço quero distância e boca fechada.
Se é isso que você deseja, não tá mais aqui quem falou, mano! Só quero dizer uma coisa, mais uma palavra: se vire, porque me virar vou eu! Tou de mala pronta pra casa da minha irmã! Viver do lado de uma pessoa que vai matar ou morrer, é loteria e nessa eu não quero jogar, vai que eu perca!
Se qué ir, vá, mas saiba de uma coisa, a porta será fechada pra sempre, ela só se abrirá pra outra!
Tou nem aí, pode trazer a quenga que você quiser queu tou cheia de apanhar, cheia até o fim da cabeça dessa incerteza de merda que você trouxe pra essa casa!
A mulher pegando a mala se retira deixando a porta aberta e um vazio no peito do marido, produzindo outro peito vazio que desce a rua da favela onde moram.
Visitando os poucos cômodos do barraco, se sentindo em meio a um deserto por não ter com quem falar, isto é, brigar, pegou a engolir as vielas da favela, os becos que separa um barraco do outro e atravessou de uma ponta a outra, agindo com quem divisava pelo caminho, se era alguém que carregava o formato de um corpo masculino, a arma na fuça era apresentada, perguntando se este era parente, aderente, conhecido, se fazia parte da gangue do matador que o prometeu de morte, que o jurou que tiraria sua vida, se tinha conhecimento dele ou se era o mesmo, se tinha feito plástica pra mudar de cara, se era o dono do carro mais maneiro da favela, carro que juntava um monte de paga pau em volta só pra escutar o som, dançar e festejar em volta. Passando pelo campinho da favela chegou a acabar com o jogo de futebol da molecada por apresentar a automática na mão, mesmo à criançada criada vendo e sabendo como funciona e sendo de certa forma a violência, símbolo de poder que pode num futuro vir a ter, chegou a acabar com o jogo por não quererem pelo menos naquela hora e naquele lugar se meter com quem anda endoidecido pra matar antes de morrer. Mulher, poucas se dispôs a parar, as com criança não, só àquelas que desconfiava que fazia parte de alguma quadrilha, estando sozinha ou acompanhada de mais uma ou duas.Apresentava a arma na cara e fazia a mesma pergunta que fizera aos homens.Como não encontrou ninguém que fizesse parte daquele que o jurou de morte, seguiu caminho até chegar onde realmente queria, por pedir o raciocínio.
Chegando na casa, digo casa por ser uma forma de falar onde alguém mora, mas era o barraco mais modesto que já se viu por aquelas quebradas do Capão, encravado numa encosta pedindo pra deslizar por qualquer chuvisco mais prolongado, ajoelhou-se aos pés da mulher que já se encontrava tentando desarrumar a mala e arrumar algum lugar pra pôr poucas peças de roupa. Pareceu que a mulher não queria ir simbora, uma vez que pegou só peças de menor importância, deixando no velho guarda-roupa comprado a prazo a perder de vista as prestações nas casas Bahia, as melhores. Pedindo perdão que nunca mais a ia maltratar, dar bofetões na sua cara, chutes na barriga e que todo seu salário mensal que ganha como cobrador de ônibus ia jogar na sua mão, autorizando a fazer o que quisesse com o dinheiro. Até dirigir a ia ensinar pra ela quando precisasse e tivesse em emergência, pegar a Brasília e levar pra onde quisesse, que ia a partir de agora trabalhar levado por condução.
Estudou deveras a forma do homem se comportar naquele momento de submissão, pesou os pros e os contra, olhando em volta à miséria que se lhe apresentava, viu que a cara da irmã aprovava e muito a atitude do marido da irmã pela forma que viera pedir perdão, mais só se decidiu que ia voltar, quando olhou a cara do cunhado que acabava de entrar no barraco. Estava fechada de um extremo a outro das laterais do rosto, os olhos não piscava em desaprovação a mulher ter aceitado que a irmã viesse ocupar espaço num barraco que não existia, fora o medo desta dá encima de si, depois de escutar, geralmente a noite, o que os dois faziam com entusiasmo por serem casados de novo, que quando a mulher saísse para trabalho de diarista e ele chegasse para almoçar da oficina que todos chamavam de boca de porca que mantinha na entrada da favela, essa podia vir dar encima dele. Se vinha de visita tudo bem, agora pra ficar em definitivo, negativo, lá não era hotel pra hospedar quem anda por aí dando cabeçada. Que parta depressa com o marido arrenegado dos seus limitados domínios, pequeno espaço dividido em dois, onde um serve pra quarto, o outro pra cozinha, estando estabelecidos em desarrumação total no quarto uma cama e um guarda roupa, por onde pequena janela ilumina dando entrada a luz do dia dispensando o bico de luz pendurada abaixo da telhas de amianto. No cômodo da cozinha grande e moderna geladeira desenfeia tábuas rotas, da mesma forma um fogão parecendo comprado a pouco também se agasalha aninhando panelas engelhadas, uma televisão grande também os acompanha, porque sem os sonhos iluminados pelas imagens que a reproduz, não dá pra se viver, pra comer, na certa, usam o sofá por não se ver mesa em algum canto que os faça sociáveis no comer. Ligado por todo a outros barracos de mesma arquitetura e construção, anda adormecido às tábuas rotas, cuja faísca de eletricidade produzida pelos gatos põe a perder tudo e a morrer quem não poder escapar em fuga pelos becos labirínticos. Um córrego que corre a vida toda de água preta, escuta o gemido dos corpos quando estão enroscados uns nos outros a qualquer hora, pela quentura que reproduzem quando se encontram e se tocam pelos reduzidos espaços em que vivem. Os mosquitos e a pobreza e a miséria dão boas vindas a quem não pode de lá se mudar pra lugar melhor, porque a vida de quem nasceu pobre é uma merda. Mosquitos e crianças nascem para ser servidos em iguais condições pelos que detém algum poder. Os mosquitos para transmitir a dengue, as crianças para no futuro sair da toca com as modernas motocas e sair por aí distribuindo droga.
A primeira coisa que fizeram quando os dois chegaram em casa, foram se desnudar das roupas e ele meter sem dó no meio da vagina dela o que a gosta que o faça.Gozaram satisfeitos tendo-a gemendo por baixo do marido um tempo, gemendo-a por cima outros, levando a cama a ranger como se tivesse disposta a se quebrar e acabar com a transa dos dois.
A promessa que fez Erisvaldo, levou a mulher se entregar com mais entusiasmo, ia aprender a dirigir a velha Brasília, qual ganhou pintura nova por esses dias, já providenciando o amassado da lateral com o funileiro dono da boca de porco, prometendo que ela ficaria na garagem pra quando precisasse sair, levá-la dirigindo, dinheiro na carteira, cartão de crédito. Tudo mudaria na sua vida já que antes desse dia não pegava mais que simples merreca pra comprar mistura, não sobrando quase nada pros cosméticos, cuidando do dinheiro o dono da casa.
Armada de novo entusiasmo junto as promessas do marido, andou a esbanjar nas compras de farmácia em pintura de cabelo, nos cremes pra pele, nas camisetas para deixar o busto quase de fora, nas bermudas onde parte superior das nádegas ficavam a mostra, nos corpetes e bijuterias que pseudas amigas a chamam de amiga para lhe vender correntes, pulseiras e anéis, vindo-as deixar de ser quando ela começa uma vez ou outra a atrasar o pagamento, vindo a virar inimizade para sempre quando diz que realmente não sabe quando pode arcar com as despesas feitas a três quatro meses.
Anda por esses dias a rir á toa depois que começou a tirar o carro da garagem, aja visto que havia um tempo, tempo de namoro, providenciado ele que ela tirasse a carta, mas depois do casamento em si, veio se desestimular em fazê-la dirigir por ter batido o carro por duas vezes vindo a causar prejuízos materiais e na relação.
Passado o tempo vendo que a promessa do matador não se cumpria, Judite foi perdendo campo no que havia conseguido e o marido voltado à vida cotidiana de antes, até este bel-prazer acabar e ela agora sem ter pra onde ir por ter deixado claro o cunhado que não seria bem vinda ao espaço onde não existia, e ainda ouvir comentário das vizinhas de que na sua barriga que crescia com pressa, crianças acima de um só par se desenvolvia.
Desse fato em diante mais submissa que mulher de bandido ficou a judiada Judite, por não ter pra onde correr nas crises do marido.
Acontecimento comum à muitas mulheres pobres e sem instrução da periferia a pegou desse caso em diante.


ZéSarmento