domingo, 10 de janeiro de 2021

AQUI TEM HISTÓRIA - PRIMEIRA VEZ

Fui criado escutando no pé do ouvido por demais a palavra rapariga. Os homens sertanejos enchiam a boca pra dizer. RA-PA-RI-GA!!! Escutava o esculacho a moça que se deitava com algum homem, e quando este não aceitava casar de modo voluntário ou no delegado, (geralmente por ser o moço de família mais respeitada, com um gadinho no cercado, porcos no chiqueiro, galinhas no poleiro, a moça, ao contrário, muito humilde e faminta por um bom casamento), logo recebia a pecha de mulher mundana, da vida, rapariga. Vou te levar pro mato, já! Vamo! Não! Vamo!!

Outros rapazes depressa começavam dá em cima dela. Na casa de algumas dessas famílias de moças pobre mexidas, era isso mesmo, ME-XI-DAS, sobrava para ela ser escorraçada de casa pelo pai austero e muito macho, apegado a moral e bons costumes da época, noutras famílias, a casa caia para o rapaz deflorador de moça donzela, por alguns membros acharem que a moça precisava ser vingada, oh! era uma desgraceira da muléstia, quando forças parentais se juntavam pra fazer justiça com as próprias mãos enfiadas nos alforjes puxando armas municiadas. Muitas mortes dos dois lados. Quando completei 16/17 anos, meus colegas de minha geração de farra, de futebol, de escola, de cachaçada, cobravam muito desse cabra, frequantar pela primeira vez o puteiro da cidade de Sousa.  Era o cabaré pra onde ia a maioria das moças que perdiam a virgindade (defloradas, era a palavra, como diziam os mais velhos). 

Zona frequentada por rapazes e homens de meia idade, fogosos em levar pra cama, o máximo de mulher que conseguisse pra trocar o óleo. Todos gabolas contando pros mais jovens como aconteciam os encontros regados a  cachaça e música brega. Aos 18 anos fui encarar a mulher da vida fácil difícil pela primeira vez numa cama fétida num quartinho infestado de sujeira e barata e rato. Tinha experiência pra não mexer com moça da vila com quem trocava beijos e amassos, dois dos meus irmãos mais velhos se foderam depois de foder suas namoradas e tiveram que pagar por isso no delegado. Um puxou cadeia por um tempo, o outro se casou na marra. No delegado. Pra mim a foda no puteiro foi cara, não um barato, paguei com um dia de salario de boia-fria, graninha ganhada com sacrifício, por trabalhar nos campos colhendo e limpando mato, e uma gonorréia curada com injeção de penicilina. Depois logo migrei pra Sum Paulo e do mesmo modo que fui cobrado pra ir pela primeira vez transar com uma mulher no cabaré da cidade de Sousa, aqui também aconteceu de colegas de firma sertanejos cobrarem pra eu ir no 69, nos treme-treme das ruas Aurora, Vitória, boca do lixo. Um lixo? Fui e foi uma merda! Hoje em dia tanto no sertão quanto nas pequenas e grandes cidades não tem mais esse dispositivo de a família ficar indignada pelas moças irem de encontro ao amor. Tá tudo liberado, e viva a felicidade sem os recalques do passado. Se o amor é lindo, as paixões são avassaladoras. Portanto, pra esse cabra, para o sexo, é melhor está apaixonado do que amando.

 

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