sexta-feira, 11 de março de 2016

UM DIA AINDA VOU VIRAR O BICHO





UM DIA VOU VIRAR O BICHO!
Ando acuado, retraído, por ser picotado sempre em diversas partes, depois me remendam como se fosse pano velho, traste esquecido nos fiapos sobrados, usam de me remendar quando querem, com agulha de aço sem anestesia, enferrujada.
Vem uns salafrários e cortam meus braços, cujos movimentos me fazem cair do voo que acabo de tentar, pulando de uma pirambeira para planar.
Outros dos infernos aparecem, como um deserto, sem um pingo de doce água pura pra banhar a minha sede, e ainda me aplicam uma rasteira, levando pra mais perto da beira do sacrifício, com um tombo mortal, caio outra vez, não faz mal, digo com humildade, sou igual Prometeu, me comem os órgão os corvos, renascem mais tarde com mais força, senão com diálogo, na força bruta.
O pior e mais dramático é quando atravessam meu peito com uma espada do melhor aço manuseada pelo sábio samurai chinês, que protegiam os senhores da guerra, e hoje protegem os senhores fascistas revestidos de radicalismos com idade mental conturbada, esvaziam meu sangue do corpo, fico branco como uma nuvem sem poder de precipitação, mas logo me carrego de nova fúria, meto os pés pelas mãos, dou rasteira em quem me quer ver pelas margens, e saio de pinote, aprendi como o filho de Mario de Andrade, Macunaíma, ser dependente pra sobreviver, em fazer muitas marmotas com caras tristes e alegres, angustiadas ou fadadas pela dor latente do desrespeito.
O difícil e pior é suportar as dores da humilhação psicológica, quando querem empurrar pra dentro do meu cérebro, um monte de merda.
Enlouqueço, quero partir pra cima, dá o troco com os trocados que não tenho, por não ser filho de além mar, e ter chegado aqui com uma mala de dinheiro para comprar tudo bem barato, começar a vida explorando os miseráveis.
Paro, reflito, é quando vem alguém sem desdém, com respeito e diz: deixa pra lá, essa gente não sabe o que são, tem QI de ameba, não costumam parar pra refletir sobre tudo, a única coisa que sabem, é correr atrás de uns trocados da nossa moeda corrente, pra mais tarde gastar com hospitais e medicamentos, esquece!
Zé Sarmento

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