segunda-feira, 27 de setembro de 2010

UMA MINA DE DOENTE


UMA MINA DE DOENTE

O quase morto sobre mesa de operação por ser um acamado a beira da morte, espera atendimento emergencial.
O levaram ao hospital na correia, “pra ontem”. Um ataque do miocárdio o derreou quando assistia disputa por título do time que lhe fazia sofrer a anos. A contenda pôs a perder o controle do corpo, quando de pescoço amolecido a cabeça arriou pra frente, os braços perderam movimentos e deixou o controle remoto cair, bem na hora que o homem gol perdeu pênalti que daria o principal título do clube.
Isso é que dá ser torcedor daqueles onde o órgão que sofre mais é o menos pujante para suportar tão densa carga de emoção.
Na correria do vestir-se dos médicos de plantão do grande hospital, visto que pela aparência custa uma nota salvar a vida de alguém, os responsáveis dão de cara com situação comum a muitos que estão à beira da morte: o seguro de saúde não dando direito a que os opere, mesmo com tanta emergência.
Para o quase morto não viajar em visita ao porteiro mais famoso cultuados nas anedotas dos gozadores de plantão, antes que os médicos dessem um jeito para não morrer sem a ação de boas mãos, preciso fora que a mulher discutisse muito com a atendente que se encontrava na berlinda para dizer, depois dos telefonemas dados ou do programa de computador confirmar, se era paciente escolhido dentre tantos precisando de bom atendimento hospitalar. Porque é fato que, em prédio de tanta grandeza arquitetônica e parafernália de máquinas modernas para salvar vidass, e médicos especialistas em qualquer mal de paciente a beira da morte, quem precisar ser operado às pressas por lá, só morrerá se a dona da foice e da cara mais feia estiver esperando na porta para transportá-lo, ou para São Pedro ou para o feioso.
O homem pela altura do tórax foi aberto. Isto ocorrendo ao cirurgião, por ver que sua profissão estava em risco. Mesmo sem da parte da recepção vir à autorização, uma vez que sabe o doutor que o desfalecido enfartado não era qualquer coisa em relação a dinheiro, por ser branco, ter vindo em ambulância de conhecido e famoso plano de saúde e, bastava ter vindo parar ali, que de algum lugar a equipa ia faturar sobre mais um quase defunto.
Ligando a recepcionista depois de escutar “umas tantas” da responsável pelo operando, ao atendê-la pelo celular o chefe cirurgião, informa que podia abri-lo, pelo cheque caução está preenchido e endossado grampeado na pasta do paciente que mais a frente receberia informação mais detalhada de quanto foi o prejuízo.
Não, não! Resposta dita, do paciente não precisa embolsar mais nada. Fechasse a matraca. Não precisava usar do seguro saúde do homem, não, pela’ mor de Deus, pois da parte que acabou de abrir do corpo dele, saiam pérolas, diamantes, todo tipo de pedra preciosa, se vendidas, enriqueceriam todos da equipe, sobrando valor para ela, onde receberia como pagamento para fechar a matraca, dinheiro que lhe renderia dez anos de salário.
Ufa! Não estou entendendo, fale mais claro, doutor!
Não teve tempo para mais delonga o médico, desligou e voltou a soltar o celular que o mantém pendurado no pescoço para quando estiver com a mão na massa abrindo os pacientes, dá facilidade em atender. O homem anda com umas dívidas atrasadas, deve algumas prestações do carro importado, a mulher e os filhos levam metade dos rendimentos e o valor do suntuoso apartamento comprado as pressas custou uma fortuna, por isso da correria, de ter que atender o celular a qualquer hora, até abrindo as carnes dos que precisam ir deitar-se sobre mesa de operação. Não está disposto a perder tempo de faturar algum para tentar possuir tudo de bom do reino contemporâneo. Tempo algum em sua vida sobra, por também manter um laboratório de experiências com raízes e plantas e sementes para tentar descobrir uma fórmula de remédio fitoterápico para emagrecer. Anda se mordendo por ver ex-colegas contemporâneos de faculdade ficando rico vendendo “a rodo” os remédios anunciados nas tevês. Da mesma maneira agem todos da equipe pela vida tá pela hora da morte e para manter o status de médico bem formado, cada um atende o celular de forma que não interrompa o que está fazendo.
Mostra muita pressa a equipe, não para salvar o paciente, mas para ir ao garimpo pelo corpo retesado na mesa de cirurgia.
Descoberto que o homem era um tesouro nômade, não perdeu tempo em tentar pôr pedaço de mangueira para dá passagem livre ao sangue bombeado pelo coração ao cérebro, irrigar o corpo, isto é, os veios por onde nasciam os tesouros. Deixando o primeiro corte aberto com garras de ferro escangalhando a abertura no tórax, tocaram a abri-lo em outros lugares a fim de encontrar nova mina de preciosas pedras.
Divertiam entre si, achando muita graça pela forma que estavam ficando ricos tendo pouco trabalho. Cada vez que encontrava novo veio pelo corpo do paciente, batiam na mão um do outro para dar prova de que a amizade, a partir de agora, ia ficar mais contundente, aja visto que quem ganha fortuna em equipe, a tendência é tornar sólida a amizade e até gastarem juntos em festas regadas à churrascadas com carnes e bebidas de primeira.
Outro corte feito mais abaixo do anterior, acabou retirando dos rins, preciosa pedra diamante de alguns kilates. Preço bom no mercado de jóias ia pegar. Sussurraram, para não dá margem em serem descobertos, dizendo que o homem era realmente um baú da felicidade.
Soubessem os familiares antes que o homem era uma mina ambulante, ou um cofre encalacrado, será que ainda estava ali servindo para estranhos suas jóias?
Bom achou a equipe médica, porque alguns, aqueles que não têm na profissão prazer pelo que faz, podiam deixar de sê-lo, uma vez que feito dinheiro com as pedras, podiam se mudar para Miami ou viver aqui e lá, ou fazer especialidade em cirurgia plástica.
Quanto mais retiravam pedras preciosas do corpo do paciente, mais o médico anestesista passava doses fortes para que não acordasse ou sentisse dor e gritasse chamando atenção do hospital inteiro e avisar que estava ficando pobre. Não desejavam dividir com ninguém, a não ser com os da sala de cirurgia, isto porque, garantiram, ficariam de boca miúda, na moita a respeito do inusitado caso do:
O homem das jóias por dentro do corpo.
Cortaram o quase morto em muitas partes e cada vez que pelo seu interior entravam, mais pedras de maior valor iam encontrando, por sua vez, mais cortes iam fazendo, mais anestesia ia ganhando para não se mexer. Estavam dispostos a abri-lo muito mais.
Da sola dos pés retiraram algumas chapas em ouro maciço no mesmo formato, das batatas das pernas, centenas de pequenas pepitas de diamantes, colados nas paredes das costelas, muitos colares de pérolas vindos de trabalho de ostras gigantes de mares profundos asiáticos.

Problema quase insolúvel foi quando tentaram virar de costas, uma vez que podiam estourar os pontos que fizeram de qualquer jeito, para retirar outra leva de jóias preciosas pelo espinhaço.
Verdadeira autópsia fora feita sem saberem se o paciente já era defunto ou não, por terem lhe cortado os bíceps dos braços, os tríceps, peitoral, serrátil, reto do abdome, reto da coxa, vasto lateral, fibular curto, o trapézio e terem esquecido as máquinas que o fazia respirar. Descobriram que os músculos que deveriam ser de material humano, era de metais preciosos. Se fosse aqui enumerar dos tendões e músculos que cortaram para ver se saiam mais pepitas, o leitor não ia precisar freqüentar aula de anatomia e estudar amiúdo sobre músculos, nervos, e tendões que ajudam a sustentar o corpo. Nessa aula estaria livre para ir ao barzinho da frente da faculdade encher a cara e fumar uns ou descobrir ao vivo a anatomia de alguma puta escolada e no futuro serem iguais a esses doutores.
Depois de tantos cortes e costuras para suturá-los, viram que a produção fora de monta superior ao que achou que iam encontrar. Bandejas se encontravam cheias de diversas jóias seculares da família.
A dificuldade entre eles em discussão chegando a ser acalorada era com quem ia ficar as pedras, pela desconfiança que um sentia do outro, porque se conheciam e sabiam do trabalho que dava para faturar dinheiro de pessoas que ainda não estão nas últimas, facilitando o ganho dos que estão para ir ao reino do desconhecido, por ser a vida de um ente querido de valor incalculável.
Fácil para o cirurgião chefe foi informar a responsável pelo paciente de que ele não resistiu à cirurgia e acabou escafedendo. Para ganhar tempo e não levar a família a gastar mais dinheiro, disse que a autopsia já estava feita, que morrera realmente de infarto do miocárdio. Mostrando a carteira do CRM, (Conselho Regional de Medicina), mostrou que tem graduação e licença para fazer autopsia, cirurgia plástica, cardíaca, gástrica. É um pesquisador nato da anatomia humana e, busca incansavelmente ficar conhecido pelos meios científicos da medicina e também se tornar popular através da televisão, do radio, de jornal, revista e livros que escreve técnico e até de ficção. O homem é fera!

domingo, 26 de setembro de 2010

MORTE NA CASA DAS ROSAS


MORTE NA CASA DAS ROSAS


Não resistiu a tanta performances mirabolantes em construção que saiu dos traços da sua criação.
Era hora de se revoltar com toda mazela que assistia de onde estava, de partir pra cima com a fúria dos endiabrados e pôr a lâmina para perfurar um a um sem piedade aparente os intrusos da sua residência.
Nunca viram tanto ódio em pessoa de índole tão pacata, que sempre empregou nos gestos, suave tempero de educado senhor vindo da aristocracia paulistana.
Levava a lâmina embainhada de fio amolado e ponta afiada no esmeril da esperança em ver acabado sua vingança sem muito tardar. Enfiada à cintura segura pelo cinto, escondida pelo meio da revolta que via e sentia, levando na cara também uma careta-máscara que exportava pesado terror a quem o divisava
Não ia deixar a casa dos sonhos, construída em grande área arborizada, possuindo trinta espaçosos cômodos em estilo arquitetônico francês, evidenciando fachada de grande vitral colorido decorando hall de entrada. Sabia que sua criação atraia e alegrava todos os visitantes, por se emergir de prazer, não faltando o mesmo sentimento quando se deparavam com o espaçoso jardim inspirado no famoso palácio Versalhes, ganhando as raízes dos roseirais, energia suficiente de terra sempre adubada para encantar os românticos e apaixonados com suas flores viçosas.
Não viu a sua cria robusta e bem acabada recebendo as pilastras e fachadas e escadarias, o estilo clássico de vanguarda, que se encontra fincada em rico solo, receber os amigos dos descendentes em festas regadas ao melhor vinho e champanhe e uísque escocês, claro, sem passar pelas orlas Paraguaias para serem rebatizados.
Estendeu dias na planificação dos desenhos da residência, nas horas em vagar dos projetos arquitetônicos de responsabilidade sua de obras municipais paulistanas, sonhando em dar a filha uma moradia digna de sua casta descendência, riscando e amassando pequenas plantas com traços que ganhava os papeis e que não achava que era o que devia ser os móveis e objetos de decoração, tentando dar forma nos traços criados nas escalas estudados na faculdade de arquitetura.
Não gostava do que via ser apresentado e representado sem inibição pelos poetas que pela casa eram escolhidos para os lançamentos de livros, pelos artistas que faziam suas obras e expunha em instalações de vanguarda.
Achava que as obras que lá freqüentavam eram textos criados sem conexão com a realidade dos tempos atuais e da sociedade.
Para dar andamento ao que se dispôs a fazer, que por muito tempo o fez matutar de como deveria agir, surgiu entrando pela larga porta principal já com a faca empunhada em riste, num ínfimo andamento em que um autor lia um poema de criação própria, gesticulando para todos os cantos e para todo os ventos.
A faca desinibida fora retirada da cintura num só solavanco de endiabradas mãos de homem rude ao pisar no último degrau da subida, e entrou pela parte do corpo que poderia encontrar o melhor órgão que existe para fazer, por ocasião, parar de bater e dar os últimos suspiros os pulmões. Encontrando o coração, foi lá que se alojou a ponta afiada e parte da lâmina vindo a cortar a veia aorta. Puxando-a para si e já de olho em outro autor, deixou-se cair nas escadarias o berrante e delirante homem poeta, vindo a ficar esguichando no piso de mármore o vermelhão de dentro de si.
Já correndo ao outro grande da escrita que fazia sua performance em sala exígua ao grande hall de entrada, chegou a tempo de encontrá-lo ainda pelo meio do poema que achava que era sua obra prima, quando num lance de trepides instantânea, fez o braço com toda força dos tendões, levar a lâmina de encontro ao abdômen.
Um grito estridente se ouviu ecoando por toda área da grande avenida, vindo a se despregar das paredes, algumas pinturas de grandes artistas do passado, pelo medo de serem também confundidos como autores contemporâneos. Arrastando a lâmina, tripas saíram deixando o oco da barriga que guardava os intestinos. Grande obra de arte acha que criou fazendo aquele intestino se expor como obra de arte com cores berrantes.
Depressa chegou a outra sala com o povo indo atrás achando ser parte de uma peça encenada com a maestria da veracidade. Nessa encontrou o autor recitando, isto é, gritando a última estrofe do seu épico poema. Encurralado entre o encontro de duas paredes, ficou sem saída na ampla galeria que se achava sob temperatura do ar condicionada, que expunha algumas obras também contemporâneas, formando um mosaico de muitas cores e estilos.
Pinturas clássicas, neoclássicas, modernas, primitivas, renascentistas, barrocas, rococós, românticas, impressionistas, cubistas, expressionistas, futuristas, surrealistas e pop arte, derramavam lágrimas pelo semblante rosto, por saber que, em outras salas, havia uma exposição e instalação de arte contemporânea de autores que se achavam o máximo.
Os visitantes davam ao momento movimento de êxtase com o que assistiam, e de certo modo, estupefatos uns, outros nem tanto, por ser de sentimentos diversos todas as gentes.
Nos infernos ou no céu, já prestavam juramento sobre as mentiras que empreenderam no decorrer da vida, ou as pendentes verdades que tenham neles existidos, os gênios defuntos já entregues a branquice da cor do corpo de quem perde a vida terrena, tendo-os muito mais dificuldade em explicar do por que se interessar tanto em ser chamado poeta, artista, tanta gente vindos de casta burguesia refinada.
Correu o encurralado poeta que deixou de ser por um instante, por ter dado um drible de corpo no enfezado e agora assassino arquiteto com a faca ensangüentada na mão. Saiu em busca de proteção tentando fugir de mãos ignotas, protegendo no peito o filho da sua criação literária. Na fuga acabaram visitando algumas salas, vindo no decorrer da perseguição de quem queria atacar e de quem queria fugir, a destruir as instalações dos artistas que gritavam com as mãos na cabeça desesperados pedindo que não destruíssem o que criaram com tanto sacrifício tendo-os muito mais sacrifício arranjar lugar para expor.
Destruída a arte contemporânea, morto o último perseguido com uma facada nas costas, a platéia visitante da casa das artes começou a aplaudir a encenação, mas ao mesmo tempo começando a fugir quando caiu a ficha, pelo aparecimento de grande aparato de policiais armados para prender o assassino.