quinta-feira, 2 de março de 2023


 AQUI TEM HISTÓRIA - A CASA EM QUE NASCI

Não romantize quem vive numa casinha como essa no sertão.
São as pessoas mais discriminadas e exploradas da região, sinal de imensa pobreza.

Casa parecida com a que nasci e vivi nela até os 16 anos.
Éramos em 10 pessoas. Desde menino que virou rapaz, a adolescente e criancinha ainda de teta nos peitos muito chupados de Dona Francisca.
8 filhos, mais os genitores. Haja rede pra tanto menino se balançar e se alimentar de vento e sol. A única cama era a do casal com colchão de junco que alimentava os corpos de amor para fazer novos rebentos pra ser criados feito jumentos soltos no pasto.
Essa casa ficava embaixo de um grande pedreira.
Na hora mágica do dia as aves de rapina apareciam com seus voos rasantes para o fim de pernoitar nas locas das pedras e trazer alimento para os filhotes.
Eu menino se assustava com cantos agourentos.
Sinônimo de premonição maldita.
Tanto que não demorava e logo aparecia na minha família, ou em outras da favela ao derredor, muitas brigas com morte a facada, paulada, tiro. Era a favela do velho pé de serra vivendo de muitas encrencas entre os vizinhos, por causa de uma cabra, um jegue, um cavalo, ou a vaquinha leiteira que invadia alguma rocinha.
Tivemos que sair dessa casa pela retomada da construção de loteamentos do Vale, devido uma reforma agraria do governo militar. Nesse tempo d'eu menino me escondia embaixo de uma moita ou lajedo dos aviões caças que passavam deixando rastro de fumaça no céu. Diziam os mais velhos que o Brasil estava em tempo de guerra. Novos canais de irrigação se espichavam adentrando as terras do vale, e eu menino não podia ficar de fora do trampo de boia-fria, servente de pedreiro, cavador com picareta de novos buracos para escoar água. Quando as culturas do vale irrigado começaram a produzir, estava eu lá, adolescente, no meio do arrozal, milharal, bananal, algodoal e tomateiros colhendo de tudo para ser vendido pela cooperativa de colonos que operavam as vendas. Com o mísero dinheirinho de trabalhador rural, frequentava as putarias nas casas da luz vermelha, os forrós pé de serra, e dava um pouco pra minha mãe, ao fim e ao cabo, o saldo dava pra pagar o colégio da quinta a oitava série. Pegar estrada pra Sum Paulo na companhia de um irmão foi a saída logo após a diplomação do fundamental. Saudades da peste. Apesar da vida ser dura no tempo das secas, noutra ser mais branda no tempo dos grandes invernos.
Foto google
Pode ser uma imagem de ao ar livre, árvore e parede de tijolos
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