domingo, 17 de setembro de 2017

UM VELHO SAFADO

                                                       UM VELHO SAFADO

 

Há um tempo onde tudo termina, pois não é? Ah, se não é!

Para animais que leva na parte superior do corpo, órgão que a natureza deu-lhe para pensar o quanto quiser e o que lhe ataviar, não poderia ter nascido para outra função, ser superior aos demais animais da natureza.

Animais racionais como nós, por mais que o corpo perca a condição do que foi feito para fazer e resistir e sentir,  massa craniana é componente sem reposição por parte da medicina, mas pode viver até o apagamento total sem drama ou com, sem amor ou com, se compondo de sabedoria ou ignorância.

Era o que acontecia com o velho Laza, chamado assim pelos mais íntimos nos negócios que empreendia, Lazinho pelas mulheres e, pelos inimigos de concorrência profissional e de vida pessoal, filho da puta de quinta grandeza.

 Coroa muito esperto. Ao longo da vida pôs muita lucidez peculiar para qualquer situação na massa encefálica. Se não fosse pela doença, estaria fazendo e acontecendo.

Mal que o pegou de uma hora para outra o pôs sobre uma cama. Encontrava condição de se  mexer um pouco aqui, um pouco ali, por não ter condição  de se locomover com maior ou menor velocidade. Movimentos bruscos por parte de algum membro exterior eram acontecimentos do passado, perdidos há pouco pelo coração ter dado um basta ao bombear sangue importante para as regiões que precisam ser visitadas de instante a instante.

Viveu muito o coroa Laza, o quase morto já, o que esperava a vela  acessa diante a morte que não tardava levando os últimos suspiros e ser puxado para o andar de cima pela luz encarnada das trevas que ninguém em sã consciência quer, ou azulada em espaço que ninguém veio contar como é, mas que dizem os espiritualistas que existe e que todos desejam estar após a passagem.

De todos os fatos que passaram pela vida agitada que levou o acamado Laza, o que mais  marcou foram àqueles relacionados às mulheres.

“Vixe Maria! Eh mulheres luminosas que me encantou com a formosura, com os declives e aclives do corpo e com as sutilezas dos lábios que ferviam enquanto a quentura do corpo fazia elastecer os dias sem serem por arrasto, esses se descortinavam com prazer, por muitas vezes serem curtos para tantos encontros de negócios e amores”.

Muitas delas passaram pelo seu desempenho de bom amante.

Foi homem fogoso em tempos idos, tempos que só estão guardados na velha lacuna cerebral, escondido por entre encadeamento de tecido que um dia fora regado com mais vivacidade.

Andando pelo glorioso passado de homem de posses, com poder para fazer e desfazer a qualquer hora, era muito visitado por diversas mulheres. Gostava de experimentar todas as raças e teve com isso de conviver com a esposa que nunca deu bola pra verdade ou mentira que circulavam nos encontros granfinos a esse respeito, ou se fazia de desentendida, para não pôr a perder a firma.

 Laza sente que ainda está vivo quando saem dos pensamentos os acontecimentos surreais pelos quais passou em convívio com as mulheres.

Viveu intensamente o coroa, mas por esse tempo de en-treva-mento dos órgãos, ainda encontra na massa encefálica, refúgio para se dizer vivo.

Essas horas quem o cuida divisa com um sorriso tímido  do quase morto. Hora dos sonhos sobre viagens pelo corpo das mulheres que conseguiu amar até onde pode.

Sonhando como sonhava nas horas propícias dos dias viajando ao passado, tinha momentos que verbalizava palavras de entusiasmo para com nomes de  mulheres que se atiraram sobre seu corpo.

Tempos bons que se foram voltava tão somente nas viagens que a cabeça ainda conseguia fazer, não tinha que forçar nada para viajar a esses desempenhos dos pensamentos.

As mulheres sempre exerceram fascínio nas suas atitudes de bom amante, bem dizendo, aquelas mulheres que do corpo, as deusas mitológicas saem perdendo, aquelas que do rosto, Monaliza, de Leonardo da Vince, passa ao largo, aquelas que dos movimentos, nem Sônia Braga ganharia no filme a dama do lotação, nem Vera Ficher nas chanchadas do Walter Hugo Kouri.

Deitado com o costado no colchão, esticado esperando a visita de quem nunca falhou, encontrava lá no fundo d’alma quase morta, o benefício que exerce quem ainda respira ares de sobre vida em possuí-lo. Os pensamentos.

Numa dessas ocasiões, recebendo visita de parentes, foram ater-se com ele e pegar-lhe na mão duas meninas bem jovens, mas que sabiam de tudo sobre os tempos modernos, meninas  que, como as amantes do incapacitado moribundo, conheciam tirar dos rapazes de mesma idade nos banheiros das festas regadas a droga e hock end roll, nas festas raves servidas a comprimidos êxtase, complemento a satisfação de ser alegre e viver de acordo com o bom momento de ser jovem.

Saindo às outras visitas, acharam por bem fazer um estudo mais aprofundado com o quase morto e começaram por alisar-lhe as mãos.

Não satisfeitas em pegar só nas mãos do moribundo, resolveram que era hora de também morder-lhes os pés, as coxas, e lamber o peito que batia descompassado coração.

As duas sabiam fazer crer a quem por elas passavam no serviço da satisfação  ao prazer da carne, que levantavam até defunto.

Há muito, o moribundo sem abrir por completo os olhos, bater as pestanas e movimentar o corpo com maior alusão aos movimentos, nessa hora fez e pode ver as duas. Acendeu muito os olhos vindos às pupilas quase cair fora da caixa. Pelo que mexiam dele e pelo que pode distinguir, descobriu que podia mexer com maior intensidade as pernas, esticar-se, rejuvenescer-se.

Esticou o esqueleto,  retesou até onde pode nessa hora.As juntas estalaram, as duas riram e se divertiram, por achar que estavam recuperando o quase morto.

Continuando buliçosas, descobriram que estavam fazendo um bem dos diabos, mandando embora daquela casa, daquele leito, a dona da foice que corta quem está em pé, deitado ou sentado e manda para debaixo da terra ou para o forno.

Enquanto  as visitas não apareciam no quarto pela fofoca que conversavam na sala, e  em discussão para quem ia o quê depois que o velho juntasse os pés, as duas faziam o doente reviver outrora, dando ao momento, pleno júbilo ao renascimento.

Mordendo joelhos, passando línguas pelos peitos, visitaram quase todo o corpo do velho enfartado, quando uma se interessou em pegar uma das mãos que se sentia revivida e ajudou a ser levada as suas partes  pubianas. A outra com os pés dava a mesma sina, o esfregando nos seios de si.

Meninas danadas. Eram estudantes de medicina, prostitutas ou simplesmente estavam tentando ajudar a quem precisava? Tinham o coração para fazerem parte de alguma entidade assistencialista, ou deveras queriam ver o coroa morrer feliz?

Talvez não fosse nem uma coisa nem outra, talvez fossem simplesmente duas taradas, que não encontrado hoje gente diferente para fazer o que estavam fazendo, foram encontrar no velho doente, amparo para suas taras e novas descobertas, uma vez que só tinham agido dessa forma com rapazes e moças de mesma idade.

Usavam de tudo que podiam pra fazer com o doente aquilo que  deviam ter muita experiência em fazer no banheiro da escola, no carro ou num motel.

Só não acreditaram que o doente fosse se levantar da cama num só salto, agindo assim, caiu às cobertas. Assustaram-se com o membro do doente enrijecido, trazendo o corpo numa tremura de entenderem que estava baixando um santo, dizendo o velho às duas moças que ia morrer satisfeito por elas terem surgido e o levado a perseguir  horizontes de um passado cheio de glória sobre o sexo.

Venham meninas, estou pronto para morrer nos braços de vocês, façam esse favor  a quem desse dia não passa. Dizendo isso com voz trêmula, caiu com parte do corpo na cama, parte no piso, duro como estava, acabou de ficar para sempre.

Correram para sala as duas, onde as visitas se achavam e informaram que o homem tinha se levantado sem nada mais nada menos e caído novamente, dessa vez sem se mexer.

Chegando ao quanto encontraram o doente no chão, com o corpo descoberto e o membro para cima ainda em estado de alerta, tão duro quanto os outros membros.

Nada  como boa química para dar vida a quem está morrendo, quando em excesso retirar de vez.

           


José Sarmento

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