sábado, 25 de junho de 2016

APERTO NO BUZÃO




Para o centro da cidade gosto de ir de buzão, lá fora vejo um filme em que a realidade, ora me assusta, ora me diverte. Fora de horário de pico eles vão mais vazios e chegam mais depressa, os corredores os fazem se deslocar deixando os carros  com uma puta inveja. 90% dos carros andam com uma pessoa, o motorista, horário de trabalho, dia útil, quase inútil parece ser o automóvel vendo os ônibus com tanta utilidade. Dentro do ônibus me senti muito constrangido outro dia. Estava sentado por tê-lo pego no ponto inicial. No horário  das 11h foi mais tranquilo, indo pro centro, mas na volta, às ,4, 5 horas da tarde, no pico, tudo muda, muito para pior no interior da condução. Observando do meu canto, vi como as pessoas sofrem muito mais por terem que enfrentar essa condição todo dia na luta profissional. Percebi que a maioria dos passageiros desse horário é mulher com ar de muito cansaço, carregando sacolas e suas bolsas, enfrentam dificuldades pra andar no corredor e passar pela catraca, bem mais sufoco quando entram falando ao celular. Bolsa, sacola e a mão ocupada com o celular no ouvido, a dificuldade aumenta. Estava entusiasmado dar meu lugar a alguém, pelas minhas pernas estarem doendo, e pelo constrangimento de ir sentado, homem, e tanta mulher em pé. O assento era muito colado um no outro, alguém alemaozão iria sofrer bem mais que eu que sou quase um tamborete de forró. No meu banco sentou uma mulher, que pela maneira de ser e o cansaço que deflagrava no rosto, devia ter acordado, no  mínimo, às cinco da manhã. A maioria era de mulher levando no espinhaço, olhar e mente os mesmos cansaços, vendendo essa fisionomia na forma de estar, olhando o tempo ao derredor, sentindo por dentro, certa angústia pelo ônibus nunca chegar ao seu destino e não ter assento pra todos passageiros, são fabricados pra levar pessoas quinem gado e não como ser humano. Cada parada num ponto, pelo menos pra mim, era uma eternidade, dali a pouco tinha que parar outra vez, pelos semáforos que fechavam. A mulher sentada ao meu lado puxou uma arma da bolsa, mas pra atirar, puxou outra, os óculos, de modo que abriu o tambor e colocou a munição a certa distância das vistas pra poder enxergar melhor onde ia disparar seu pensamento. Abriu um livro que, de soslaio, li o nome do autor, Trish Willy, “sopro de esperança” era o título. Espero que esse livro tenha conseguido dar-lhe uma luz pra resolver seus problemas, era auto-ajuda. De todo modo, com a leitura ela irá se dá melhor que as demais que estavam ali apenas olhando pra fora vendo o tempo se estender sem ocupar a mente para fazê-lo passar mais depressa. Foi à única que vi assaltar da própria bolsa, um livro. Tava procurando alguém pra dar o lugar,mas olhando em volta, pensei, como ia ser correto se eram tantas mulheres cansadas, desgastadas de seus dias corridos no afazeres nas casas dos bacanas, escritórios, shoppings? Estaria sendo injusto com as outras, e talvez passasse desconfiança de que estivesse tentando paquerar agradando a escolhida, pra não ficar sem serventia, peguei a sacola de uma delas e a coloquei no colo. Na minha timidez, nessas situações, por dentro disse-me que quando chegasse ao terminal, ia abordar a mulher da leitura e presenteá-la um livro meu, talvez ela não conseguisse ler até o fim, por ser outro tipo de literatura, marginal periférica, mas enfim, faria boa ação e minha parte pra melhorar a auto-estima da sociedade através da leitura. Não o fiz, ela desceu antes, como sou muito fechado nessas situações, não a abordei ao momento de estarmos de corpos quase colados, cada um em sua luminescência imaginativa. O aperto entre duas pessoas como eu e ela é tão estranho para mim, que às vezes, tinha vontade de me coçar em alguma parte porém, segurava, pra não me mexer tanto e tocá-la. Segurava-me pensando noutras coisas, pensamento voando olhando as ruas e seu movimento conseguia enganar o cérebro. Mulheres guerreiras essas da nossa pulação, que depois de certa idade ainda têm que trabalhar fora pra tentar se firmar levando parte do sustento pra casa, e muitas delas são provedoras do lar, cuja renda é pra alimentar sobrinhos, netos e até filhos marmanjos. Acordam cedo, trabalham por aí usando o corpo e mente, ou só um, ou só outro, e ainda têm que enfrentar condução  tão ruim numa maratona de dupla jornada. Que pena que os nossos políticos não precisem de condução pública pra ir trabalhar, pra sentir na pele o que é o transporte que eles oferecem a população. Sentir na própria carne nada mais é que sentir o que os outros sentem, e entendê-los. Acho que todo cidadão tinha que passar um dia por alguma dificuldade, mais os políticos, e uma elite arrogante acostumada com as benesses oferecidas pelas fortunas que acumularam angariadas de alguns desmandos públicos e exploração dos trabalhadores. Passando por perrengues, talvez aprendessem na pele ter o discernimento de saberem entender o outro com mais finura e humanidade.

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