sexta-feira, 19 de julho de 2013

MORTE NA CASA DAS ROSAS


O arquiteto Arthur Azevedo Vivia com ódio saltando pelas ventas
Atirando tufo de fogo pra todo lado
Por ver de onde estava - no céu ou no inferno
Que sua mansão tinha se transformado 
Num harém pra prostituir a arte.
Não gostava do que via ser representado sem inibição
Pelos artistas filhos da elite paulistana.
Achava que as obras dum passado que ali frequentavam 
Era arte criada sem conexão com a realidade dos tempos.
Tempo de uma sociedade periférica que grita por mudança social.
Para dar andamento ao que se propôs fazer
Surgiu do jardim em penumbra
Entrando pela porta principal com uma faca em riste
E num ínfimo andamento em que um autor lia seu texto
Gesticulando pra todos os cantos e pra todos os ventos
Babando no papel da sua criação
Levou a lamina para rasgar sua carne de primeira
Indo direto ao coração.
Pulando com pressa para outro autor
Chegou a tempo de encontrá-lo ainda pelo meio do poema
Quando o fez sangra pela altura do abdômen.
Um grito de horror se ouviu pelo casarão
E por toda Avenida Paulista
Vindo se despregar das paredes
Algumas pinturas de grandes artistas do passado.
Medo de serem confundidos com autores contemporâneos.
Arrastando a lâmina... tripas saíram deixando o oca a barriga.
Grande quadro acha que criou fazendo aquele intestino
Se expor como um pintura barroca.
Depressa foi a outra sala com o povo indo atrás
Achando ser uma peça encenada com maestria de veracidade.
Encurralado ficou sem ação outro canastrão da arte contemporânea elitista.
Os presentes davam ao momento, movimento de êxtase.
Outros artista correram em busca de proteção prendendo no peito sua ultima criação.
Na fuga acabaram visitando algumas salas
Destruindo instalações de artistas
Que gritavam com as mãos na cabeça.
Não destrua minha arte!! Não destrua minha arte!!!
Destruída a arte dos que não tem muito a dizer
Foi morto o último perseguido com uma facada nas costas.
A plateia começou a aplaudir a encenação
Mas ao mesmo tempo começaram a fugir quando a ficha caiu
Pelo surgimento de grande aparato policial.
Desse dia em diante
A Casa das Rosas nunca mais foi à mesma.
Teve que abrir as postas para toda sociedade
Que cria sua arte e quer expô-la sem descriminação.
Quem tem muito o que dizer como os autores periféricos
Acabaram se beneficiando com diversos Saraus.
Zé Sarmento